Boletim Letras 360º #139
Mataram Pablo Neruda. Um documento do governo chileno admite, oficialmente, pela primeira vez, que o poeta pode ter sido mais uma vítima da ditadura de Augusto Pinochet. Mais detalhes ao longo deste boletim. |
É sempre com prazer que publicamos essas notícias porque dizem do universo do Letras in.verso e re.verso; mas, gostaríamos de deixar registrado que marca inesquecível ainda no fim de semana passado, foi a celebração de mais um aniversário de Carlos Drummond de Andrade, ou como se tem convencionado, o Dia D. Este ano, ainda mais porque é o primeiro em que o dia dedicado ao poeta, 31 de outubro, foi também Dia Nacional da Poesia. E, por falar num dos nossos mestres da poesia, ainda está aberta à participação dos leitores para concorrer aos dois exemplares da Nova reunião de poesia, uma antologia organizada pelo próprio CDA com poemas de 23 de seus livros; veja aqui.
Segunda-feira,
02/11
>>> Brasil: Toda poesia
de Orides Fontela e inéditas mais um livro sobre a poeta
Desde 2009
Gustava de Castro pesquisava sobre inéditos da poeta; no apartamento de Gerda
Schoeder, com quem Orides viveu no fim da vida, encontrou alguns textos
inéditos. A pesquisa continuou em outras gavetas e em outras conversas, e o
resultado virá a público entre meados de novembro e o início de dezembro em
duas obras: O enigma de Orides, escrito por Castro com o apoio do
Projeto Rumos, do Itaú Cultural, é uma espécie de
romance-reportagem-biografia sobre um dos principais nomes da Geração 60, com
depoimentos de, entre outros, Antonio Candido e Davi Arrigucci Jr; o outro é um
volume com toda sua poesia, incluindo as 23 inéditas garimpadas agora. A edição
é da Hedra. O livro chega em boa hora: uma das antologias mais recentes de
Orides foi publicada pela Cosac
Naify e está há muito fora de circulação.
>>> Portugal: Abriu em outubro um hotel literário em Óbidos,
Portugal. Os donos dizem que é único no mundo. Há coquetéis e jantares
literários.
The Literary
Man tem 45 mil títulos espalhados por todas as partes, sobretudo nos 30 quartos
e no restaurante, desde os comerciais aos clássicos, desde os mais comuns às
raridades. O lugar é histórico: sua origem data de um convento no século XIX.
No restaurante é servido apenas jantares que têm pratos típicos da cozinha
portuguesa, mas pratos inspirados em escritores: Virgina Woolf inspirou uma
Tarte da Avó, John Steinbeck um Risotto de Cogumelos e Italo Calvino umas
Moules Mariniére. No bar, há mais de 30 marcas de gin disponíveis, incluíndo
cocktails literários, como um Lolita (Amaretto Sour) ou um Moby Dick (Salty
Dog).
Terça-feira,
03/11
>>> Brasil: Novo volume
das Lições de literatura, de Vladimir Nabokov
Durante as
décadas de 1940 e 1950, o autor de Lolita realizou em universidades
estadunidenses uma série de cursos sobre alguns dos pilares da literatura de
seu país: Gógol, Turguêniev, Dostoiévski, Tolstói, Tchekhov e Górki. Apenas em
1981 as aulas foram reunidas em livro nos Estados Unidos, graças ao editor Fredson
Bowers, que organizou as anotações deixadas por Nabokov. Eram as Lições
de literatura russa; mas, tais lições preciosas não estiveram restritas a
nomes de seu país de origem. No novo volume, Jane Austen, Charles Dickens,
Flaubert, Kafka, Marcel Proust, entre outros, são os nomes da vez.
>>> Brasil: Edição reúne
ensaios sobre a obra de Carlos Drummond de Andrade
Editado pelo Instituto Moreira
Salles, Drummond: jogo e confissão, de Marlene de Castro Correia,
marca seis décadas de dedicação da professora à obra do poeta. É uma edição
organizada pelo poeta Eucanaã Ferraz, ex-aluno de Marlene. São sete ensaios –
alguns já publicados nos livros Drummond: a magia lúcida (Zahar, 2002) e Poesia de dois Andrades (Azougue, 2010). Mas, há inéditos, como “Amor-humor”.
