Os trabalhos e os dias na poesia de Donizete Galvão
Por Alfredo Monte “De fato a linhagem agora é de ferro: nunca, de dia, se livrarão da fadiga e da agonia, nem à noite, extenuando-se: os deuses darão duros tormentos. Todavia, para eles aos males juntar-se-ão benesses...” (Hesíodo, Trabalhos e Dias, versos 176-9, trad. Christian Werner) “Poderia ser este o lugar. Este o tempo de repouso. Mas a roda dentada nunca para...” (Donizete Galvão) Entre os trinta e seis poemas reunidos em Ofícios do tempo (ed. Positivo), dois podem ser considerados nucleares, inclusive por sua concisão e perfeição: “Memória do paraíso / não tenho não. / Lembro-me da dor. / Da vergonha. / Do desgosto. / Da gota de suor/ pingando do rosto.” (“depois da queda”); “Nu / bailo / numa / navalha // Sem / nada / que me valha / só / me prende / um fio / de esperança” (“equilíbrio”). Ao destacá-los, corre-se o risco de sublinhar o lado mais abstrato, mais “condição humana”, relegando a segundo plano uma das linhas de força da poesi