Boletim Letras 360º #101
Fernando Pessoa e suas opiniões políticas. Livro reúne textos inéditos do poeta português e sua visão sobre o fascismo e a ditadura militar. |
Como
atravessaremos os dias carregados de zum-zum do Carnaval? Sempre cuidamos de
uma programação temática nas redes sociais; pode ser que em 2015 também isso
aconteça. Mas, o bloco Loucos por Leitura já começou desde cedo a dizer que
estamos distante da folia para foliar em casa. E, esses foliões que por aqui
passam não podem ficar sem ler o nosso boletim depois da travessia – outra – a da
primeira centena de postagens do gênero aqui no blog.
Segunda-feira,
09/02
>>> Brasil: Novos
títulos de Pepetela
Tem seu tempo que a Editora LeYa tem se dedicado a trazer para os leitores
brasileiros a obra de Pepetela. Por aqui circulam títulos como A sul, o
sombreiro, O planalto e a estepe, O tímido e as mulheres, entre outros. Em
2015, esse trabalho continua à pleno vapor. Chega por esses dias nas livrarias Lueji, o nascimento de um império. O romance é formado por duas estórias
cruzadas de duas mulheres separadas por quatro séculos da história e unidas na
afirmação das suas personalidades onde a componente cultural joga um papel
preponderante, catalisador. A obra traz um prefácio assinado pela pesquisadora
Rita Chaves.
>>> Brasil: Edições
raras de Maurício de Souza ganham tiragem especial
Itens de colecionador, os primeiros álbuns de Mauricio de Sousa, publicados em
1965 pela FTD, serão reunidos num único volume pela WMF Martins Fontes. Com
lançamento marcado para a Bienal do Rio, em setembro, às vésperas do
aniversário de 80 anos do cartunista, o volume trará 'O Astronauta no Planeta
dos Homens Sorvete', 'A Caixa da Bondade' e 'Piteco'. Naquela época, as
histórias não eram contadas em tiras, mas em grandes painéis. Uma entrevista
inédita completa a obra de 208 páginas e capa dura. Uma boa oportunidade para
ver os primeiros passos de personagens célebres como Hiro, Chico Bento (imagem)
e Penadinho, e para conhecer outros deixados de lado, como Niquito. (Via Babel)
Terça-feira,
10/02
Portugal: Fernando
Pessoa e o fascismo
"Seguimos o princípio contrário ao do tio Mussolini e ao do abade Lenine.
Desoprimir! Tornar os outros diferentes do que nós queremos! Ensinar cada homem
a pensar pela sua cabeça e a existir com a sua existência — só com a sua
existência." Escreve Fernando Pessoa sobre o conturbado período da
história de crescimento da sombra negra do fascismo. Mas qual era, afinal, o
posicionamento político do poeta português? Esta é uma pergunta que o
historiador e sociólogo José Barreto busca responder ao organizar Fernando Pessoa: sobre o fascismo, a ditadura militar e Salazar,
novo título que integra a Coleção Pessoa publicada pela editora Tinta da China.
Dirigida por Jerónimo Pizarro, a coleção tem dado à luz a diversos textos
inéditos de Fernando Pessoa. Metade dos textos, por exemplo, que compõem o
volume ora publicado é desconhecido do público.
>>> França: Quando o
escritor vai ao cinema, não como espectador
2015 tem sido o ano de Michel Houellebecq por toda a polêmica causada pelo novo
romance (veja nossa post no link abaixo); mas, em 2014, enquanto escrevia Soumission, dois filmes que tem o escritor como intérprete tiveram
estreia em alguns dos festivais mundiais: O Rapto de Michel Houellebecq e Experiência de Quase Morte, dois filmes protagonizados pelo enfant terrible
da literatura francesa que começa agora a ser distribuído. O primeiro filme tem
sua história baseada no desaparecimento do escritor em 2011, durante a promoção
do livro O Mapa e o Território. Aqui, Houellebecq é raptado por um
trio de amadores que o levam para uma casa de campo na província francesa. Aí,
raptado e raptores travam conversas entre o absurdo e o hilariante. O filme
estreou no Festival de Cinema de Berlim e depois foi premiado no Festival de
Tribeca. Já em Experiência de Quase Morte, da dupla Benoît Delépine e Gustave
Kervern, Michel Houellebecq interpreta a personagem Paul, um operador de call
center à beira de um esgotamento e com tendências suicidas. O filme estreou no
Festival de Veneza em 2014. O Letras publicou uma entrevista exclusiva com o escritor francês e um texto sobre o romance que o tem levado às páginas da polêmica em França - aqui.
Quarta-feira,
12/02
>>> Estados Unidos: Ainda sobre
a censura: Dezenas de escritores afro-americanos foram monitorados, durante
décadas, pelo FBI
A descoberta foi feita a partir da análise de documentos — até então
confidenciais — produzidos pela organização policial entre as décadas de 30 e
70, período em que o FBI foi chefiado por John Edgar Hoover. Os documentos, que
juntos somam mais de 1,8 mil páginas, detalhavam as atividades de mais de 50
autores e criticavam as suas obras. O acadêmico William Maxwell, responsável
pela descoberta, afirmou que Hoover comandou os monitoramentos impulsionado
pela sua crença de que literatura poderia incentivar movimentos de esquerda e
protestos promovidos por afro-americanos. EM FB eyes: How J Edgar
Hoover’s ghostreaders framed African American literature, William Maxwell
argumenta ainda que Hoover tinha um "fascínio pela cultura negra" e
que o "FBI é, talvez, a mais dedicada e influente (organização) crítica à
literatura afro-americana".
>>>Brasil: Antologia
dos poemas mais emblemáticos do poeta Manoel de Barros publicados ao longo de
setenta anos
O esforço é da Editora Alfaguara que, como já dissemos aqui, passa a editar a
partir de 2015 a obra Manoel de Barros. Meu quintal é maior do que o
mundo recolhe poemas publicados por Manoel de Barros ao longo de sua
carreira literária.
>>> Portugal: Exposição assinala o novo romance do brasileiro
O irmão alemão é o primeiro título a ser publicado na expansão anunciada pela Companhia das Letras,
que passa a editar escritores brasileiros em terras de Portugal. Depois, é o
motivo para uma exposição que tem lugar na sede da Fundação José Saramago.
Organizada pela Companhia das Letras/ Penguin Random House e pela Fundação a
mostra é composta por dez elementos relacionados à construção do livro em
questão; a construção do texto ficcional de 'O irmão alemão' é dada pela busca
real do autor pelo irmão.
>>> Brasil: Sudário fecha trilogia do irlandês John Banville
Axel Vander é um acadêmico europeu conhecido internacionalmente. Um dia recebe
uma carta de uma jovem que deseja conversar sobre a sua obra. Os dois decidem
marcar um encontro em Turim. Dono de um passado nebuloso, Vander se vê inquieto
diante do convite, pois essa pesquisadora, Catherine Cleave, pode ter
encontrado evidências de que ele, na verdade, é um impostor. Catherine é filha
do ator Alexander Cleave, protagonista do romance Eclipse. Banville
se inspirou na história do teórico literário Paul de Man (1919-1983). Professor
na universidade de Yale, Man se tornou um teórico conhecido internacionalmente.
Em 1984, descobriu-se que Man escreveu artigos antissemitas para um jornal
colaboracionista durante a ocupação alemã na Bélgica. Diferente de Man, Vander
corre o risco de ser exposto em vida. Ao se apropriar dessa história em Sudário, Banville a torna ainda mais complexa: Vander seria um
homem que assumiu a identidade de um amigo morto em circunstâncias misteriosas.
Assim ele deixa a Europa, após a Segunda Guerra Mundial e segue para a América,
onde constrói sua bem-sucedida carreira acadêmica. O título do livro é uma
referência ao Santo Sudário, mantido na Catedral de Turim. Assim como Vander, a
relíquia é um objeto de veneração, mas não é autêntico. A trilogia é formada
por, além de Eclipse e Sudário, Luz antiga.
Quinta-feira,
12/02
>>>Brasil: As raridades
da Biblioteca Nacional disponíveis on-line
O que membros da corte brasileira comeram durante o último baile do Império na
Ilha Fiscal? Como era a planta de um navio negreiro que transportava escravos?
Essas são algumas raridades guardadas na divisão de obras raras da Fundação
Biblioteca Nacional (FBN). O pouca gente sabe é que muitas delas estão
disponíveis online. A divisão foi criada em meados do século 20, por decreto presidencial,
a partir de uma seleção do acervo geral da FBN. Embora não haja número exato de
obras, calcula-se que são tantos títulos nessa seção que eles ocupariam uma
estante linear de 2,1 km. O exemplar mais antigo foi doado por uma família no
século 19. Trata-se de um manuscrito do século 11 com os quatro Evangelhos
(Matheus, Lucas, João e Marcos).
>>> Brasil: Uma vez
clássico sempre clássico
A Ateliê Editorial em parceria com a Unicamp continua a ampliar o catálogo de
clássicos indispensáveis à literatura ocidental. Agora apresenta uma luxuosa
edição de Cancioneiro de Petrarca, o poeta considerado o precursor
da poesia lírica amorosa. A edição bilíngue (português-italiano) é recheada com
ilustrações de Enio Squeff.
Sexta-feira,
13/02
>>> Brasil: Livrarias
recebem clássico de Daniel Defoe
Em uma
Londres de meados do século XVIII que começa a ter ares cosmopolitas, Moll
Flanders, a personagem-título da qual só conhecemos o pseudônimo, vaga por ruas
e avenidas que compõem um cenário bastante movediço, em meio a transações
comerciais que parecem inaugurar uma nova era. Escrita em 1722 por Daniel Dafoe
– autor de Robinson Crusoé, publicado três anos antes, e
considerado o criador do romance inglês –, a obra se apresenta como
autobiografia, datada de 1683, de uma mulher que teria vivido 69 anos, e que é
tida como a primeira protagonista de classe baixa na história da literatura
inglesa. A edição é da Cosac
Naify com tradução de Donaldson e textos de nomes como Cesare Pavese e
Virginia Woolf.
>>> Brasil: Uma edição
para Carmen
A fama a precede, e ela é a primeira a sabê-lo. Tão logo entra em cena, a moça
pergunta: "Já ouviu falar de Carmencita?". E a verdade é que todos
nós já ouvimos falar da bela boêmia muito antes de conhecê-la - ou, mais
precisamente, muito antes de conhecê-la sob os traços que lhe emprestou Prosper
Mérimée em Carmen, novela publicada em outubro de 1845 na Revue des
Deux Mondes. De fato, a cigana não demorou a passar das páginas aos palcos e
destes às telas. Primeiro veio a ópera do compositor Georges Bizet: Carmen logo se converteu numa das óperas mais encenadas do
repertório lírico, contando com Friedrich Nietzsche e Otto von Bismarck entre
seus admiradores. Depois foi a vez do cinema, com inúmeras adaptações, assinadas
pelos diretores mais diversos, de Chaplin e Lubitsch a Saura e Godard. Nesse
trânsito da literatura à ópera e ao cinema, a personagem foi se descolando do
original impresso para seguir carreira própria, com notório sucesso. A Editora
34 privilegia os leitores brasileiros a encontrar-se com uma personagem que já
nasceu clássica.
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