Óxido, de Gastão Cruz (Parte I)
Por Pedro Belo Clara O último livro publicado pelo poeta, crítico e encenador algarvio, só pelo nome que ostenta, remeterá o seu leitor para o imaginário das coisas que se permitem degradar pela acção do tempo. E não parecerá falsa a impressão que deixa como sobejo da prova. O metal que oxida é um metal antigo, desgastado, corroído, quiçá abandonado sem que para ele um uso surja. Não se estranha, portanto, que aos lábios essa substância traga um travo de acre teor, natural numa maturação de avesso, isto é, num processo onde não são os açúcares a atingirem a sua plenitude, antes um esvaziar desses elementos da equação pensada. Esse metal surge como metáfora habilmente colocada entre poemas de modo nem sempre visível, mas indubitavelmente presente. Quererá isto dizer que Óxido é um livro de poemas amargurados? Bom, cada leitor formulará o seu parecer se a isso se propuser, mas, salvaguardando o bom senso e uma via de apreciação isenta de meras especulações, há que dize