Campeões
Por Ferreira Gullar © Márcio Petini Não sei quem terá escapado à atmosfera de alegria e pânico em que o Rio mergulhou nestas últimas semanas com os últimos jogos da Copa do Mundo. Sem saber como nem porque, vi-me de repente de ouvido grudado ao rádio, submetido a uma tortura diabólica: era como se cargas de eletricidade (ou o que fosse) me entrassem pelo ouvido numa frequência poderosa e instável que ora me fazia suar frio ora estremecer de expectativa e apreensão. Vejo-me agora, de longe. Prometeu doméstico com um abutre a me devorar pelo ouvido. Eu mesmo ligara o aparelho de tontura, eu mesmo cuidava dele regulando cuidadosamente o volume e a clareza do som, e se qualquer coisa interceptava a transmissão e de deixava livre por um segundo, tinha ímpetos de arrebentar o rádio, porque eu queria ser torturado! Vivia o drama de quase 60 milhões de expectativa e apreensão. Vejo-me agora, de longe. Prometeu do Brasil. Confesso que há muitos anos o