Sniper americano, de Clint Eastwood
Onde está a
glória de uma guerra? Não existe glória numa guerra. Onde está, numa guerra, o
bem e o mal? Não existe lados numa guerra. Ainda mais se essa guerra for a mais
recente comandada pelos Estados Unidos contra o Iraque sob a alegação estapafúrdia
de combate ao terrorismo e às armas químicas.
Mas, Clint
Eastwood contraria o bom senso e produz um filme que é uma louvação à guerra e
soa, no fim de tudo, um trabalho patético pela maneira rasa como a narrativa desenvolve a questão e revalida toda uma estereotipia do típico herói estadunidense;
só os Estados Unidos é signo da civilização e o resto do mundo é “selvagem”
(para usar o termo designativo dos soldados em Sniper Americano em relação aos iraquianos).
Talvez isso
tenha sido proposital? A cinematografia do louvor ao próprio ego (nacionalista)
parece andar um pouco mal das pernas e o diretor viu aí uma chance de reavivar
o espírito belicista de um país que, mesmo ameaçado por todos lados, insiste à
fina força em se dizer os maiores e melhores do mundo e, para isso são capazes
de deixar o próprio mundo num trânsito impassível (qual jogo de War) a fim de
justificar a os meios de saída pela guerra.
O fato é que
Sniper americano – pela natureza medíocre
com que é desenhado – só há de servir para duas coisa: virar peça de videogame e servir de propaganda para os republicanos (sim, em nada se distancia das produções cinematográficas de enaltecimento do nazismo durante o regime de Hitler). E,
claro, consolar uma família que tem na biografia o orgulho de ser herdeira do
maior atirador das forças especiais da marinha, com o currículo glorioso de 160
mortes. Mas isso é glória? Há por detrás do filme, um livro, American
Sniper, que parece ser outro título raso para mero engrandecimento de uma
figura.
Entre balas,
invasão de casas, negociações fajutas e outras características comuns de uma
guerra, o filme é ainda uma inútil defesa ao ódio, ainda que se diga que o país
se envolve no conflito para matar o ódio. Se prende do início ao fim pela
selvagem lei de Talião e pela figura de que todos os do Oriente Médio são maus e por isso não merecem confiança e, no mínimo detalhe, devem ser abatidos. Mas, e quantidade de inválidos que aparece no filme não
seria um consolo para quem diz ser este um trabalho de enaltecimento à guerra? Não,
não é. Porque mesmo os inválidos são tratados como heróis; quem, de uma maneira
ou de outra, sobreviveu ao conflito e este à frente de defender seu país.
Mesmo
estereotipada o que apresenta um indício de salvação da narrativa parece ser a figura feminina (sempre
ela!). A única que representa um ponto de vista que destoa da barbárie e mesmo não pensando no outro (além do estadunidense), porque pensa no
bem-estar da família, não consegue compreender a necessidade de o companheiro
se deixar levar pelo discurso de proteção à nação para ir à guerra. Mas, fica
nisso: finda por ser uma garota desprotegida que se envolve com o homem certo
para constituir a família dos sonhos com kit completo: ursinho de pelúcia ganhado no namoro, e depois uma casinha branca, um casal
de filhos e um cachorro.
As atuações são boas; a estrutura da narrativa bem construída. Todas as críticas negativas devem ser dirigidas para o ângulo ideológico porque o filme acaba por se reduzir a uma peça panfletária e cega de enaltecimento patriótico. E, parece que, não poderia ser outra forma; mas precisava ocultar a selvageria dos soldados contra civis? Precisava reforçar, necessariamente, a máxima do nós, os bons contra eles, os maus? E, agora, muito antes de todo esse amor à pátria, o que não deixa de ser enaltecido é, sobretudo, um modus vivendi tradicionalista do típico estadunidense. Mas a mistura entre patriotismo e tradição, infelizmente, não é bem-vinda.
As atuações são boas; a estrutura da narrativa bem construída. Todas as críticas negativas devem ser dirigidas para o ângulo ideológico porque o filme acaba por se reduzir a uma peça panfletária e cega de enaltecimento patriótico. E, parece que, não poderia ser outra forma; mas precisava ocultar a selvageria dos soldados contra civis? Precisava reforçar, necessariamente, a máxima do nós, os bons contra eles, os maus? E, agora, muito antes de todo esse amor à pátria, o que não deixa de ser enaltecido é, sobretudo, um modus vivendi tradicionalista do típico estadunidense. Mas a mistura entre patriotismo e tradição, infelizmente, não é bem-vinda.
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