Outros dez filmes que contam sobre a vida de escritores

Em dezembro de 2009 (ver o final da post) copiamos uma lista com onze filmes sobre a vida, ou algum aspecto da vida, de escritores; no ano seguinte, refizemos este trajeto com a indicação de mais dez títulos. E, longe de esgotar esse itinerário – porque há sempre produções do gênero a caminho e outras sobre as quais não temos acesso – resolvemos ampliar essas indicações, agora, com mais outros dez títulos:



Flores raras, 2013. O filme Bruno Barreto esteve em cartaz em muitas salas brasileiras com uma receptividade da crítica e dos espectadores muito positiva. Também pudera! O cineasta produziu uma peça de rara beleza da nossa cinematografia. Baseado no livro Flores raras e banalíssimas, de Carmen L. Oliveira, sua narrativa remonta a temporada de quando a poeta estadunidense Elizabeth Bishop viveu no Brasil – talvez uma das fases mais intensas de sua vida se repararmos na sua obra – e o seu intenso romance com a arquiteta Lota de Macedo Soares. Era esse também um dos períodos mais conturbados e criativos da nossa infante história: os anos de 1950 e 1960, marcados pelo levante da ditadura, pela construção da Brasília e o nascimento da Bossa Nova, referências que são apontadas no desenvolvimento da trama. Publicamos notas sobre o filme aqui.

Capote, 2005. É só mais um título sobre a vida do jornalista e escritor estadunidense Truman Capote, autor do reconhecido A sangue frio, romance que conta sobre o assassinato de uma família de camponeses no interior dos Estados Unidos. No mesmo ano de aparição desta peça de Bennett Miller apareceu Confidencial, título também recomendável, principalmente se o espectador gostar de comparações envolvendo produção, versão e interpretação dos atores para um mesmo enredo ou figura. O filme de Miller aposta num enredo mais sóbrio e acompanha desde o momento em que o Capote sabe da notícia que reverberou pelos jornais estadunidenses, ao encontro com Harper Lee, figura fundamental na sua vida e no desenvolvimento da produção de A sangue frio, e ao convívio com os criminosos de Holcomb, Perry Simith e Dick Hickock.



Versos de um crime, 2013. E por falar em crime, John Krokidas volta ao nascimento da chamada Geração Beat – quando Allen Ginsberg vai para a Universidade de Columbia e lá conhece o ícone Lucien Carr e nomes com Jack Kerouac e William Burroughs – para contar do assassinato do amante de Carr com participação indireta de todo o grupo. A obra, portanto, não é apenas sobre um nome em específico, mas sobre vários, se lembrarmos que daí Ginsberg, Kerouac e Burroughs iriam se tornar figuras principais na renovação da literatura estadunidense. A peça de Krokidas apresenta ainda uma versão sobre a importância e a influência de Lucien Carra na vida de cada um dos membros da Geração Beat.

O nosso segredo, 2013. Esta é uma produção britânica. O diretor Ralph Fiennes toca na biografia de uma das figuras mais sagradas da literatura de língua inglesa, Charles Dickens. Mas, não faz com o intuito de borrar a imagem do escritor, quando muito resgatá-lo do pedestal para o qual foi elevado e reapresentá-lo como criatura comum. Concentra-se, no momento áureo da carreira do autor de David Copperfield, e encontra-o entregue ao envolvimento amoroso que levará por todo o resto da sua vida: com a jovem Nelly Ternan.

O final da turnê, 2015. Faltava fazer um filme sobre David Forster Wallace. Não só porque ele escreveu um catatau rançoso e – por isso mesmo já-clássico na literatura de língua inglesa, mas pelo fato de, como os nomes que prevalecem nas listas de biografias interessantes (e, logo de adaptações interessantes) ter uma vida marcada por uma série de eventos que a torna singular entre as vidas comuns. James Ponsoldt viu isso e decidiu investir na experiência de reavivar a imagem de Wallace nas telas; entre idas e vindas e mal-entendidos escapou um filme cuja trama se concentra na longa entrevista do escritor ao jornalista David Lipsky durante a turnê de cinco dias para a apresentação de Graça infinita (o catatau em questão), em 1966.


Amor e inocência, 2008. Jullian Jarrold volta ao ano de 1795, para mostrar Jane Austen aos vinte anos, quando começa a se destacar como escritora. Interessada em compreender o mundo, além da vidinha burguesa que leva, os pais querem-na casada a fim de assegurar seu lugar social – tema, aliás, muito recorrente em sua obra. Entre os pretendentes, está o neto da aristocrata Lady Gresham, Mr. Wisley, enquanto Jane, sonhadora qual suas personagens, tem interesse vivaz por Tom Lefroy, sujeito cuja força além da condição mimada dos homens de posse, mais a provoca.

Juventudes roubadas, 2015. Poucos sabem da vida e menos ainda da obra de Vera Brittain. A escritora, nascida em 1893, abdicou da vida mansa e dos estudos para trabalhar como enfermeira durante a Primeira Guerra Mundial. Alguém interessada em aventuras radicais? Não. Vera foi como muitos: alguém incapaz de assistir ao triste espetáculo da existência sem provar diretamente dele ou contribuir para, ainda que em pequenas proporções, reinventá-lo. A vivência na guerra foi relatada em Testament of youth, livro publicado em 1933 e inspiração para esse filme de James Kent, apresentado durante a abertura do Festival de Cinema de Londres. A produção nasceu de um seriado para a BBC de mesmo título.



Goethe!, 2010. O filme de Philipp Stölzl é um retorno à Alemanha de 1772; a Alemanha do jovem Goethe animado com o interesse de ser um poeta. A reprovação no curso de Direito levará ser enviado pelo pai para o interior do país, onde constrói amizade com Kestner, um seu responsável por abrir os caminhos ou mostrar os passos possíveis ao aspirante poeta. O filme, além de encontrar com esse momento importante – o de constituição de um gênio – aproxima-se ainda das questões mais pessoais, como o envolvimento com Lotte Miriam, a jovem já comprometida com outro homem. Para a crítica, este é um filme de época bem recriado, com atuações riquíssimas e o retrato da luta entre a paixão e a razão, isto é, símbolo também de um solo muito fértil ao nascente gênio.   

Neruda: fugitivo, 2015. Em 1948, Pablo Neruda abdica ao mandato de senador em favor de Videla; no poder, o político coloca-se, aos olhos do poeta na direção contrária dos projetos da esquerda para o país. Depois de duras críticas ao governo, Neruda é perseguido e obrigado a deixar o Chile. A trajetória como refugiado de nome falso no sul do país, lugar que é também o de reencontro com sua infância e adolescência, depois a saída para Argentina através da Cordilheira dos Antes está retratada no filme de Manoel Basoalto.  

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