O palco do acaso: “A trilogia de Nova York”
Por Alfredo Monte Em Fantasmas ( Ghosts ), um dos textos de A trilogia de Nova York ( The New York trilogy , 1986, tradução de Rubens Figueiredo, Companhia das Letras¹), aparece uma historieta, quase uma vinheta, das muitas que entremeiam a trama geral, a respeito de um sujeito chamado Gray que desaparecera. Contratado pela esposa de Gray, Blue (personagem principal da narrativa) descobre que ele perdeu a memória e passou a se chamar Green, tornando-se um barman (era engenheiro). Bem, Green não só se sente confortável por não rememorar sua existência anterior, como chega a se casar com a antiga esposa, agora dentro da sua nova identidade e vida profissional. Essa problematização do valor da identidade, essa possibilidade perversa de permutação, perda ou desagregação de quem somos percorre todo o livro de Paul Auster. A esse preâmbulo se pode acrescentar frases tiradas do primeiro texto, Cidade de vidro ( City of glass ), verdadeiras chaves para entender o universo austeriano: