Boletim Letras 360º #141
Pesquisadores encontram três poemas inéditos de Carlos Drummond de Andrade. Mais detalhes ao longo deste boletim. |
Todo sábado,
o leitor do Letras
in.verso e re.verso tem a oportunidade de re/ver o que noticiamos ao
longo da semana em nossa página no Facebook. E o que noticiamos? Sempre
assuntos ligados a escritores, obras e temas comuns ao universo do blog. Esta é
uma maneira não apenas de organizar o conteúdo disperso na rede social e muitas vezes não
alcançado pelo público; é também uma resposta à política de comercialização
do publicado no FB. Chamamos essa publicação dos sábados de Boletim
Letras 360º; e esta é a edição desta semana.
Segunda-feira,
16/11
>>> Estados Unidos: De Gabriel
García Márquez para José Saramago
"José
Saramago é um dos escritores grandes deste século e seu Prêmio Nobel é um dos
mais justos. A alegria que isto casou nos países de língua espanhola, como se
fosse uma vitória nossa, confirma o que alguns escritores vinham dizendo desde
há algum tempo: a literatura iberoamericana é uma só. Por isso propusemos
tantas vezes que se leve em conta a portugueses e brasileiros para o Prêmio
Cervantes", assim, inicia Gabriel García Márquez num breve documento
sobre o Nobel de 1998. O datiloscrito pertence aos arquivos do escritor colombiano
entregues a Universidade do Texas.
>>> Brasil: A Revista de
Estudos Saramaguianos celebra seu primeiro aniversário lembrando aos leitores o
conteúdo das duas edições já publicadas
No dia 16 de
novembro de 2014, na sede da Fundação
José Saramago, foi realizada a apresentação mundial de um periódico cujo
interesse é obra do escritor até então o único Prêmio Nobel de língua
portuguesa. Era o Dia do Desassossego, data
criada pela FJS que assinala o nascimento de José Saramago (16 de
novembro de 1922). Durante o mês, e diariamente, a RES lembra texto a
texto já apresentado, os dois números publicados do periódico; são textos de
leitores como Carlos Reis, Eula Carvalho Pinheiro, Teresa Cristina Cerdeira,
Ana Paula Arnaut, Maria Alzira Seixo, Pedro Fernandes e Miguel Koleff, esses
dois últimos os editores responsáveis pela ideia. O primeiro número foi
publicado impresso pela Editora
Patuá e FJS e parte dessa edição está online mais a segunda, esta
integralmente digital. A retrospectiva é realizada na página da revista no
Facebook.
Terça-feira,
17/11
>>> Inglaterra: Foram
encontrados dois manuscritos inéditos de Charlotte Brontë
Os arquivos
estavam dentro de um livro que pertencia à sua mãe. Trata-se um conto breve e
um poema que a autora de Jane Eyre escreveu quando era adolescente
e ficaram guardados todo esse tempo entre as páginas da biografia do poeta
Henry Kirke White. O livro guardado com todo zelo por ser uma das poucas
relíquias que pertenceu à mãe de Brontë está repleto de notas e rascunhos de
gente diversa da casa e agora fará parte do arquivo da Brontë Society. Juliet
Barke, grande especialista na obra das Brontë, qualificou a descoberta como
extraordinária e que a autoria de Charlotte é inquestionável, dada sua
particular caligrafia e o uso de seu pseudônimo masculino favorito Lord Charles
Wellesley. Datado de 1833, o fragmento pertencente ao conto foi descrito como uma
história satírica da vida em Haworth - são 74 linhas escritas pelo olhar de
Lord Charles. Já o poema está incompleto, conta com 77 linhas e se move dentro
do mundo de fantasia de Angria, que Charlotte criou junto com seu irmão
Branwell durante sua infância.
>>> China: A exposição
"Não siga o vento" pode ser a mais inacessível do mundo
No acidente
de Fukushima em março de 2011, muita gente pegou os seus carros e fugiram para
o norte. Algumas pensaram, pararam seu carro e comprovaram a direção do vento
para dirigir na direção oposta a fim de não serem tocados pela nuvem
radioativa. Eis a base para o tema de uma exposição única: está na zona de
radiação. E colaboraram um total de doze artistas: Ai Weiwei, Taryn Simon,
Ahmet Öğüt y Trevor Paglen, entre eles os japoneses Aiko Miyanaga, Nobuaki
Takekawa e o grupo Chim-Pom. Nem inauguração, nem críticas na imprensa, nem
imagens ou descrição textual alguma; em sua página na web, apenas uma página em
branco em que um breve áudio explica o objetivo de que a exibição seja tão
invisível quanto a radiação. Só poderá, assim, ser vista num futuro quando os
habitantes da região puderem retornar em segurança; o único acesso à mostra é feita
pelo Museu Watari de Arte Contemporânea de Tóquio.
