Ficcionistas potiguares, de Manoel Onofre Jr, um livro pioneiro
Por Thiago
Gonzaga
Dos diversos
instrumentos utilizados pelo homem,
o mais
espetacular é sem dúvida, o livro.
Jorge Luis
Borges
O escritor
Manoel Onofre Jr. tem desempenhado importante papel na pesquisa, exposição e promoção
da literatura potiguar, principalmente nos últimos 35 anos. Desde a publicação
da obra Estudos norte-rio-grandenses (Prêmio Câmara Cascudo de 1978) o autor
vem pesquisando e divulgando novos nomes, especialmente, os que praticam a prosa.
Assim, ao
mesmo tempo em que desenvolve sua já laureada carreira como contista, cronista
e ensaísta, o estudioso também organiza obras decisivas e extremamente importantes
para a nossa história e cultura literária. Além do premiado livro referido
anteriormente, destacamos, também, Contistas potiguares, Salvados - livros e autores norte-rio-grandenses, (que, ano passado, chegou à sua terceira edição), Alguma prata da casa e Ficcionistas potiguares, livro sobre o qual falamos neste texto.
Ficcionistas potiguares é um feixe de ensaios,
que apresenta alguns dos melhores ficcionistas surgidos no Estado durante o
século passado. De Polycarpo Feitosa a
Bartolomeu Correia de Melo, o leitor tem uma justa representação de bons
escritores, altamente conceituados no meio literário, como José Bezerra Gomes,
Nei Leandro de Castro, Francisco Sobreira, Homero Homem, Ruben G Nunes,
François Silvestre e Newton Navarro. Este último, por sinal, tem no livro um
dos melhores e mais completos ensaios já feitos sobre sua vida e obra, texto
obrigatório para qualquer estudioso que queira conhecer a trajetória do artista
Newton Navarro.
Dedicada aos
ficcionistas potiguares que começaram a publicar no início e até final do
século passado, a obra pioneira é
indicada por professores da Universidade Federal do Rio Grande do Norte,
para conhecimento da produção literária
de ficção potiguar.
O elenco de
ficcionistas é admirável; na maioria, seus componentes tornaram-se parte do
cânon potiguar, além de serem consagrados pela crítica e pelos leitores. Nomes
como os de Aurélio Pinheiro, Afonso Bezerra, Raimundo Nonato da Silva, Eulício
Farias de Lacerda, Tarcísio Gurgel, Edna Duarte, Alex Nascimento e Carlos de Souza
também estão presentes, juntamente com excelentes outros nomes e livros que
fizeram história.
Um dos méritos da obra Ficcionistas potiguares - como já citei - é o seu pioneirismo, além de trazer numerosos
dados biobibliográficos, tornando-se extremamente rica em informações sobre autores
e livros, em análises sucintas e muito bem elaboradas.
Essa riquíssima fonte de consulta, possui a
marca de seu organizador, uma prosa leve e de fácil compreensão, que alcança um
público mais amplo, ou seja, não é
apenas um livro para pesquisadores, mas, sim, para todo aquele leitor que gosta
e se interessa por literatura de maneira geral. Vale salientar o projeto
gráfico e estético da segunda edição, que é a que comentamos.
Ficcionistas potiguares,
nunca é demais dizer, constitui um mapeamento sério e competente do que foi
publicado em prosa de ficção no século XX no Rio Grande do Norte. Evidente que algum leitor poderá notar a falta
de algum nome no cânon , mas, relembramos que o trabalho da crítica literária,
querendo ou não, implica também subjetividade , ou seja, o gosto pessoal, a
leitura e os critérios adotados por cada estudioso. Lembramo-nos do mestre
Manuel Bandeira, quando disse que todas
as antologias que ele fez, tiveram seu gosto pessoal. Porém acreditamos que
Manoel Onofre Júnior foi muito fiel, honesto e imparcial em todas as suas
escolhas do trabalho em foco.
O
livro é uma excelente fonte de consulta e deveria ser leitura obrigatória em
todas as escolas públicas do Estado, como ferramenta pedagógica no ensino da
literatura. A obra inclusive tem o
potencial de vir a ser trabalhada como
objeto comparativo da nossa literatura
com a de outros Estados, revelando pontos em comum. Além disso, é importante
também para orientar estudiosos e pesquisadores na análise de obras de
determinados escritores. Sabemos que, no Estado, há uma grande carência de
livros e informações sobre escritores do passado.
Manoel
Onofre Júnior teve o cuidado de, no Ficcionistas potiguares, despertar em leitores
e pesquisadores de literatura o desejo
de buscar e conhecer integralmente
nossos escritores, fazendo questão de citar a bibliografia completa de
todos os elencados, além de análises ricas e de grande utilidade literária.
Isso é muito importante, para que os estudantes, que utilizarem o livro, possam
se posicionar quanto a determinado autor ou estilo literário e não ignorem outros.
Visto dessa forma, Ficcionistas potiguares” servirá também como um guia.
Lamentamos, profundamente que, devido a
critérios adotados pelo autor, ele mesmo não esteja incluído na obra, pois, como
já citado, Manoel Onofre Jr. também é escritor de ficção, autor de um dos
livros de contos mais consagrados da nossa literatura, Chão dos simples”,
publicado originalmente em 1983 pela Editora Clima, e reeditado em 1998, virou peça de teatro
pelas mãos do falecido diretor e ator Lenício Queiroga, e teve nova e luxuosa edição, comemorativa de 30 anos ,no
início de 2014 pela Sarau das Letras.
Por fim, o nosso desejo é que trabalhos
como este, devido a sua grande importância, ganhem maior
espaço, inclusive nas escolas do Estado. O autor da obra tem feito com muito
apreço aquilo que Antonio Candido aconselhou certa vez, quando disse, num dos
seus livros, que, “comparada às grandes a nossa literatura é pobre e fraca. Mas
é ela, não outra que nos exprime. Se não for amada, não revelará a sua
mensagem; e se não a amarmos, ninguém o fará por nós.”
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