Boletim Letras 360º #102
Avançamos mais uma semana no calendário de 2015. Pós-Carnaval, dizem as algumas línguas, que, agora enfim, é chegada a vez de dizer "Feliz ano novo!" Bom, quem nos acompanha com certa frequência já terá percebido que isso, ao menos para nós, não faz tanto sentido. Quase não paramos. A seguir, uma mostra disso: diariamente acompanhamos as notícias sobre o universo literário do Brasil e até onde alcança a vista.
Perfil no Instagram reúne flagras no metrô de Nova York de homens bonitos em momentos de leitura. Mais detalhes sobre essa invencionice ao longo deste boletim. |
Segunda-feira,16/02
>>> Portugal: Morreu a escritora Luísa Dacosta
Luísa Dacosta, que completava 88 anos no dia 16 de fev., formou-se na Faculdade de
Letras de Lisboa em Ciências Histórico-Filosóficas, iniciou a sua atividade
literária em 1955 e recebeu em 2010 o Prêmio Literário Vergílio Ferreira,
atribuído pela Universidade de Évora. Entre os seus livros contam-se Província, A menina coração de pássaro, Sonhos na palma da mão, O valor pedagógico da sessão de leitura. Escreveu também livros
infantis.
>>> Brasil: Ainda sobre os 150 anos de Alice
Dissemos aqui que a Cosac Naify - que já publicou uma edição de Alice no país
das maravilhas - aproveita para publicar Alice no país dos espelhos. Pois,
os 150 anos da personagem mais famosa da literatura segue fomentando
homenagens; para além dessa publicação, já em julho, a Zahar, que dedicou
edições luxuosas para outros clássicos do gênero, prepara uma edição especial
de Alice no país das maravilhas; a obra vem com as ilustrações originais de
John Tenniel revisitadas em colagens digitais por Adriana Peliano. A
Zahar já tem no catálogo a premiada edição Comentada e ilustrada de Alice. A Martins Fontes também anunciou que editará uma edição de Alice no país das maravilhas. No blog reveja num dos catálogos sobre os ilustradores de Alice, o trabalho de Tenniel.
Terça-feira, 17/02
>>> Brasil: Deve sair ainda em 2015 nova edição de O sol é para
todos
Desde que foi anunciada a sequência para o romance de 1960, que Harper Lee
voltou a figurar na lista dos livros mais vendidos nos Estados Unidos. A
escritora se disse incomodada com todo burburinho em torno do seu nome; tudo
porque (cf. dissemos aqui) por esses dias foi anunciado a chegada para a julho
de Go set a watchman - é esse o título do novo romance. No Brasil,
ainda não tem data para publicação dessa obra, mas, O sol é para
todos deve sair até o final de abril pela José Olympio; trata-se de uma nova
tradução feita por Beatriz Horta.
>>> Estados Unidos: Morreu o poeta Philip Levine
Desconhecido dos brasileiros - não há por aqui um livro sequer que tenha
recebido tradução - Philip Levine é autor de uma extensa obra poética que fez
das vidas dos trabalhadores fabris um tema dominante, mas que se interessou
também, por exemplo, pela guerra civil espanhola. Além do Pulitzer, Levine
recebeu vários outros prêmios significativos, e em 2011 foi nomeado “poeta
laureado” dos Estados Unidos. Licenciado pela Universidade de Wayne, em
Detroit, em 1950, o poeta manteve durante alguns anos empregos manuais em
fábricas, mas depois de frequentar na Universidade de Iowa os cursos de poetas
como Robert Lowell ou John Berryman – que sempre considerou o seu grande mentor
–, acabou por seguir uma carreira acadêmica e deu aulas durante décadas na
Universidade de Fresno, na Califórnia, enquanto ia publicando regularmente
novos livros de poesia, e também alguns volumes de ensaios.
>>> Estados Unidos: A isso resumiram os grandes clássicos?
Pode parecer piada de mau gosto ou simples divertimento, mas Matteo Civaschi e
Gianmarco Milesi resumiram em Life in five seconds resumem alguns
dos clássicos da literatura para leitura em 5 segundos. No Tumblr do Letras reunimos imagens desse trabalho em que você poderá ler
textos como Odisseia, de Homero, Moby Dick, de H. Melville,
entre outros.
Quarta-feira, 18/02
>>> Brasil: Voltar a Complô contra a América, de Philip Roth
A Companhia das
Letras adiciona o romance de 2004 à lista das edições de bolso. Complô contra a América caminha na contramão da atmosfera realista que
costuma cercar a obra de Philip Roth: logo no primeiro parágrafo, o leitor se
dá conta de que a ação transcorre no tempo em que o aviador Charles Lindbergh —
o primeiro a atravessar o Atlântico a bordo de um avião — foi presidente dos
Estados Unidos. Essa época, como se sabe, nunca existiu. Philip, o
protagonista, é um menino como tantos outros, apaixonado por sua coleção de
selos. O pai é corretor de seguros. A mãe, dona de casa, e o irmão mais velho,
desenhista. Como toda a população do bairro, a família Roth é judia. Nos anos
1940, época em que transcorre a narrativa, parece não haver melhor lugar no
mundo para ser judeu do que os Estados Unidos. Mas quando Franklin D.
Roosevelt, ao tentar reeleger-se para um terceiro mandato, perde para
Lindbergh, o cenário se torna sombrio. O aviador é um ardoroso defensor da
Alemanha nazista, um homem para quem os Estados Unidos deveriam se defender da
“diluição nas raças estrangeiras”.
>>> Brasil: Mais clássicos de ficção científica para os leitores
brasileiros
A editora Aleph, que tem se especializado no gênero, promete para abril a
chegada de O planeta dos macacos, de Pierre Boule; e para breve, Solaris, clássico da ficção científica escrito em 1961 pelo polonês
Stanislaw Lem. Dois livros há muito fora de catálogo por aqui. Tanto a obra de
Boule e a de Lem já são conhecidas do grande público pela variada quantidade de
releituras pelo cinema.
Quinta-feira, 19/02
>>> Estados Unidos: Pastoral americana, de Philip Roth vai ser
adaptado ao cinema
Por Ewan McGregor. Ainda sem data de estreia; o que se sabe é que as filmagens
começam a partir de setembro, em Pittsburg. Definido como um estilo impetuoso e
desbocado, o romance de Roth narra os esforços de Seymour Levov para manter de
pé um paraíso feito de enganos. Filho de imigrantes judeus que deram duro para
subir na vida, Seymour tenta em vão comunicar um legado moral à terceira
geração da família Levov. Esmagado entre duas épocas que não se entendem e
desejam destruir-se mutuamente, Seymour se apega até o fim a crenças que se
mostram cada vez mais irreais. A força de sua obstinação em defesa de uma causa
perdida lhe confere um caráter ao mesmo tempo de heroísmo e desatino.
>>> Brasil: Coletânea reúne raridades da poesia de Hilda Hilst
Há poucos meses, a Editora Globo apresentou uma edição reunindo os textos mais
escrachados da escritora: Pornô Chic. No trabalho de reedição da
obra de Hilda, traz agora aos leitores o volume Do Desejo; a
coletânea organizada por Alcir Pécora inclui o raro Alcoólicas,
publicado pela primeira vez há catorze anos e outros seis títulos: Sobre
a tua grande face (1986), Amavisse (1989), Via
espessa (1989), Via vazia (1989), Da noite (1992)
e Do Desejo (1992), que dá nome ao volume. Disposta em seqüência não-cronológica,
a reunião desses livros, sugerida pela própria autora, permite novas
interpretações na leitura do conjunto. Para breve, a editora promete O
caderno rosa de Lori Lamby.
>>> Estados Unidos: Os 80 anos da Penguin Books e uma comemoração inusitada
Desde sua inauguração, em 1935, a Penguin Books se ocupou de levar literatura
de qualidade ao maior número de leitores. Adotou para isso a política do bom
preço; o objetivo, segundo seu fundador, Allen Lane, era oferecer um livro pelo
valor de carteira de cigarros. E é com esse espírito que apresenta a
comemoração pelos 80 anos de mercado: edita 80 clássicos ao módico preço de 80
centavos de dólar (algo próximo a 2 reais). A coleção, além do jogo de
numerologia (80 anos = 80 livros = 80 centavos) tem uma característica que faz
dela um atrativo: os títulos selecionados representam de algum forma uma
atitude de introdução às obras de autores clássicos que não são exploradas como
comum pelo mercado editorial. Exemplo? The Beautiful Cassandra, de Jane
Austen. A editora montou um pequeno site onde se pode explorar os 80 títulos da
coleção Little Black Classics numa espécie de roleta com pinguim - o símbolo da
editora. O espaço reúne, além de informações, citações das obras selecionadas.
