Um beijo de colombina, de Adriana Lisboa
Por Pedro Fernandes Adriana Lisboa. Foto: Julie Harris Não faz muito tempo que, diante de algumas obras, sempre me pergunto o que faz escritor para agir como se pegasse o leitor pelo braço e o mergulhasse numa correnteza de sentidos para só devolvê-lo a superfície de vez em quando como se só quisesse permiti-lo respirar por um instante os ares que ainda correm ao seu redor e logo voltar a levá-lo ao mesmo ponto de imersão inicial. No princípio de tudo a resposta para isso vinha com um medo de, se deixar o texto ali em repouso era uma maneira de favorecê-lo a fugir dessa correnteza de sentidos; por isso, quase caí de fome quando li pela primeira vez, de uma sentada, como se diz, Filomena Borges , de Aluísio Azevedo. Temia não chorar tudo o que tinha para chorar enquanto sucumbia à forma de tratamento (a falta dele) de Filomena para com Borges. Nesse romance, o leitor encontra a desconstrução da legítima metáfora de que os opostos se atraem, afinal, Filomena é ambiciosa