Boletim Letras 360º #133
Gabriel García Márquez e Pablo Neruda. O autor de Cem anos de solidão entrevistou o poeta. A raridade desse encontro é melhor comentada no decorrer deste boletim. |
Toda semana um conjunto de informações sustenta o fluxo de nossa página no Facebook; aliás, é para isso que ela existe. Enquanto outros blogs usam a rede social para publicar apenas o conteúdo que circula no seus espaços ou material de entretenimento, nós combinamos as duas coisas mais a ideia da informação. Editamos em média de duas a três notícias diárias; cada uma tem um elo com nosso conteúdo. No final da semana, quando compilamos essas entradas individuais em nossa página para nova edição, notamos que somam para mais de quatro páginas de conteúdo. E, desde quando notamos o impeditivo do Facebook em mascarar as publicações sem permitir que todos alcancem ver nossas publicações (e também porque nem todo mundo vive grudado na vida virtual) as informações retrabalhadas são postadas nestes boletins. Veem? Aí está o conteúdo da semana!
Segunda-feira,
21/09
>>> Brasil: A Fundação Biblioteca
Nacional anuncia a descoberta de uma crônica inédita de Lima Barreto
“Portugueses
na África” data de provavelmente 1907; nunca foi publicada; nem mesmo na coluna
“Echos”, da revista A Floreal, à qual ela se destinava, segundo
indicação do autor no verso de uma das folhas em que foi escrita. O original
foi encontrado recentemente numa pasta do Arquivo Lima Barreto – que está
preservado na Divisão de Manuscritos – por João Marques Lopes da Universidade
de Lisboa; João trabalha como bolsista do Programa Nacional de Apoio a
Pesquisadores Residentes (PNAP-R), da Biblioteca Nacional. João Marques Lopes
estuda o modo como a obra de Lima Barreto, um dos mais importantes escritores
brasileiros, foi recebida em Portugal. “Portugueses na África” faz duras
críticas à ocupação de territórios do interior de Angola até então sob o domínio
de populações nativas. Mais detalhes aqui.
>>> Portugal: A Fundação José Saramago dispôs
online a edição 40 da Revista Blimunda
E vem
recheada de assuntos atuais: a questão dos refugiados e do voto. Sobre o
segundo tema a edição recorda o romance 'Ensaio sobre a lucidez' a partir da
pergunta motivadora do texto saramaguiano: e se uma cidade votasse em branco? A
resposta vem em forma de excertos do romance ora lembrado. Além disso, entre
outros assuntos, a Revista foi "A Luz de Lisboa", que reúne peças das
artes plásticas que responde à pergunta: o que de fascinante na luz da capital
portuguesa? A edição pode ser acessada em aqui.
>>> Brasil: Edição
comemorativa em alusão ao cinquentenário de O auto da compadecida,
de Ariano Suassuna
O título é
das peças mais importantes da dramaturgia brasileira recente. Escrita em 1955, O auto teve estreia no ano seguinte e, já em 1957, ano em que foi publicada
pela AGIR, venceu a Medalha de Ouro da Associação Brasileira de Críticos
Teatrais. Em 2015 a obra chega aos 50 anos e ganha uma edição comemorativa, em
capa dura, que traz o texto definitivo, revisado pelo autor, acompanhado por
ensaios em que Raimundo Carrero, Bráulio Tavares e Carlos Newton Jr. elucidam
aspectos biográficos, históricos e teatrais de uma das peças mais populares do
Brasil. A edição da Editora
Nova Fronteira ainda traz ilustrações de Dantas Suassuna.
Terça-feira,
22/09
>>> Brasil: Tradução inédita de Jospeh Conrad
O escritor é
sempre lembrado por títulos como Apocalipse now e O coração das trevas.
Considerado um dos maiores nomes da literatura inglesa, que ele aprendeu depois
de adulto, apesar de ter com ela tido os primeiros contatos ainda quando
criança, ao ver seu pai traduzir Shakespeare, entre outros autores (Conrad é
ucraniano), a Cosac Naify apresenta
uma nova tradução para O passageiro secreto. Um capitão resgata em seu navio um
estranho náufrago, com quem estabelece misteriosa cumplicidade. Ao mesmo tempo
novela psicológica, thriller e aventura, o texto foi traduzido por Sergio
Flaksman, quem redigiu um glossário sobre a obra, e ilustrado por Adrianne Gallinari.