São textos com temas centrais da obra de Drummond, como a família, a terra
natal, a política, o amor e a própria poesia.
Quarta-feira,
04/11
>>> Brasil: Verdade
ao amanhecer é mais um título de Ernest Hemingway no longo projeto de
reedição da sua obra pela Bertrand Brasil
A trama
mistura memórias de viagem a passagens ficcionais; o livro nasceu a partir do
último safári que Hemingway realizou na África. É sabido de todos do gosto que
o escritor tinha pela caça e pela pesca. A obra foi escrita em 1953 e publicada
pela primeira vez em 1999 – décadas depois da morte do autor. A narrativa tem
início quando uma área de caça no Quênia é deixada aos cuidados de Hemingway
por um amigo. Há rumores de que a região possa ser atacada a qualquer momento
por africanos que se opõem ao poder colonial dos ingleses, o que deixa
Hemingway bastante preocupado. Alheia a tudo isso, Mary, esposa do escritor,
tenta caçar um leão pelo qual está obcecada. Ela e Hemingway enfrentam
problemas no casamento, ameaçado pela competição e pela infidelidade. Narrado
em primeira pessoa, o livro é descrito como peça de um autorretrato do escritor
estadunidense.
>>> Brasil: Qual título
da poesia turca você já leu? Paisagens humanas do meu país, de
Nâzim Hikmet pode ser uma dica
A tradução
de Marco Syrayama de Pinto é publicada pela Editora 34. Hikmet é por vezes
comparado a Pablo Neruda por sua exuberância lírica e posicionamento político,
e a García Lorca por seu enraizamento na paisagem e cultura locais. Trata-se de
um dos principais nomes da literatura moderna em todo o mundo, e só a distância
entre as línguas justifica seu relativo desconhecimento entre nós. Paisagens... é considerada sua obra máxima; começou a ser escrita na
prisão de Bursa, na Turquia, em 1939, como uma enciclopédia dos tipos humanos
que o poeta conhecera, e evoluiu para se tornar um verdadeiro épico do século
XX.Combinando técnicas do romance, do teatro e do cinema, diálogos epistolares
e emissões radiofônicas, trechos de reportagens, canções e contos folclóricos
tradicionais, o livro acompanha a vida de homens, mulheres e crianças de
diferentes estratos sociais, num entrelaçamento de histórias que têm, entre
seus polos de atração, as lutas pela libertação da Turquia na década de 1920 e
a experiência da Segunda Guerra Mundial, tratada em muitos planos, dos campos
de batalha aos arranjos de bastidores.
Quinta-feira,
05/11
>>> Inglaterra: Uma nova adaptação de Guerra e Paz, de Liev Tolstói para
uma série de TV
Situado
sobre o pano de fundo de 1812 no período de invasão da Rússia pelas tropas de
Napoleão, o romance de Tolstói é uma história de paixão, amor, escândalo e
fraude em torno das ascensão e queda do poder de cinco famílias aristocráticas
- Bezukhovs, Bolkonskys, Drubetskoys, Kuragins e Rostovs - nos últimos dias da
Rússia imperial. A adaptação para TV chega em janeiro de 2016. A produção é da
Lifetime, A & E e History em parceria com a The Weinstein Company, BBC
Cymru Wales e BBC Worldwide / Lookout Point.
>>> Brasil: Carlos
Drummond de Andrade e as cartas de-com uma leitora
O
documentário O último poema, da diretora e roteirista gaúcha Mirela
Kruel, tem estreia marcada para já. O filme se centra na relação epistolar entre
Helena Maria Balbinot Vicari, uma jovem estudante de Guaporé (RS), e o poeta
Carlos Drummond de Andrade. No final de 1962, Helena, ainda estudante do ensino
médio, decidiu escrever ao poeta falando do entusiasmo que sentia por sua obra
e da divergência de opinião com sua professora de português, que preferia
Cecília Meireles. Drummond não apenas respondeu a carta como iniciou uma troca
de correspondências que durou 24 anos, até meses antes da morte dele, em 1987.
A narrativa exibe trechos das cartas e poemas de ambos, mostrando como a
afinidade entre os dois, que nunca se encontraram pessoalmente, foi se tornando
amizade, numa aproximação gradativa cheia de afeto e cumplicidade.