Quarta-feira,
18/11
>>> Brasil: O ano de
Gonçalo M. Tavares em terras tupiniquim
Dois títulos
já estão há muito nas livrarias em momentos diversos de 2015: Os velhos
também querem viver, saiu pela Editora
Foz (Alfredo Monte comentou aqui); depois, Short Movies,
pela Editora Dublinense (comentado pelo Pedro Fernandes aqui). Agora, a Companhia das Letras apresenta
Uma menina está perdida no seu século à procura do pai. O romance
foi publicado em Portugal em novembro de 2014. Na fragilizada Europa do
pós-guerra, Marius encontra Hanna, adolescente de cabelos castanhos e olhos
pretos. A menina fala com dificuldades e entende precariamente o que acontece
em seu entorno. Tem síndrome de Down e está à procura de seu pai. Marius tem
pressa, mas muda o seu percurso para acompanhá-la em sua jornada. A busca
leva-os até Berlim, onde os dois circulam entre as obsessões mais sombrias e os
escombros do século XX. Com um texto inventivo e emocionante, Gonçalo M.
Tavares consegue algo raro na literatura contemporânea: alia uma história forte
e com conteúdo humano a uma intensa — mas sempre acessível — busca por novos
caminhos na escrita do romance.
>>> Brasil: Três poemas
desconhecidos de Carlos Drummond de Andrade foram encontrados por uma aluna do
curso de Letras da Universidade Federal de São Carlos
Mayra
Fontebasso encontrou os trabalhos quando fazia sua pesquisa de iniciação
científica sobre textos literários publicados na revista Raça, editada em São
Carlos entre 1927 e 1934, sob orientação do professor Wilton José Marques. Os
três poemas foram publicados em junho de 1929. Segundo Mayra, o que chamou sua
atenção ao ler os textos pela primeira vez, foi o estilo: escritos em prosa
poética, com traços simbolistas e penumbristas e marcados por um tom
melancólico, que caracterizam a produção de Drummond na juventude. Após a
surpresa inicial, a estudante e Marques consultaram a Bibliografia comentada
de Carlos Drummond de Andrade (1918-1934), de Fernando Py e Inventário drummondiano, da Fundação Casa de Rui Barbosa, mas os poemas não constavam em
nenhuma das duas publicações. Depois, consultaram Antônio Carlos Secchin,
especialista na obra do poeta mineiro. Secchin examinou o material e confirmou
que se tratavam de textos inéditos. Apesar de terem saído em 1929, o mais
provável é que os poemas tenham sido escritos no início da década de 1920. A
revista “Raça” era dirigida pelo jornalista Orlando Damiano (1903-1933) e teve,
entre seus colaboradores, nomes como o próprio Mário de Andrade, Cassiano
Ricardo e Menotti Del Picchia. Leia um deles aqui.
Quinta-feira,
19/11
>>> Brasil: O Rio de
Janeiro de Clarice Lispector
No ano em
que ficamos sabendo que a cidade maravilhosa ganhará mais uma estátua da autor
de A hora da estrela, chega-nos mais uma notícia que liga o seu
nome ao lugar onde viveu grande parte da vida. Teresa Montero prepara para
2016, O Rio de Clarice Lispector, que sairá pela Autêntica Editora. Será
um guia para passeios a pé por sete bairros da capital carioca ligados à
literatura e à biografia da CL. Com fotos da época e trechos da obra de
Clarice, o livro trará curiosidades sobre a cidade.
>>> Estados Unidos: Um bunker
para proteger arquivos da vida intelectual estadunidense da segunda metade do
século XX
Esse é o
interesse da Biblioteca Pública de Nova York que prepara um extenso subterrâneo
dotado de alta tecnologia no edifício do Bryant Park, em Manhattan. A princípio
a proposta era levar todo o arquivo para Nova Jersey, mas mudaram de ideia. E,
essa segurança toda preservará o quê? Basicamente o arquivo recém-comprado da New York Review of Books: um quilômetro de prateleiras que inclui
correspondência entre os editores e fundadores da revista, Robert Silvers e
Barbara Epstein, bem como colaboradores regulares como Susan Sontag, Oliver
Sacks, Noam Chomsky ou Robert Lowell. Trata-se de um arquivo que permite
entender melhor, por exemplo, um dos períodos de ouro da revista fundada na
década de 1960 quando fez da cobertura da Guerra do Vietnã, um das suas grandes
apostas editoriais. Muita da correspondência que então se trocou entre
editores, correspondentes, analistas e políticos será pela primeira vez
revelada além de muito material nunca publicado. Ainda não há uma data prevista
para poder consultar estes documentos, mas sabe-se que subterrâneo situado a
quase seis metros abaixo do Bryant Park começará a ser organizado no mês de
abril.