>>> Brasil: Reedição do
primeiro livro da literatura finlandesa
Todas as
literaturas tem uma obra elegida para como seu marco inicial; no Brasil, por
exemplo, é atribuída essa condição à carta de Pero Vaz de Caminha para a Coroa
portuguesa dando contas da chegada ao chamado Novo Mundo. Na literatura
finlandesa, Kalevala é o título que responde por essa função genesíaca. O
texto é na verdade uma extensa colcha de retalhos construída pelo trabalho de
pesquisa, compilação e composição realizado a partir de várias fontes da
tradição oral camponesa. Composto de cinquenta cantos, a primeira vez que a
obra ganha edição no Brasil - edição bilíngue com apresentação de Álvaro
Faleiros e José Bizerril, os tradutores que agora trazem o “Poema Primeiro”,
que abre a epopeia - foi em 2009; há algum tempo fora de catálogo, a Ateliê Editorial publica
uma reedição da obra .
Quarta-feira,
23/09
>>> Brasil: Novo livro
de Patrick Modiano
Ele foi o
ganhador do Prêmio Nobel de Literatura em 2014, e depois de reeditar uma de
suas trilogias há muito fora de catálogo, a Editora Rocco publica Para você
não se perder no bairro, o mais recente romance de Patrick Modiano. Publicado
em 2014 o título é sobre a saga íntima de um homem, Jean Daragane, um escritor
veterano, em busca da sua identidade.
>>> Brasil: Exposição
com cartas a Mário de Andrade chega a São Paulo
E fica no
Centro Cultura dos Correios até 15 de novembro de 2015. Conta-se que Mário de
Andrade tenha escrito algo em torno de 20 mil cartas; as apresentadas em
"Mário de Andrade: Cartas do Modernismo" é portanto uma pequena
amostra. Dividida em dois períodos do modernismo, a exposição traz no primeiro
núcleo obras produzidas na temporada francesa de Anita Malfatti e Tarsila do
Amaral, as duas principais pintoras do movimento. E, no segundo bloco
destaca-se a relação do escritor com o pintor Candido Portinari, que descobriu
em 1931 e, desde então, tornou-se a referência que considerava essencial para
outra revolução modernista. No Tumblr do Letras, o leitor tem acesso a quatro
fac-similares de cartas dessa exposição.
>>> Brasil: Não é
meia-noite quem quer, de António Lobo Antunes, chega às livrarias
brasileiras a partir da segunda semana de outubro, pela Alfaguara Brasil
Há muito da
obra do escritor português que anda fora de catálogo; e as publicações, desde
que assumidas pela Alfaguara, têm sido esparsas. Mas, o leitor da obra de
António Lobo Antunes recebe o romance publicado em 2012 em Portugal. Não
é meia-noite quem quer se estrutura em três dias da semana (sexta-feira,
sábado e domingo) e tem como figuras uma mulher perto de cinquenta anos
vai ficar esse período na casa de férias da família, numa praia não
identificada; esse período marcado pelas despedidas dela em relação ao lugar
recém-vendido coloca a personagem em projeção com seu passado: a infância com
os pais e os irmãos, o suicídio do irmão mais velho, o irmão surdo-mudo, o
complexo e dramático relacionamento dos pais, a menina da casa em frente, sua
amiga do tempo de férias. Enquanto isso, na terra do escritor é publicado seu
novo romance, Da natureza dos deuses, que sai em dois formatos: a
edição comum e uma com tiragem limitada e numerada.
>>> Gabriel
García Márquez entrevista Pablo Neruda
O encontro
foi gravado em 1971 em Paris. Dois escritores ganhadores do Prêmio Nobel de
Literatura: um, exercitando seus dotes jornalísticos, outro a repulsa que tem
pela posição de entrevistado. Márquez elogia o trabalho do poeta e Neruda
recompensa a condição de pouco à vontade reconhecendo "a incapacidade de
escrever uma história em prosa". Aqui.
Quinta-feira,
24/09
>>> Brasil: Manuel
Bandeira trivial ou o pai que nunca foi
As visitas
do poeta às famílias de amigos que tinham crianças renderam-lhe uma boa razão
para a composição de alguma parte de sua poesia. Em datas festivas como
aniversários, nascimentos, batizados, ou mesmo em encontros ocasionais, Manuel
Bandeira alinhou muitos poemas-dedicatórias que distribuía como presentes.
Poemas realizados ao sabor do momento, entre as famílias de sua mais afetuosa
convivência ou quando uma ocasião especial sugeria. No projeto de reedição da
obra de MB, a Global
Editora publica As meninas e o poeta, uma parte desses
poemas organizado pelo escritor Elias José. A nova edição tem ilustrações de
artista Maurício Negro.
