Boletim Letras 360º #89
Fernando Pessoa para a dança. Que projeto é esse? Mais novidades ao longo deste boletim |
Chegamos a mais um fim de semana; hora de recordar as linhas da
existência da notícia que teimam em
existir. Devíamos , sim,
termos disposto on-line a nova promoção do blog, mas, perdão, os afazeres
foram tantos! Para a semana vindoura serão outros os dias. Estejam atentos!
Segunda-feira, 17/11
>>> Portugal: As cartas de amor de Fernando Pessoa
no teatro
O texto teatral “As
cartas ridículas do Sr. Fernando e os suspiros líricos da menina Ofélia” toma
por base a correspondência entre o poeta português e Ofélia Queiroz. Encenado
pela Companhia de Teatro do Algarve em
Portugal, a adaptação redescobre a faceta quase adolescente e pueril de uma
relação que precisamente não se tem notícias de sua plena realização. Além das
cartas de amor a adaptação se constitui de outros textos, de Pessoa e do
encenador Paulo Moreira. Aqui, no blog comentamos
sobre essa correspondência amorosa.
>>>
Brasil: Jean Echenoz entre os brasileiros
14 é o título do
romance mais recente de um dos mais respeitados nomes da literatura francesa
contemporânea. O livro foi grande sucesso de crítica e público quando lançado
em 2012: vendeu mais de 20 mil exemplares só na
primeira semana em que chegou às livrarias. O livro, composto por quinze
capítulos breves, aborda de forma original o tema da Primeira Guerra Mundial, a
partir das histórias individuais de cinco amigos, e uma mulher, que partem para
o front sem ter a menor ideia do que os
espera. Num estilo apurado, avesso a toda ênfase sentimental ou épica, Echenoz
revisita o conflito que definiu os rumos do século XX a partir da perspectiva
da gente comum, que se viu entregue à própria sorte, fosse para sobreviver à
longa matança, fosse para recomeçar a vida, um dia. A edição é da Editora 34
com tradução de Samuel Titan Jr.
Terça-feira,
18/11
>>>
Brasil: Dois títulos inéditos de Dyonelio Machado
Conhecido como autor
de um dos grandes e pioneiros romances sobre a vida urbana no Brasil, “Os
Ratos” (1935), Dyonelio Machado teve uma trajetória errática com grandes hiatos
na publicação de seus livros. Provavelmente o mais
longo deles é o do romance Proscritos,
escrito em 1964, que terá permanecido inédito até 2014. O livro é segundo
volume de uma trilogia iniciada com Endiabrados e
continuada com A terceira
vigília. Apenas o primeiro volume chegou a ser publicado pelo autor em
1980, duas décadas depois de escrito. Venceu o Jabuti de romance naquele ano,
mas foi desaparecendo das prateleiras sem reedição. Os dois volumes seguintes
foram deixados concluídos mas inéditos. Ainda não há planos definitivos para a
reedição do último capítulo da trilogia.
>>>
Brasil: As últimas crônicas de Carlos Drummond de
Andrade
No projeto de reedição
da obra do poeta brasileiro, a Companhia das
Letras colocou recentemente
nas livrarias Boca de luar,
livro que saiu em 1984, três anos antes da morte de Drummond. Reunindo textos aparecidos originalmente no Jornal do
Brasil, onde o autor publicaria sua última crônica naquele ano, Boca de luar apresenta um
Drummond em plena forma. Há desde crônicas que se enquadram nas convenções
deste gênero tão brasileiro, até ficções e causos escritos com mão levíssima e
imaginação.
Quarta-feira, 19/11
>>> Portugal: Conferência sobre a obra de José Saramago
Pedro Fernandes, editor do blog Letras
in.verso e re.verso, e do 7faces caderno-revista de poesia está em Portugal para, além de apresentar um novo
projeto sob sua coordenação, a Revista de Estudos Saramaguianos, ministrar uma conferência com o
título de “Primeiras variantes sobre o feminino na literatura de José Saramago
ou dizeres para um retrato com palavras”, na Universidade de Coimbra.
>>>
Brasil: Dostoiévski para o teatro
Trata-se de um
conjunto de três peças enfeixadas pelo título de “Karamázov” e as apresentações
têm lugar na Escola de Teatro de São Paulo até meados de dezembro. A primeira
peça não tem relação direta com Os
irmãos Karamázov, mas “Uma anedota suja” parte do conto “Uma história
lamentável, também do escritor russo. O romance que dá nome a trilogia é base
para as duas outras peças: “Os irmãos”, que é o cerne da trilogia, e “Os
meninos” que fecha o conjunto de peças. O diretor, Ruy Cortez, além de ter
feito escola na Rússia já tem no currículo outras adaptações da obra de
Dostoiévski: em 2006 como “Lázaro”, cujo roteiro tem por base o romance Crime e castigo. Informações
diretas no site.
>>>
Estados Unidos: Uma rede social para escritores (e leitores)
O idealizador do
espaço é Kelvin Araki. O nome do projeto, Scribe. A rede é pensada na
possibilidade de aproximar - nesse caótico mundo de produção escrita - autores
e leitores a partir do ambiente virtual. Pensado
a partir de espaços do gênero, através do Scrib é possível comentar, enviar
mensagens, mas com fazendo da web ferramenta simples e sem configurações
complexas que necessitem conhecimentos prévios. A plataforma foi lançada no mês
de junho e interessados podem se cadastrar através do link.