>>> Brasil: Mário de Andrade frustrado pela Ditadura
É um dos adendos do livro Mário de Andrade: eu sou trezentos – vida e obra,
do professor da UFRJ Eduardo Jardim. Em 1935, o escritor foi chamado para
assumir o Departamento de Cultura de São Paulo e seu projeto era centrado
na ideia de expansão cultural. "Ele queria promover a difusão da cultura
erudita para as mais diversas camadas sociais, criou bibliotecas ambulantes e
exposições no viaduto do chá", disse Jardim. Mas, com a chegada de Getúlio
Vargas ao poder e a implementação do Estado Novo (1937-1945), a iniciativa não
foi concretizada. O sonho interrompido levou o modernista a um período de
frustração. Para Jardim "há uma diferença grande no que se conta sobre
Mário de Andrade, sobre essa imagem de um autor triunfante e a realidade da
vida dele, que é de alguém que viveu um projeto de inclusão interrompido e que
foi cortado por perspectiva autoritária, isso é impressionante”. O livro é
apresentado na ocasião em que o país se reúne para celebrar os 70 anos de um
dos nomes mais importantes da cultura brasileira.
Sexta-feira, 20/02
>>> Estados Unidos:Os 90 anos da revista The New York e uma
comemoração a altura
Era 21 de fevereiro de 1925. As bancas de jornais nos Estados Unidos recebiam o
primeiro número da revista The New Yorker. Reportagens, ensaios, poesia,
comentários, política, cartoons, tudo isto e muito mais estava à venda por 15
centavos. 90 anos depois, o periódico já não custa 15 cêntimos nem se vende só
em papel, mas as edições continuam fiel à edição matriz. A celebração por tão
longo tempo é celebrada com nove capas diferentes inspiradas na capa da
primeira edição. As nove capas recriam o personagem Eustace Tilley; criado pelo
editor de arte Rea Irvin em 1925, e que deste então tem sido presença habitual
na publicação, Eustace é agora trazido diretamente para o século XXI. Veja as capas diferentes aqui,
>>> Alemanha: Um regresso à arte de fazer livros
Benjamin Harff quando estudante de arte decidiu fazer para o exame da Academia
de Artes algo apenas um pouco ambicioso: a mão, desenhar toda obra O
Silmarillion, de J. R. R. Tolkien e produzir uma edição única seguindo o
padrão clássico de ilustrações do século XVIII. Gastou seis meses de trabalho. No Tumblr do Letras reunimos mais imagens da edição.
>>> Brasil: Há ainda um Ferreira Gullar por vir?
Poeta de formas saturadas - terá lido a crítica mais recente
sobre a publicação do seu Em alguma parte alguma. Em 2014, o poeta
apresentou uma antologia que reúne quase duas centenas de seus poemas
prediletos. Para este ano, deve sair uma “autobiografia poética”, uma
compilação de ensaios escritos ao longo de anos e um caderno de fotos do poeta.
Também sairá ainda neste ano uma reedição de Formigueiro, poema de 1955, mais
uma compilação de textos inéditos sobre arte.
>>> Brasil: Novo título reúne contística de Isaac Bábel
Autor da prosa mais intensa e original da Rússia
pós-revolucionária, Bábel tornou-se conhecido mundialmente a partir da
publicação dos contos de O exército de cavalaria, em 1926. Figura
enigmática, seu enorme prestígio junto às autoridades do regime soviético não o
pôs a salvo da perseguição stalinista: preso em 1939 sob a acusação de
"atividades antissoviéticas e espionagem", foi sumariamente fuzilado
em janeiro do ano seguinte. O volume No campo da honra e outros
contos, organizado e traduzido por Nivaldo dos Santos, e prefaciado por
Boris Schnaiderman, traz narrativas de todas as fases de sua carreira: desde o
primeiro conto publicado, em 1913, até o último, intitulado "O
julgamento", de 1938. Aqui estão presentes os principais temas de sua
obra: relatos da infância vivida na Moldavanka, o bairro judeu de Odessa,
histórias de sua juventude aventureira e contos surpreendentes que têm a guerra
como pano de fundo.Dotado de imaginação exuberante e da capacidade de aferir o
peso de cada palavra na distribuição justa da frase, a escrita de Bábel parece
ter encontrado uma fórmula secreta, incomparável, na qual - nas palavras de
Jorge Luis Borges - "a música do estilo contrasta com a quase inefável
brutalidade de certas cenas". A edição é da Editora 34.
>>> Estados Unidos: Homens bonitos (que leem)
Perfil no Instagram reúne fotos de homens bonitos lendo no
metrô de Nova York. A ideia é de um usuário do Instagram que teve a ideia de
fotografar homens bonitos lendo no metrô da cidade. A conta - @hotdudesreading (algo como 'homens bonitos lendo') - existe há menos de suas semanas, mas já
tem feito subir o calor de muita gente. Segundo o autor da página, não entra na
brincadeira quem estiver lendo e-books. Só os impressos são permitidos. A
página no Facebook que replica as principais imagens no Instagram já conta com
mais de 4 mil seguidores. (A imagem que ilustra o BO desta semana veio de lá)
..........................
Comentários