Notas sobre o filme Que horas ela volta? de Anna Muylaert
Por Rafael Kafka Nas obras de Clarice Lispector, a criança assume um papel muitas vezes demoníaco. Ofélia de A legião estrangeira e Sofia de Desastres de Sofia são os exemplos mais claros que me veem à mente agora: elas surgem como elementos perturbadores, como seres que veem além das aparências, do tacitamente aceito como absoluto. As crianças com seu olhar ingênuo, não preso ao convencional, acabam tendo consciência de frinchas, de brechas na existência cotidiana dos adultos, os quais desarmados diante dessa invasão se sentem nus, envergonhados. É um olhar desse tipo que iremos acompanhar em Que horas ela volta? de Anna Muylaert. Deparamo-nos aqui com uma tradicional família de classe média, a qual é vista por muitos como o ideal para manter a sociedade brasileira e mundial andando nos trilhos. Não importa se essa família é composta por um senhor mais velho que é um artista frustrado que mantém uma espécie de socialite com ar arrogante e preocupada demais com as apar