Um inferno repleto de livros: O irmão alemão, de Chico Buarque
Por Alfredo Monte Boa parte do impacto da leitura de O irmão alemão reside — a meu ver — menos no aproveitamento ficcional de uma contingência biográfica, a existência do meio-irmão do título (e seus desdobramentos na vida do narrador), e mais na exploração (física e simbólica) do espaço da biblioteca da família Hollander: “E quando não havia ninguém por perto, eu passava horas a andar de lado rente às estantes, sentia certo prazer em roçar a espinha de livro em livro. Também gostava de esfregar as bochechas nas lombadas de couro de uma coleção que, mais tarde, quando já me batiam no peito, identifiquei como os Sermões do Padre Antônio Vieira (...) Até os nove, dez, onze anos, até o nível da quarta ou quinta prateleira, durante toda a minha infância mantivesse essa ligação sensual com os livros.” Nessa casa tomada (“Até então, para mim, paredes eram feitas de livros, sem o seu suporto desabariam casas como a minha, que até no banheiro e na cozinha tinha estantes do te