Boletim Letras 360º #90
Neal Cassady e Jack Kerouac. Ao acaso, como tem de ser, uma carta de Neal a Kerouac, tida com a precursora de On the road e dada como perdida pelo relapso Allen Ginsberg, foi encontrada agora, 60 anos depois. Mais detalhes ao longo deste Boletim. |
2015 parece estar com certa pressa para chegar. Sim, porque o mês de novembro correu num piscar de olhos. Para assinalar esse fim repentino de novembro, deixamos mais uma promoção daquelas que somente esse blog é capaz de fazer: depois de dois exemplares do romance O irmão alemão, de Chico Buarque, teremos a honra de presentear um leitor com a recente luxuosa edição de Antologia poética, de Murilo Mendes, o poeta que ganha uma repaginada na sua obra pelas mãos primorosas da Cosac Naify. Imperdível, não? Tanto quanto saber das notícias que marcaram a semana na página do Letras no Facebook.
Segunda-feira, 24/11
>>> Espanha: Novas buscas aos restos mortais de Federico García Lorca
“Chamei Manolo Martínez Bueso para que vigiasse e presenciasse a
execução... Depois, Manolo me disse que Federico estava de pijama e que havia
sido morto no campo de instrução das tropas, à direita da estrada... Disse-me
os que enterraram Federico que ele era o segundo a contar da esquerda”.
Isso foi o que respondeu José María Nestares, comandante militar da frente de
Víznar (Granada) quando em 1969 o investigador Eduardo Molina Fajardo lhe
perguntou onde haviam enterrado o poeta, fuzilado na madrugada de 17 de agosto
de 1936. Este e outros 48 testemunhos recolhidos no livro Los últimos días de
García Lorca tem lavado uma dezena de pesquisadores a voltar com as buscas pela
sepultura do poeta espanhol. Depois das investigações de 2009 falharem, outro
projeto iniciou-se agora em 2014, com bem menos ambição, mas ainda o mesmo
interesse em saber dos restos mortais de Lorca.
>>> Portugal: José Saramago em HQ
O livro A viagem do elefante foi adaptado por João Amaral. O autor
demorou mais de dois anos a passar o texto de Saramago para o formato dos
quadrinhos, e o que mais lhe agradou na obra foi a construção das personagens e
o fato de se abordar a condição humana. José Saramago, que publicou a obra em 2008, entra na história desenhada por Amaral como o
narrador da viagem do elefante Salomão. O livro de Saramago inspira-se num
episódio histórico, do século XVI, de um elefante asiático oferecido por D.
João III ao arquiduque da Áustria Maximiliano II, que fez a viagem de Lisboa
até Viena. Aqui, no Letras resenhamos o livro.
Terça-feira, 25/11
>>> Brasil: Augusto dos Anjos, o poeta de Eu
O centenário de morte do poeta brasileiro é assinalado pelo selo BMA edições,
da Biblioteca Mário de Andrade, com uma edição exclusiva fac-similar da
primeira edição do único livro publicado por Augusto dos Anjos, Eu.
Publicada em 1912, o volume vem com as marcas de correções feitas à mão pelo
poeta e pelo irmão. A obra deve sair em dezembro próximo.
>>> Brasil: Uma leva de títulos alemães em solo brasileiro
Mais uma editora é apresentada: Mundaréu. E chega com os títulos Um ano
sobre o altiplano, de Emilio Lussu, e Memórias de um oficial de
infantaria, de Siegfried Sasson. Até o fim do mês serão publicados
O súdito, de Heinrich Mann, e Marcha de Radetzky, de
Joseph Roth. Todos esses títulos integram a coleção Linha do Tempo, cujo foco
inicial é a Primeira Guerra Mundial. Fundada pela advogada Silvia Naschenveng e
pelo professor de filosofia Tiago Tranjan, a linha editorial, neste primeiro
momento, centra-se na literatura europeia – especialmente a de língua alemã –
da primeira metade do século 20 e filosofia. Para 2015, estão previstos, entre
outros, O fogo, de Henri Barbusse e Uma juventude na Alemanha,
de Ernst Toller.
>>> Brasil: Universo Graciliano em DVD
“Jorge Amado escreveu das mais belas páginas da literatura brasileira, mas
escreveu muita porcaria também. Enquanto eu sofro para escrever 17 páginas, ele
produz 170, como quem mija”, diz em certo Graciliano Ramos. A declaração é peça
do documentário (sobre o qual já havíamos comentado por aqui) cuja estreia se
passou no último dia 22. O universo Graciliano de Silvio Back faz
um percurso pela vida do escritor de clássicos como Vidas secas a
partir do depoimento de uma leva de figuras que conheceram e/ou conviveram com
ele. Para breve o filme ganhará uma versão em DVD.