>>> Estados Unidos: Documentário
sobre Gabriel García Márquez tem pré-estreia agendada
Como pode um
menino de um povoado perdido na costa colombiana ganhar os corações de milhões
de leitores, desde os mais simples aos líderes políticos de maior poder, e como
conseguiu mudar nossa percepção da realidade através de suas obras? Esta é
pergunta que deu origem a Gabo, a criação de Gabriel García Márquez [tradução livre para "Gabo, The Creation of Gabriel García Márquez"]
(documentário sobre o qual anunciamos aqui certa vez e que agora começa a vir a
lume para os telespectadores). E a resposta é oferecida através de nomes que
vão de Bill Clinton a Carmen Barcells num diálogo cuja forma é desvendar ainda
um perfil do ganhador do Prêmio Nobel de Literatura em 1982. A direção é de
Justin Webster.
Sexta-feira,
06/11
>>> Chile: Pablo Neruda
não morreu vítima de um câncer. Pablo Neruda foi envenenado.
É o que
aponta, pela primeira vez, um documento oficial redigido pelo Programa de
Direitos Humanos, do Ministério do Interior chileno a partir das recentes descobertas realizadas a partir da exumação dos restos mortais do poeta. O texto sustenta que o
Prêmio Nobel de Literatura de 1971 não morreu em consequência do câncer de
próstata que sofria, mas que é claramente possível e altamente provável ter
sofrido a intervenção de terceiros. Esse documento é conclusão de uma extensa
investigação (acompanhada desde sua partida pelo Letras, veja aqui e aqui) que busca compreender as afirmações de pessoas do círculo íntimo de Neruda que, desde sempre, levantaram tal suspeita. Neruda morreu às 22h30 do dia 23 de
setembro de 1973 na Clínica Santa María, em Santiago do Chile. Nesse dia,
segundo revela o processo, foi-lhe aplicada uma injeção ou levado a ingerir
algum medicamento que o condenaria à morte seis horas e meia depois. Reforça as
investigações o fato de que o poeta estava a poucas horas de viajar para o
México, de onde tinha a possibilidade de encabeçar uma agenda política
de denúncia acerca da ditadura do general Augusto Pinochet, que havia dado o
golpe de estado no dia 11 de setembro. Os laudos são imprecisos: detectaram a presença de Clostridium botulinum no corpo de Neruda antes da sua morte, mas não é possível apontar precisamente como a bactéria foi adquirida, ainda que tenha sido comumente utilizada pela ditadura para execução de opositores do regime. As novas revelações estão incluídas numa nova biografia sobre o poeta chegada na sexta-feira, 06, aos leitores de língua espanhola.
>>> Brasil: Uma edição
para celebrar os 80 anos da publicação de Memórias do cárcere, de
Graciliano Ramos.
O escritor
foi preso em março de 1936 pela Ditadura e até Janeiro de 1937, quando foi
libertado, levado a diversos presídios. E foi a prisão a situação que levou GR
a escrever essas memórias publicadas postumamente. A edição especial é
organizada pela neta, Elizabeth Ramos, e reúne além do texto deixado pelo avô,
a fortuna crítica do livro. Sairá pelo Grupo Editorial
Record no segundo semestre de 2016, ano em que completa 80 anos da
prisão arbitrária do romancista.
>>> Brasil: Duas exposições e um evento em homenagem a Fernando Pessoa
A mostra
"Fernando Pessoa: uma coleção" em cartaz no Museu do
Estado de Pernambuco. O evento marca os 80 anos da morte do poeta português e reúne a coleção pessoal do advogado José Paulo Cavalcanti. Entre os objetos, exemplares das primeiras edições de Orpheu, um caderno com manuscritos originais do
poeta, um óculos e cartas que escreveu ao editor e poeta António
Botto e ao escritor Luís de Montalvor. No mesmo local, outra exposição, Fernando Pessoa - vida e obra, no hall do
Espaço Cícero Dias; aí são reunidas 50 obras de artistas plásticos inspiradas no
poeta português. A iniciativa conta com nomes como José Cláudio, Mane Tatu,
Mauricio Arraes, Roberto Ploeg, Pragana, Margot Monteiro, Álvaro Caldas e
Rinaldo Carvalho. Já a edição 2015 da Festa Literária Internacional de Pernambuco é dedicada a Fernando Pessoa.
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