Contos da montanha, de Miguel Torga
Por Pedro Belo Clara O livro que agora se abre diante do nosso olhar surgiu naquele que, por certo, terá sido um dos mais conturbados períodos da vida do profícuo autor que o criou. Ora, em finais de 1939, com base num conjunto de críticas de índole política por si proferidas, Miguel Torga é encarcerado por ordem da (repressiva) polícia então vigente. A sua estadia durou três meses, rendendo-lhe poemas de intensa melancolia sobre o caso. Era o pleno auge do regime ditatorial português. Algum tempo depois, já em 1941, a obra que hoje discutimos é enfim publicada para, breves momentos depois, ser apreendida pela polícia política. A surpresa foi tal que o próprio Vitorino Nemésio, numa carta solidária dirigida a Torga, não conseguiu esconder o seu assombro por uma decisão de índole «tão estranha e arbitrária». Não custa, portanto, compreender porque Miguel Torga designou este trabalho de «livro atribulado». Na verdade, o mesmo (que inicialmente apenas ostentava a epígr