>>> Brasil: Prêmio Jabuti 2015
A Câmara
Brasileira do Livro (CBL) divulgou os vencedores das 27 categorias
do Jabuti, o mais tradicional prêmio literário do Brasil. Entre
os nomes estão Maria Valéria Rezende vencedora com o romance Quarenta dias (leia comentário de Alfredo Monte sobre a obra aqui); e Alexandre Guarnieri com Corpo de festim (lido por Pedro Fernandes aqui). Todas as
informações no site do prêmio.
>>> Espanha: Por causa de
Scorsese, Pedro Almodóvar muda título do filme que produz a partir da obra de
Alice Munro
"Decidimos
mudar o título do filme que neste momento está em pós-produção e quando Alberto
Iglesias termina de compor a trilha sonora. Ao invés de Silêncio se chamará
Julieta - assim começa o cineasta a nota que redigiu para a imprensa.
"Quando começamos a pré-produção fiquei sabendo que Martin Scorsese ia
rodar um filme com o mesmo título, então não dei importância porque pensava
recomendar a todos os mercados o título em espanhol que soa bastante distinto
de 'Silence'. Scorsese e eu terminamos as filmagens e já prevemos que
coincidiremos com as datas de estreias no mundo todo no próximo ano. Além disso
será publicado uma nova edição do romance no qual está baseado o filme
Silêncio, de Shûsaku Endô. O filme toma por base três contos da
coletânea A fugitiva, de Alice Munro.
Sexta-feira,
20/11
>>> Inglaterra: O que
esperar na passagem dos 400 anos da morte de William Shakespeare?
Será em 2016
e os ingleses já estão com tudo na preparação das celebrações em torno da
memória e da obra do bardo. Boris Johnson, quem há dois anos publicou uma das
biografias mais completas sobre W. Churchill, está escrevendo outra sobre
Shakespeare e deve vir a lume no próximo ano. O Globe Theatre grava 37
curtas-metragens sobre cada uma das peças do dramaturgo. E no dia 23 de abril,
dia em que morreu WS, haverá um grande festival em sua honra na cidade onde
nasceu e morreu, Stratford-upon-Avon, com transmissão ao vivo pela BBC.
>>> França: E Ernest
Hemingway o que diria disso?
A comoção
com os atentados na capital francesa na sexta-feira, 13 de novembro levaram o
livro Paris é uma festa, sobre o tempo em que o escritor estadunidense foi um dos muitos nomes da
literatura que escolheu Paris como atmosfera para construir a inspiração para
suas obras. O livro está em toda parte: entre os mais vendidos, entre os
objetos de homenagem aos mortos, nas mãos de leitores pelas ruas da cidade. Em
janeiro, o atentado que matou 17 pessoas na sede do jornal satírico Charlie Hebdo levou Tratado sobre a tolerância, de
Voltaire, ao topo da lista dos mais vendidos. E Hemingway o que diria disso
>>> Arábia Saudita: Literatura
proíbe-se com morte. Ainda, em pleno século XXI. O poeta saudita Ashraf Fayadh
está na mira do Islã
A sentença
de pena de morte foi proferida no último dia 17 de novembro e agora o poeta tem
30 dias para recorrer. Segundo o jornal The Independent, ele foi
detido desde agosto de 2013, em Abha, na província de Asir, sudoeste da Arábia
Saudita pela polícia religiosa do reino saudita. O país do Oriente Médio é
regido pela Sharia (Lei Islâmica) e segundo uma fonte da associação Human
Rights Watch que teve acesso ao processo, Fayadh é acusado de abjuração e
renúncia à fé islâmica. A detenção ocorreu depois de uma denúncia de que o
poeta teria injuriado Alá e o profeta Maomé e insultado a Arábia Saudita e
distribuído ainda um livro de poemas que alegadamente promovem o ateísmo, completa
o jornal The Guardian. Depois da detenção, em maio de 2014, Fayadh
foi condenado a quatro anos de prisão e 800 chicotadas pelo tribunal de Abha;
recorreu, mas o recurso foi rejeitado e voltou ao banco dos réus no mês
passado. Agora, o novo painel de juízes decidiu pela sua execução, apesar de o
escritor ter manifestado arrependimento.
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