Postagens

Mostrando postagens de julho 11, 2014

Abril, no Rio, em 1970

Imagem
Por Rubem Fonseca Tudo começou quando o cara que sentou perto de mim na grama disse, olha só o cuspe do Gérson. Na hora eu não dei importância, eu tinha feito misérias para chegar até ali, mas a minha cabeça estava no jogo de domingo e eu não ligava as coisas umas com as outras. O jogo de domingo ia ser assistido pelo Jair da Rosa Pinto, técnico do Madureira, que já foi cracão do escrete, e uma coisa lá dentro me dizia, Zé, vai ser a chance da sua vida.  Eu disse pra minha garota, que era datilógrafa da firma, não fico de contínuo nem mais um mês, disse também que o Jair da Rosa Pinto ia me ver no domingo, mas mulher é um bicho gozado, ela nem deu bola. Me larga, deixa eu te contar. Levantei da cama, expliquei, porra, se eu jogar bem e o Jair da Rosa Pinto me levar para o Madureira, estou feito, ninguém me segura, mas ela me puxou de novo pra cama e foi aquela loucura, minha garota é fogo. O cara se chamava Braguinha. Olha o cuspe do Gérson, ele disse, no segu

Dois tipos de atitude perante a angústia: Bernardo Soares x Jean-Paul Sartre

Imagem
Por Rafael Kafka             Dia desses estava escrevendo algo em meu diário que decidi parafrasear e transformar em meu texto da semana. Confesso que isso se deve muito à falta de inspiração, pois estou há mais de duas horas tentando produzir um texto e não consigo... Mas desabafos à parte, vamos ao que interessa. Nesse dia que cito acima, escrevi em meu diário a diferença entre uma mente metafísica e uma mente com perspectiva existencial. Inspirei-me para falar sobre isso muito provavelmente no Livro do desassossego , de Fernando Pessoa, cuja autoria é dada a Bernardo Soares, um dos muitos heterônimos do poeta português. O livro citado é de difícil classificação: parece demais com um diário pessoal, tendo passagens de pura narração ao mesmo tempo em que possui excertos de uma filosofia profundamente existencial e estoica e alguns momentos de um arroubo sentimental maior causado principalmente pela desesperança perante o ato de existir. O próprio autor, Bernardo, rotula