Boletim Letras 360º #103
No
cruzamento de um fim de semana com o de um fim de mês chega on-line mais uma edição
do Boletim Letras 360º. Aqui, as notícias que correram a semana na página do blog no Facebook. Entre as novidades, chamamos atenção para o burburinho que se formou no universo da literatura da semana anterior para agora: seria um texto encontrado de Arthur Conan Doyle? Primeiro, todos disseram que sim, mas, depois, bem depois, as coisas mudaram de figura. Saiba mais ao longo deste boletim.
Elementar, meu caro Watson! Abre-se em torno da obra de Arthur Conan Doyle uma série de especulações sobre um possível conto desaparecido há um século. |
Segunda-feira,
23/02
>>> Rússia: Lembram que
em 2014 publicamos aqui sobre a tarefa de ler integralmente Anna
Kariênina on-line? Pois o projeto foi parar no Guiness Book
O Livro dos
Recordes registra o projeto de leitura on-line do romance de Liev Tolstói com
"o de maior audiência numa maratona de leitura pela internet".
Realizado em conjunto pelo Google com a casa-museu de Liev Tolstói “Iásnaia
Poliana” a leitura foi acompanhada em 106 países; o Google criou um site que
combina texto, vídeo, áudio, informações para consulta e um sistema prático de
navegação. Pelo sistema de busca, é possível encontrar qualquer leitor por
sobrenome, ler o romance desde o início ou escolher a sua passagem favorita. A
maratona de leitura foi realizada em outubro de 2014 e teve transmissão ao vivo
pelo Google+. Mais de 700 pessoas participaram ativamente do evento, que durou
30 horas.
>>> Portugal: Chega
on-line a 33ª edição da Revista Blimunda
A edição ora
apresentada assinala o aniversário de 35 anos da publicação de “Levantado do
Chão”, um dos romances mais significativos para a literatura saramaguiana. Traz
entrevista com o diretor da Companhia das Letras Luiz Schwarcz que esteve em
Portugal para a apresentação da chegada da editora do outro lado do Atlântico;
entrevista com o jornalista Fernando de Barros e Silva, quem acompanhou Chico
Buarque em Berlim em busca do irmão (o motivo para o livro "O irmão
alemão" - título de estreia da Companhia em Portugal). E, passados cinco
anos do terremoto que arrasou o Haiti a edição recupera um texto escrito por
José Saramago naquela altura: “Quantos Haitis?” Para encerrar o Ano Cortázar,
um texto inédito do editor catalão Carles Álvarez Garriga sobre Aurora Bernárdez,
a companheira e herdeira da obra de Julio Cortázar, falecida em novembro
passado. Na Saramaguiana, uma intervenção de Sandra Lorenzano, escritora
argentina radicada no México, lida na apresentação de “Alabardas, alabardas,
Espingardas, espingardas” realizada em dezembro passado na Cidade do México.
Para acessar, é ir aqui.
Terça-feira,
24/02
>>> Brasil: Hilda Hilst
é a artista homenageada da 22ª edição do programa "Ocupação"; entre
28 de fevereiro e 21 de abril, no Itaú Cultural
Um dos
destaques da exposição é a relação da escritora com suas listas – de ideias e
palavras rabiscadas quando criava suas obras, tarefas rotineiras, nomes de
amigos vivos e mortos, seus cachorros. Manuscritos para A Obscena Senhora
D., integram ao lado de outros manuscritos, fotos e objetos da escritora.
>>> Inglaterra: É mentira! O
texto encontrado como sendo um conto perdido sobre Sherlock Holmes não é de
Conan Doyle
A revelação
está no site Electric Lit. Desde a semana passada que a internet entrou em
polvorosa com a notícia de que um novo conto que caracteriza Sherlock Holmes e
Dr. John Watson tinha sido descoberto em um sótão na Escócia. Também chegamos a
divulgar a novidade por aqui. Mais emocionante do que encontrar histórias
curtas em um sótão foi o fato de que seu descobridor (Walter Elliot) e da
imprensa em geral (todos) informarem que este era um original escrito por Sir
Arthur Conan Doyle. Ryan Britt conta que, assim que leu o conto, logo percebeu
algo de errado; o texto teria mais a cara de um Neil Gaiman que de Sir Arthur
Conan Doyle. Desde o título, diz Britt, já fica provado tratar-se de um
pastiche, "inventaram uma brincadeira para este livreto". Bem, a notícia original é que Walter Elliot, um senhor de 80 anos, havia encontrado o texto desaparecido há quase um
século. O livro teria vindo de um bazar para arrecadar
fundos para a cidade de Selkirk, na Escócia, que teve sua ponte de madeira
destruída durante uma enchente em 1902. Como a cidade não tinha dinheiro para
reconstruir a ponte, os locais organizaram um evento de três dias, em 1904. O
escritor britânico adorava visitar a região e decidiu contribuir com a
arrecadação, doando um conto no último dia do evento. Elliot, no entanto, não
lembra como o livro foi parar em seu sótão; sabe apenas que tem o material há
pelo menos 40 ou 50 anos. Em 48 páginas, a compilação traz histórias da
população local bem como a do famoso autor. A coleção, intitulada "The
book o' the brig" será exibida em um museu da comunidade de Selkirk, junto
com uma pintura de Walter Elliot da ponte reconstruída.
