O cobrador
Por Rafael Kafka Ali estava ele, em um clima úmido típico de Belém, infernal, sentado em seu local de trabalho, com um livro de biologia nas mãos, mal dando atenção a mim quando dei-lhe o dinheiro de minha passagem de ônibus. Deu-me uma atenção oblíqua, quase nula, pois estava focado no que estava a fazer: responder algumas questões de algum assunto que não consegui identificar, mas tudo bem: biologia é a mesma complexidade para mim sempre, não importando se o assunto em questão é genética ou qualquer outra coisa. Nada entendo dessa disciplina, mesmo achando-o seu tema algo muito interessante. O que me impressionava ali naquele momento era a determinação do rapaz que me atendeu de forma tão pouco atenciosa em um livro didático, com a postura de quem se prepara ardentemente para a prova do ENEM que é em algumas semanas. Sentei-me e tirei de dentro de minha mochila o livro O ventre de Carlos Heitor Cony. Tal livro, confesso, é o que menos gostei desse bom autor até agora.