Quarta-feira, 26/11
>>> Colômbia: O arquivo pessoal de Gabriel García Márquez em mãos dos Estados Unidos
Pela Universidade do Texas, em Austin, que comprou todo material que agora é
transportado para aquele país. A negociação vinha já desde fim de 2013, quando
o escritor ainda estava vivo. No espólio, manuscritos originais de uma
dezena de livros como Cem anos de solidão, O amor nos tempos
do cólera ou Memória de minhas putas tristes, além de mais de
duas mil cartas, rascunhos de seu discurso de recebimento do Prêmio Nobel de
Literatura em 1982, quatro dezenas de álbuns de fotografias, as máquinas de
escrever, entre outros.
>>> França: Uma carta inédita do escritor Albert Camus ao filósofo Jean-Paul Sartre
foi encontrada recentemente
A missiva confirma a relação amistosa entre os dois intelectuais poucos meses
antes da ruptura em 1952, depois da publicação do ensaio O homem
revoltado de Camus, obra que Sartre rejeitou de maneira taxativa. No
texto, Camus recomenda a Sartre a atriz "Aminda Valls, amiga de María
(Casares, famosa atriz, que foi amante de Camus) e minha, republicana
espanhola, que é uma maravilha de humanidade". No início de 1951, Sartre
preparava o lançamento da peça O diabo e o bom deus. Na montagem,
María Casares teve o papel de Hilda, mas Aminda Valls não fez parte do elenco.
A carta havia sido comprada por um colecionador de autógrafos nos anos 70; não
tem data, mas, levando em consideração alguns eventos mencionados, especula-se
que tenha sido escrita em março ou abril de 1951. O homem revoltado foi publicado seis meses depois do envio da carta e de então vem o rompimento
da amizade entre os dois.
>>> Brasil: Listas, listas e listas
Uma visita às livrarias já suficiente para colocar os leitores diante das
chamadas listas de indispensáveis. Modismo corrente, as duas mais famosas
talvez sejam 1001 livros para ler antes de morrer e 501
grandes escritores (Editora Sextante), além de 100 autores que você
precisa ler (L&PM) e Por que ler os contemporâneos (Dublinense).
Agora, deve vir a lume 100 poetas que você precisa ler. Organizado
pelos professores Léa Masina, que trabalhou também na organização dos outros
dois últimos títulos, e Ricardo Barberena, o livro sai pela L&PM. Os
verbetes foram escritos por professores universitários, jornalistas,
psicanalistas, escritores e editores, e trazem uma breve biografia dos poetas,
um texto crítico sobre sua produção, além de indicação de leitura. Entre os
selecionados, clássicos como Virgílio, Petrarca e contemporâneos como Ana
Cristina Cesar e Wislawa Szymborska.
Quinta-feira, 27/11/14
>>> Itália: Um/a escritor/a misterioso/a
Assina-se com Elena Ferrante, mas não se sabe se é homem ou mulher.
Apresenta-se, assim, como um anônimo. E no Brasil ainda não se leu nada do/a
autor/a. Muito recente foi apontado/a pelo jornal The New York Times como um/a dos/as grandes escritores/as contemporâneas e coleciona elogios de
nomes como o inglês James Wood, um dos críticos literários mais importantes da
atualidade, e da escritora britânica Jhumpa Lahiri. Em 2015, a Globo Livros
através do selo Biblioteca Azul lançará no país a tradução de L'Amica
Geniale. A previsão é para o final do primeiro semestre. A obra inaugura
uma série de quatro volumes que cobre mais de cinco décadas da amizade entre
Lila Cerullo e Elena Greco, as principais personagens da saga, na qual o/a
autor/a lida com questões políticas de seu país, principalmente da região de
Nápoles, dominada pela máfia.
>>> Inglaterra: Morreu P. D. James
A escritora de romances policiais britânica P. D. James, que levou personagens
modernos e realísticos para a clássica história de detetives, morreu aos 94
anos. Seus livros venderam milhões de cópias em muitos países, e boa parte
deles era tão popular no papel quanto nas adaptações para TV e cinema. A
editora Faber and Faber afirma que ela morreu na sua casa em Oxford, sudeste da
Inglaterra. Por causa da qualidade e da estrutura cuidadosa de sua escrita,
assim como pelo seu elegante e intelectual detetive Adam Dalgliesh, ela era
vista primeiro como uma sucessora natural de escritoras como Dorothy L. Sayers,
da "Era Dourada" do romance policial no período entre-guerras.