Quarta-feira,
25/02
>>> Irlanda: Os 150 anos
de Yeats
Para
comemorar a data de nascimento do poeta e dramaturgo William Butler Yeats, a
Irlanda preparou um calendário cheio de eventos culturais: o país receberá
dezenas de exposições, concertos, palestras e até festivais sobre o autor. A
National Gallery de Dublin, por exemplo, sediará uma mostra de Jack Yeats,
irmão do escritor e um dos artistas irlandeses mais conceituados do século 20;
a National Library, também na capital irlandesa, receberá a exposição "Life
and Works of William Butler Yeats" (Vida e Trabalhos de William Butler
Yeats, em tradução livre do inglês) e o National Concert Hall reservará fins de
semana para saraus de música e poesia. O dia alto das celebrações será 13 de
junho, o Yeats Day, data de nascimento do vencedor do prêmio Nobel de
Literatura. Nesta data, além da Irlanda, locais como a British Library de
Londres, bibliotecas em Paris, Tóquio e Nova York farão exposições, palestras e
homenagens ao poeta. Em 2015, também serão postas em prática as Yeats Trails
itinerários que percorrem os principais pontos da carreira e da vida pessoal do
dramaturgo. Os trajetos passam, por exemplo, pelo City Museum, na cidade de
Galway, pelo Instituto de Tecnologia, em Sligo, pelo Museu de Escritores, em
Dublin, e pelo seu túmulo no cemitério de Drumcliff.
>>> Brasil: Reedição da
obra de Samuel Beckett
Além dos
títulos recém-reeditados pela Globo Livros, a editora Cosac Naify, outra que
também publica a obra do escritor irlandês no Brasil, dedica-se a construir um
novo projeto gráfico para títulos que estão no seu catálogo. Em 2014,
chegou-nos a nova versão de Murphy; agora, outra obra-prima de
Beckett ganha reedição no novo projeto: Esperando Godot. Com
tradução do professor de Teoria da Literatura da Universidade de São Paulo
Fábio de Souza Andrade, a peça escrita em francês estreou em 1953 e se tornou um
divisor de águas no teatro do século XX. Na história, dois vagabundos aguardam
infinitamente, num descampado, a vinda do senhor Godot, que nunca aparece.
Quinta-feira,
26/02
>>> Alemanha: Uma imagem
contra a homofobia
A intimidade
de um casal gay em São Petersburgo, na Rússia. Isso foi o que captou com a
câmera o fotógrafo Mads Nissen em 2014. O resultado é uma imagem que leva o
título de "Jon e Alex" e que foi ganhadora, no início do ano, do mais
prestigiado concurso anual de fotografia, o World Press Photo, organizado pela fundação
de mesmo nome com sede em Amsterdã, Holanda. A foto, publicada no diário Politiken é o resultado de um estudo sobre a homofobia na Rússia
que levou Nissen a instalar-se naquele país durante dois anos. Cabe lembrar que
o país vive desde 2013 um retrogradismo sobre a liberdade sexual quando aprovou
uma lei proibindo a propaganda com casais que não o tradicional homem-mulher.
>>> Portugal: No palco, a voz de Alexandre O'Neill
Um dos
expoentes da literatura portuguesa. O projeto de "Portugal, meu
remorso" nasceu desde 2007, quando veio a público a biografia Alexandre O'Neill: uma biografia literária. Mas a peça apresentada
no Teatro S. Luiz, não uma biografia encenada, tampouco um recital de poesia,
mas o espetáculo alimenta-se da obra do escritor sem obedecer a uma ordem
cronológica ou narrativa. Poemas cortados, intercalações com cartas, vídeos,
música, uma narrativa invisível que tenta aproximar-se da natureza da obra de O'Neill.
Pelo correr da peça, entre as cartas, estão algumas inéditas.
Sexta-feira,
27/02
>>> Inglaterra: Correspondência
de Agatha Christie com fãs é publicada em livro
A publicação
é uma das formas de assinalar a passagem dos 125 do nascimento da escritora.
Uma leva de cartas que ela trocou com inúmeros fãs foi publicada em livro.
Agatha sempre teve o cuidado de guardar as missivas e entre as que são
publicadas agora encontram-se a de uma sobrevivente da Segunda Guerra Mundial
que se refugiou na sua obra, a de um rapaz de 14 anos que iniciou um clube de
leitura na escola como forma de angariar fundos para comprar os seus livros e a
do autor P.G. Woodhouse.
>>> Brasil: É reeditada
coletânea com poemas de James Joyce
Depois de
editar materiais raros do autor de Ulysses, a Iluminuras apresenta
a versão para o que chama de "a produção poética incidental de Joyce entre
os anos de 1913 e 1916"; material que veio à luz numa espécie de
“encruzilhada” em sua carreira, quando Dublinenses já havia sido
terminado, Um retrato do artista quando jovem estava prestes a ser
concluído e Ulysses já entrara em processo de gestação. A coletânea
aqui traduzida por Pomas, um tostão de cada chegou a ser publicada
em 1927; inclui uma dúzia de poemas escritos em Trieste e foi vendida na época
ao preço de um xelim. De acentuado cunho autobiográfico, como tudo o que Joyce
escreveu, os poemas refletem as reminiscências dele quanto a Nora, em 1909, e
anteriormente, quanto a uma paixão não resolvida por Amalia Popper, sua aluna
triestina, ou experiências mais dolorosas, como a gradual perda da fé e da
visão, ou mesmo as experiências do Joyce pai e avô – como é o caso de “Ecce
puer”, escrito quando do nascimento de seu neto e da morte de seu pai. Esse
poema foi acrescentado aos seus Collected poems de 1932 – um pequeno
exemplo de perfeição madura do autor às voltas com o gênero lírico. Completam
esta seleção dois poemas longos, autobiográficos em seu impulso e satíricos em
suas implicações, “O santo ofício” e “Gás de um bico”.
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