Um ponto final na busca por Cervantes?



Não há um esqueleto inteiro. E nunca haverá. Já se passaram quatro séculos desde a morte de Cervantes. Mas, segundo se suspeita, será anunciado em breve a descoberta dos restos mortais do escritor numa ampla pesquisa conduzida por uma equipe de especialistas durante recente exploração de nichos e tumbas na cripta do convento madrileno das religiosas trinitárias (ver esquema abaixo).

Serão revelados, primeiro, que tanto documentalmente como realmente, o cadáver de Cervantes não saiu nunca dos muros do convento; se foi transladado foi de lugar para outro dentro da cripta que antigamente foi a igreja do convento demolida e reedificada entre 1673 e 1690.

Em segundo lugar, mostrará que um fragmento da mandíbula de Cervantes e outros de vários ossos seus foram achados num ataúde assinado com as iniciais de seu nome e a matéria estava imersa entre uma grande quantidade de ossada de crianças, encontrada no primeiro nicho dos 33 explorados pelos investigadores. O número de vestígios ósseos indica que foram mais de 200 crianças sepultadas na estância funerária subterrânea.

E, em terceiro lugar, o governo espanhol anunciará que planeja, entre outras opções, instalar na própria cripta um túmulo digno e idôneo, de novo desenho, como o possível lugar onde os restos mortais do escritor de Dom Quixote possam ser visitados pelo público. Entre as reformas está a adaptação do espaço subterrâneo com novos acessos de maneira que respeite o lugar das sepulturas, a reclusão das religiosas que vivem enclausuradas no convento e evite alterar o fluxo diário dos fiéis à igreja. O projeto deve ser inaugurado em 2016, quando da celebração dos 400 anos da morte de Cervantes.

O processo das buscas pelos restos mortais de Cervantes. Via: El País


A fase das pesquisas conduzidas por Francisco Etxberria e Almudena García Rubio e iniciada há alguns meses com a exploração do subsolo do templo conventual por um georradar foi cumprida e as conclusões sairão dos estudos de laboratório a que se dedicam a equipe há duas semanas.

Mas, ainda há dificuldades entre os pesquisadores de chegar a um desfecho para o trabalho e, por mão de obra; por exemplo, a equipe precisa de teóricos em história e até agora apenas um especialista (e em História Moderna) está para resolver todas as questões. Entre elas, o estudo de textos fundamentais mantidos nos arquivos das religiosas trinitárias, no Ducado de Medina, no Arquivo Diocesano de Toledo e no Arquivo Histórico Nacional.   

Outro dos obstáculos maiores tem sido a separação dos ossos devido o elevado número de restos infantis e de adultos já em processo de ossificação; a quantidade significativa se dá porque naquela época o índice de mortalidade infantil era muito alto e não podemos desconsiderar as epidemias de varíola, a peste e as febres tercianas, flagelos de todo o século XVII, XVIII e XIX em Madri.

É necessário chamar a atenção para o fato de que não foi buscado pela equipe referentes genéticos a partir dos quais se poderia cotejar a identidade dos ossos de Cervantes. Sabe-se que há uma irmã do escritor, Luisa de Saavedra, que está enterrada no convento carmelita central em Alcalá de Henares. 

Alguns pesquisadores externos à equipe de investigação pensam que ela tenha sido de uma ordem das descalças e religiosas dessa ordem foram sepultadas diretamente na terra, apenas envolvidas por uma mortalha simples, o que certamente acelerou o processo de decomposição. No entanto, os ossos em distintos tipos de solo podem durar certo tempo de integridade. Por outro lado, a família dos Saavedra, sobrenome primitivo de Cervantes, conta, tanto em Lugo como em Sevilha, com centenários panteões próprios de que não há nenhuma evidência de que tenham sido examinados.

É estranho entender a razão porque as duas sepulturas situadas próximas do altar da Imaculada, no lado da epístola da igreja do convento das trinitárias, que estão à curta distância do teto da cripta não tenham sido explorados com as microcâmaras tal como feito com as demais sepulturas. 

Com todas essas lacunas, talvez seja necessário dizer que, no melhor dos casos, os pesquisadores tentam se contentar com o que encontraram e o que encontram oferece características suficientes para atribuir os restos aos de Miguel de Cervantes.

Ligações a esta post:
>>> Em busca de Miguel de Cervantes. Leia aqui sobre quando e começaram as buscas pelos restos mortais do escritor.
>>> Numa segunda etapa das buscas, conheça como foi feita a descoberta de um ataúde com as iniciais do Cervantes.
>>> Se for encontrado os restos mortais de Cervantes o que fazer com eles? Leia aqui a opinião que divide espanhóis e cervantistas.


Comentários

AS MAIS LIDAS DA SEMANA

A poesia de Antonio Cicero

Boletim Letras 360º #610

Boletim Letras 360º #601

Seis poemas de Rabindranath Tagore

Mortes de intelectual

16 + 2 romances de formação que devemos ler