Como era cinza o meu vale. “A estrada”, de Cormac McCarthy
Por Alfredo Monte A obra de Cormac McCarthy, se é que se pode julgá-la por apenas três títulos lidos ( Meridiano de sangue , Todos os belos cavalos , Onde os velhos não têm vez ), demonstra nítida tendência ao apocalíptico, com suas histórias ambientadas numa espécie de limiar do universo, mais próximas do caos e da barbárie primordial do que de pálidos esforços civilizatórios. Como bom descendente de William Faulkner, porém, ainda assim nos deparamos com toda uma escala de valores morais permeando esse território de desolação. A estrada (tradução de Adriana Lisboa para The Road ), que ganhou o Pulitzer como a melhor ficção de 2006 nos Estados Unidos, se passa num futuro em que a civilização como a conhecemos acabou: um homem e seu filho vagam em direção a um incerto Sul, mais quente, numa waste land invernal em que tudo virou ruínas, os sobreviventes que se encontra são perigosos, até canibais (uma mulher dá à luz e o cadáver do seu bebê é encontrado pela dupla de viajantes ass