A poesia reflexiva e existencial de Paulo Lima
Por Thiago Gonzaga
Quanto mais verdadeiro, mais poético.
Novalis
O famoso
escritor argentino Jorge Luis Borges disse certa vez que, dos diversos
instrumentos que o homem usa, o mais assombroso é, sem dúvida, o livro. Para o
renomado escritor, o livro é uma espécie de extensão da memória e da
imaginação. Retomo o pensamento borgiano depois de ler o livro O ser e a
existência do poeta Paulo Lima.
Objeto artístico de muita qualidade visual, a
obra contém poemas ateados de modo significativo, ambientados em cenários
poético-fotográficos de lugares fantásticos, por onde o autor viajou e
registrou através de suas lentes, numa poesia impregnada de lembranças de um
mundo visto e vivido, uma poesia quase imagética ou, diria, que se funde à imagem.
O ardor do
escritor pelos versos e pela fotografia o influencia profundamente e isso está registrado num livro
riquíssimo de beleza visual, com versos repletos de sonhos e vida, e que em
alguns momentos revelam certo teor bucólico. Há na obra referências estéticas dos grandes
mestres da fotografia aliadas a uma poesia figurativa, trazendo uma espécie de espiritualidade
para os versos, concedendo-lhes uma emblemática harmonia de elementos
fantásticos, surreais, únicos, manipulados pelo poeta como se fosse um
alquimista das imagens e das palavras.
O estudioso Bachelard
disse em uma das suas obras que a poesia sob sua forma simples, natural,
primitiva, longe de qualquer ambição estética, de qualquer metafísica, seria
uma espécie de alegria do sopro, uma evidente felicidade de respirar. Eis que o
leitor encontra este sopro poético nos versos de Paulo Lima.
A poesia de
O ser e a existência organizada numa junção de construções
vocabulares com se uma verdadeira escultura de palavras, transcendem o lugar da literariedade para envolver o leitor nos detalhes plásticos e cromáticos produzidos pela fotografia. É um duplo caminho, então, entre a palavra que expressa a imagem e a imagem que expressa a palavra.
Por esse e outros motivos, estamos diante de uma poesia, quase sempre, de
caráter metafisico, que se aproxima bastante da filosofia, da reflexão, da sublimação humana, e que transporta o leitor em uma instigante
viagem existencial, na qual se encontram
muitas respostas, porém, também, muitas perguntas.
A escritora portuguesa Rita Ferro disse certa
vez. “A filosofia é fascinante, mas a poesia, com menos papel, faz as mesmas
perguntas”. O livro de Paulo Lima é um desses enigmas.
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