>>> Brasil: Toda a obra de Rubem Fonseca ao alcance dos leitores
Havia cinco anos que a Nova Fronteira trabalhava na reedição da obra do escritor
brasileiro e, agora, ao fim deste mês coloca um ponto final no trabalho. São
publicados O buraco na parede, A confraria dos espadas e O romance morreu, todos com posfácio de Sergio Augusto. Foram 25
reedições e três títulos inéditos desde que a obra do autor passou da Companhia
das Letras para a editora em questão.
>>> Brasil: Beatriz Sarlo e o romance
A ensaísta publicou recentemente na Argentina um romance. Viagens
- Da Amazônia às Malvinas, será publicado no Brasil em edição digital
pela e-galáxia, com tradução de André Oliveira Lima, no primeiro semestre do
ano que vem. O livro faz um relato autobiográfico a partir de suas viagens de
juventude, nos anos 1960 e 1970, através da América Latina marcada por
revoluções. A edição da e-galaxia incluirá um álbum de fotos inéditas das
viagens relatadas no livro.
Sexta-feira, 28/11
>>> Estados Unidos: Encontrada a carta que pode ter sido a inspiração para a escrita de On
the road
Considerado a bíblia da Beat Generation, a obra de Jack Kerouac, como
terá afirmado algumas vezes o escritor, tem forte influência do jeito de
escrita de Neal Cassady: o estilo sem regras [“Tive a ideia do estilo
espontâneo de On The Road vendo como o bom e velho Neal Cassady escrevia suas
cartas para mim, em primeira pessoa, rapidamente, de forma louca, confessional,
completamente sério, cheia de detalhes e nomes reais”, disse Kerouac em
entrevista à revista The Paris Review, em 1968]. Trata-se de uma carta de 18
páginas escritas como se no ritmo de um fluxo de consciência depois do uso
elevado de anfetaminas e foi escrita a Kerouac pelo próprio Neal. Havia 60 anos
que o arquivo havia sido dado por perdido: Allen Ginsberg teria tido posse da
carta e perdido. Mas não: a carta foi encontrada pela filha de um dono de uma
gravadora que dividia escritório com a antiga editora Golden Goose Press, em São
Francisco.
>>> Brasil: Uma exposição para marcar os 100 anos de Cortázar
Tem lugar na Biblioteca Mário de Andrade, em São Paulo, a exposição
"Cortázar, 100 anos: raridades e un recuerdo". A mostra vai exibir
exemplares de edições raras e cinco fotografias de Colette Portal (como esta da
post). Além disso, os visitantes encontrarão trechos selecionados dos livros
como convites à leitura da obra do escritor argentino. A exposição reproduz os
ambientes ligados à obra de Cortázar, como a poltrona verde de veludo que faz parte
do conto "Continuidade dos parques", do livro Final de jogo. A
entrada é gratuita e a Biblioteca Mário de Andrade fica na Rua da Consolação. A
exposição é aberta a partir do dia 2 de dezembro.
>>> Brasil: Elena, para livro
O filme de Petra Costa sobre a morte da irmã, terá versão em livro a
sair pela Arquipélago Editorial. Com edição de Joca Terron e Michel Laub, o
volume inclui a íntegra do roteiro do documentário além de depoimentos, fotos e
textos sobre o filme por João Moreira Salles, Nicolau Sevcenko, Eliane Brum
entre outros. A edição chega às livrarias até o fim de dezembro. Em agosto de 2013 publicamos notas sobre o filme no Letras.
>>> Brasil: Vicente Van Gogh pelo traço delicado de Barbara Stok
A HQ foi vencedora do Prêmio Holandês de Melhor Autor em 2009. Ganha
edição no Brasil pela L&PM. E a partir dos desenhos de Barbara Stok para
Vincent, a banda holandesa de folk music, “Trio Bier”, montou um vídeo com a música chamada “Amsterdam Oude Wolf”, considerada pelo jornal Het
Parool como a melhor canção de todos os tempos sobre a capital holandesa.
>>> BrasiL: Grande sertão: veredas em HQ
A obra é publicada pela Globo Livros através do Selo Biblioteca Azul.
Uma edição de luxo com tiragem limitada e numerada de 7 mil exemplares. Com
roteiro do ilustrador, artista plástico e diretor de cinema Eloar Guazzeli, a
adaptação transpõe imagens e representações para os quadrinhos, dando à obra um
ritmo cinematográfico. Com experiência na adaptação de clássicos da nossa
literatura para os quadrinhos, Rodrigo Rosa não se limita a retratar as
paisagens do sertão, mas explora os seus contrastes. Do sol escaldante às
noites mal iluminadas, a natureza se torna um elemento narrativo, que compõe o
clima do romance gráfico.
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