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Mostrando postagens de agosto, 2015

A desconstrução do gênero em Orlando: uma biografia, de Virginia Woolf

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Por Neiva Dutra Virginia Woolf e Vita Sackville-West Virginia Woolf escreveu, há mais de cem anos, uma obra em especial, na qual se questiona sobre as diferenças entre homens e mulheres. Embora a figura e a obra da escritora sejam consideradas por alguns o princípio da geração do pensamento feminista na idade moderna, pela forma como transformou momentos efêmeros da vida em uma concepção espiritual e artística que transcende a separação entre os universos masculino e feminino, em essência ofereceu ao mundo respostas valiosas sobre a vida, a morte, a identidade, o gênero e a literatura – porque a arte que amou em vida se encontra intimamente unida às suas personagens e à história que as envolve. Possivelmente uma dessas respostas – e talvez a mais enfática – seja Orlando , uma autobiografia na qual um jovem aristocrata se transforma em mulher. A vida desse personagem andrógino transgride os conceitos de gênero, satiriza a biografia e o próprio discurso feminista e r

Boletim Letras 360º #129

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Liev Tolstói fotografado por Sergei Mikhailovich Prokudin-Gorskii, um dos pioneiros da fotografia em cores que registrou personalidades e paisagens da Rússia de seu tempo. As fotos estão na edição dos contos completos publicada pela Cosac Naify; esta semana foi anunciada outra obra importante do escritor russo. Mais informações ao longo deste boletim. Nesta postagem publicada semanalmente no blog estão todas as notícias que compilamos de uma semana de diálogo com os leitores em nossa página no Facebook. É a oportunidade de rever, reencontrar aquela notícia perdida ou ainda ver o que passou despercebido nesse fluxo de postagens. Segunda-feira, 24/08 >>> Brasil: Um texto de Dario Fo que faz aquilo que bem fez o dramaturgo: satiriza a Igreja Católica O italiano tem peças traduzidas em mais de 30 idiomas. Entre elas, estão títulos como A descoberta das Américas , A morte acidental de um anarquista , e o Papa e a Bruxa . Em 1997 recebeu o Prêmio Nobel de Literatu

Utopia crítico-docente

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Por Rafael Kafka Há uma utopia em mim que está diretamente ligada a minha vida enquanto assalariado dentro de uma sociedade capitalista: a de tentar produzir um discurso de mudança social sem expor demais opiniões que coloquem em risco de exposição demasiada minha vida pessoal e minha vida profissional. Isso se daria por meio de um trabalho de mediação de leitura em minha página do Facebook, a rede social que mais uso, falando por lá acerca de filmes, séries, livros etc. O objetivo seria promover uma ampliação dos horizontes de leitura dos que se encontram em minha lista de contatos por meio de dicas de leitura nos mais variados tipos de mídia e formatos. Mas há um grande, entretanto: como ser ativista da leitura sem ter uma agenda política bem definida? Pergunto-me isso, pois falar de leitura por si só para mim é fugir da principal questão a se colocar no momento: ler para quê? Será que somente incentivar alguém a ler é suficiente para gerarmos uma sociedade que melhor

Rebentar, de Rafael Gallo

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Por Pedro Fernandes Rafael Gallo. Foto: Wilian Olivato Quando criança, em casa, sempre me contavam histórias sobre um papa-fígado e, com alguma variação, sobre um velho do saco cujo interesse, de um e de outro, era o de enganar e raptar crianças. Nunca soube de alguma família próxima da minha ou distante que tenha sido vítima de uma das personagens dessas histórias. Mas, carreguei comigo para onde fui desde quando andava acompanhado dos pais, e mesmo depois quando sozinho, o medo de ser raptado. Não sei se isso é um medo comum a todas as crianças que, por mais dadas que sejam, sempre têm mais confiança ao lado dos pais.  Muito tarde descobri que essas histórias poderiam ter sido inventadas ainda no tempo da Ditadura e o papa-fígado ou velho do saco era ninguém menos que um comunista interessado em usar crianças para serviços de má-fé. Claro, a história continuou sendo mal contada porque os raptores não eram comunistas, mas os próprios militares; sabe-se que desde sempr

Uma literatura a salvo de modismos: Edson Amâncio e seu “Diário de um médico louco”

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Por Alfredo Monte «… já na minha infância fui tomado por estranhos pressentimentos e muitas vezes chamado de habitante “do mundo da lua”. De tal forma era envolvido por êxtases e arrebatamento da alma que me perguntava se não estaria vivendo um sonho. Que tipo de sortilégio me dominava o espírito ainda na minha mais tenra infância! Meus pais, cujo equilíbrio mental está exageradamente distante de exemplar, levaram-me aos curandeiros da vizinhança e um deles me faz passar a mais terrível experiência que uma criança é capaz de suportar. Colocaram-me nu, sentado no chão, coberto de folhas de bananeira de uma cabana e despejaram sobre a minha cabeça o sangue ainda quente de uma galinha esgorjada…» 1 Há uma vinculação óbvia que podemos fazer de  Diário de um médico louco  (editora Letra Selvagem) com certa linhagem na ficção cujo protótipo encontramos em  Diário de um louco  (1835), de Gógol: trata-se do discurso de alguém que já não distingue o que é realidade ou delír

Ernest Hemingway e Martha Gellhorn: a guerra era uma festa

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Por Tereixa Constenla Com 50 dólares e sem noção de espanhol, a jornalista estadunidense Martha Gellhorn cruzou a pé a fronteira para entrar, na chegada da primavera de 1937, num país em guerra. Era sério seu empenho. “Fui para a Espanha com os meninos. Não sei quem são os meninos, mas vou com eles”. Duas semanas depois, vivia numa cidade sitiada, num hotel cheio de importantes personagens, num espaço ocupado por um daqueles meninos: Ernest Hemingway. Em Espanha foi a primeira vez que Gellhorn pisou numa guerra, o que lhe despertaria novos interesse em depois ir à outras frentes de batalha no mundo todo até se despedir com as crônicas sobre a invasão no Panamá quando já tinha 81 anos. A fúria, sua energia motriz, tardou a extinguir-se em quase nove décadas de vida e ainda sobreviveu às dores necessárias que foram capazes de lhe permitir escrever sua biografia ao lado do seu ex-companheiro. Embora a morte de Gellhorn incite a pensar que havia feito as pazes com ela m

Viva a música!, de Andrés Caicedo

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No dia 4 de março de 1977, Andrés Caicedo recebeu um exemplar de seu primeiro romance no apartamento 101 do edifício Corkidi, na Avenida Sexta de Cali. Seu protagonista chamou a si mesmo de Siempreviva. Horas depois, o autor tomou 60 comprimidos à base de secobarbital e caiu no sono (para sempre) sobre a máquina de escrever, uma Remington Performer. Nesse mesmo dia também haviam lhe entregado uma geladeira. Tinha só 25 anos. Esse romance, Viva a música , ficou sendo então o seu primeiro e único romance, construído pela colagem de estribilhos de salsa e de versos do Rolling Stones, além de orações pagãs, de frases de Edgar Allan Poe  e de Cela, o autor colombiano havia escrito: “Que ninguém saiba teu nome e que ninguém te dê amparo. Que não acesses às telemensagens da celebridade. Se deixas obra, morre tranquilo, confiando nuns poucos amigos. Nunca permitas que te transformem em pessoa maior, homem respeitável. Nunca deixes de ser criança”. E tem sido os poucos amigos que