Uma literatura a salvo de modismos: Edson Amâncio e seu “Diário de um médico louco”
Por Alfredo Monte «… já na minha infância fui tomado por estranhos pressentimentos e muitas vezes chamado de habitante “do mundo da lua”. De tal forma era envolvido por êxtases e arrebatamento da alma que me perguntava se não estaria vivendo um sonho. Que tipo de sortilégio me dominava o espírito ainda na minha mais tenra infância! Meus pais, cujo equilíbrio mental está exageradamente distante de exemplar, levaram-me aos curandeiros da vizinhança e um deles me faz passar a mais terrível experiência que uma criança é capaz de suportar. Colocaram-me nu, sentado no chão, coberto de folhas de bananeira de uma cabana e despejaram sobre a minha cabeça o sangue ainda quente de uma galinha esgorjada…» 1 Há uma vinculação óbvia que podemos fazer de Diário de um médico louco (editora Letra Selvagem) com certa linhagem na ficção cujo protótipo encontramos em Diário de um louco (1835), de Gógol: trata-se do discurso de alguém que já não distingue o que é realidade ou delír