>>> Portugal: Edição
propõe reavivar a biografia de Bocage nos seus 250 anos
A figura do
poeta pornográfico nunca foi afastada do poeta português. Mas, sua obra não se
resume a essa faceta picante. Bocage: imagem e o verbo propõe-se dar a
conhecer as linhas de força da poesia, da biografia e da recepção de Bocage,
através da revelação de algumas facetas desconhecidas deste complexo autor que
a tradição se encarregou de transformar num mito. A obra recolhe um abundante
material iconográfico dividido em quatro grandes temas essenciais: a época, a
vida, a poesia e a posteridade do poeta. A belíssima obra é de responsabilidade
do pesquisador Daniel Pires, que é também presidente da direção do Centro de Estudos
Bocageanos.
Sexta-feira,
25/09
>>> Inglaterra: Um
documentário sobre a única peça cinematográfica produzida por Samuel Beckett
Em 1963, o
Evergreen Theatre encomendou uma série de filmes de 90min cada que deveria
reunir Beckett, Harold Pinter e Ionesco em torno de suas obsessões. Um,
escolheu o olho, o outro, uma caixa e Ionesco, um ovo. Mas, só o projeto de
Beckett vingou. Film ficou pronto em 1965, e exibe um idoso Buster
Keaton como a estrela central da peça em preto-e-branco e mudo, de 22min. Foram
11 dias de filmagens. Em 2011, a Maguns Opus, reuniu o trabalho num DVD com
cenas cortadas na edição final do diretor Alan Schneider que trabalhou seguindo
os passos do que pretendia o escritor com o filme. Agora, está em fase de
produção um documentário sobre a película. Notfilm: a documentary on the
making of Film by Samuel Beckett. O trabalho de Dennis Doros e Amy Heller
é produzir um ensaio experimental de longa-metragem sobre a produção, as
implicações estéticas do trabalho de Beckett e inclui uma série de takes,
gravações de áudio das reuniões da produção e outros elementos de arquivo até
então inéditos.
>>> Portugal: Uma visita
ao básico sobre Fernando Pessoa
A obra do
poeta é tema de uma coleção a ser publicada em Portugal: nove volumes, cada um
dedicado a explorar um aspecto da sua extensa obra. O primeiro volume
reapresenta Mensagem e outros poemas com estudo de Fernando Pinto Amaral;
depois, Richard Zenith apresenta a poesia escrita pelo próprio Pessoa; o Livro
do desassossego (de várias versões) ganha mais uma, comentada pelo poeta Nuno
Júdice; o quarto volume apresenta correspondência e artigos escritos para a
imprensa com texto de António Feijó. A partir do quinto volume, uma visita aos
principais heterônimos do poeta: Ana Luísa Amaral apresenta Ricardo Reis; Rita
Patrício, Alberto Caeiro; e Clara Ferreira Alves, Álvaro de Campos. O oitavo
volume recolhe prosa crítica e ensaísta com texto de Miguel Tamen; e, conclui a
coleção um livro com os contos policiais. O prefácio desta última edição coube
ao escritor Pedro Mexia.
>>> Brasil: Um dos
maiores romances de Fiódor Dostoiévski ganha, pela primeira vez, tradução
direta do russo
Faltam
poucas peças da extensa obra do autor de Crime e castigo para
completar sua catedral literária em português. A tradução de Paulo Bezerra a
ser lançada em novembro pela Editora 34 é
um dos marcos desse extenso trabalho de publicação de Dostoiévski no Brasil.
"O adolescente" foi publicado em 1875 e é, segundo a crítica, um dos
cinco grandes romances da maturidade do escritor; está ao lado, portanto, de
títulos como O idiota, Os irmãos Karamazov e Os
demônios - além, é claro, do já referido Crime e castigo.
Narrado em primeira pessoa por um jovem de vinte anos, Arkadi Dolgorúki, O adolescente apresenta as tentativas dessa personagem em ser
aceita na sociedade russa da época: filho ilegítimo de um proprietário de
terras com uma humilde serva, criado longe da família, em um internato de
elite, Arkadi por fim vai conhecer seus parentes e tentar pôr em execução o
plano que maquinou durante seu isolamento: o de tornar-se um milionário, “um
Rothschild”, e superar através da acumulação de capital a sua origem bastarda.
A edição brasileira traz os manuscritos da obra como ilustração.
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