Quinta-feira,
20/11
>>>
Alemanha: Walter Benjamin e o rádio
Muitos romancistas e
poetas, de Oscar Wilde a Neil Gaiman, se destacaram por atingir tanto adultos
como crianças com seu trabalho, mas é extremamente raro encontrar um acadêmico
que tenha feito o mesmo. Duas das poucas
exceções que vêm à mente são sempre popular C. S. Lewis e J. R. R Tolkien,
ambos estudiosos de Oxford e mais-que-capazes autores infantis. Mas, agora
podemos acrescentar a essa lista curta um nome bastante inesperado: Walter
Benjamin. Sim, o teórico apocalíptico, marxista e crítico literário, estudante
do judaísmo místico e Kabbalah, mentor e amigo de Hannah Arendt, Theodor
Adorno, Bertolt Brecht, e Herman Hesse. Benjamin também apresentou-se para
crianças. E no rádio. Durante os anos de 1927 e 1933, enquanto trabalhava em
sua monumental e inacabada Passagens e
era professor na Universidade de Heidelberg, Benjamin manteve presença viva
numa emissora, onde apresentava um programa a “Teoria Crítica nos diz” sobre
vários temas e para todas as idades, mas o foco era mesmo crianças e
adolescentes. A “descoberta” está em “Radio Benjamin”, um livro que reúne
alguns dos seus pensamentos mais acessíveis. Fascinado pelo impacto das novas
tecnologias sobre a cultura Benjamin escreveu e apresentou algo em torno de
oitenta transmissões usando o novo meio comunicação. Entre 1929 e 1932, ele
entregou cerca de 30 transmissões que ele chamou de “O Iluminismo para
Crianças”.
>>>
Estados Unidos: Tom Hanks, o outro famoso que decide flertar
com as letras
James Franco, cf.
temos acompanhado, é o ator que mais tem estado em contato com a literatura.
Agora é o ator Tom Hanks que publica um livro de contos inspirando-se na sua
coleção de máquinas de escrever.
Recentemente, Hanks publicou um texto do gênero na The New Yorker. Em
2012, redigimos algumas notas sobre essa de atores famosos
dedicarem-se às letras. Você pode ler o texto de Hanks publicado em
The New Yorker (em
inglês).
Sexta-feira, 21/11
>>> Portugal: A nova edição de Blimunda
Quando José Saramago nasceu, a 16 de Novembro de 1922,
restavam a Fernando Pessoa apenas 13 anos de vida. Durante esse tempo
coexistiram, pode até ter acontecido coincidirem em algum momento em Lisboa,
mas dessa possibilidade não há registo. Em 1935, no dia 30 de Novembro,
Fernando Pessoa deixou de existir fisicamente e a partir daquele momento teve
início a construção da sua imortalidade literária. Para celebrar a existência e
genialidade destes dois grandes nomes da Literatura a Blimunda dedica-lhes
várias páginas da sua edição de Novembro. As homenagens começam já no
editorial, um texto de José Saramago sobre Fernando Pessoa. A revista visitou o
espólio do poeta na Biblioteca Nacional de Portugal e conversou com Jerónimo
Pizarro e Patrício Ferrari, dois investigadores pessoanos que vieram a Lisboa
atraídos pelo homem da múltiplas personalidade e que depois partiram para
disseminar a obra do português pelo mundo. Uma galeria de fotos do(s) Dia(s) do
Desassossego apresenta ao leitor a iniciativa levada a cabo pela Fundação José
Saramago e pela Casa Fernando Pessoa para homenagear os dois escritores. A
Blimunda publica ainda um texto de João Monteiro sobre a adaptação cinematográfica
de A Jangada de Pedra, um ensaio de António Sampaio da Nóvoa lido na
apresentação do romance Alabardas, alabardas, Espingardas, espingardas, e o
texto da obra teatral “Como assim Levantados do Chão”, de autoria de Miguel
Castro Caldas, um diálogo com a última frase do romance Levantado do Chão, de
José Saramago. Sara Figueiredo Costa apresenta três novos títulos em Banda Desenhada
que servem como termómetro para medir a temperatura dessa produção editorial em Portugal. Para
fechar o número 30 da publicação, Andreia Brites aborda os 15 anos do sucesso
de Harry Potter.
Leiam aqui.
>>> França: As aquarelas de Roland Barthes
“É sobre as mesmas folhas brancas, às vezes timbradas com o nome École des Hautes Études ou Collège de France ou simplesmente com o seu endereço residencial, que podem ser de diferentes tamanhos e que, de hábito, lhe servem para enviar uma correspondência ou anotar um compromisso ou redigir seus textos que, em algum momento dos anos de 1970, Barthes se põe a desenhar e a pintar” - assim observa Rodrigo Fontanari, doutor em Comunicação e Semiótica, num breve texto apresentado no blog da Editora WMF, a responsável de publicar a obra do teórico francês no Brasil, graças ao trabalho de Leyla-Perrone Moisés, que foi sua aluna em Paris. Grande parte dessas imagens tem servido às capas de suas edições. Em 1995, o Brasil recebeu uma exposição com esse trabalho de Barthes que hoje é parte do acervo pessoal do amigo Romaric Sulger Bue. No Tumblr do Letras duas galerias com algumas dessas aquarelas.
>>> Japão: Um centro de estudos sobre a obra de Haruki Murakami
A ideia foi consolidada pela Universidade de Tamkang, um instituição particular de Twain. O objetivo da cátedra é reunir discussões e pesquisas em torno da literatura de Murakami, incluindo o impacto de suas publicações na economia e na sociedade.
>>> Brasil: Editam-se Poemas negros, de Jorge de Lima
A obra foi lançada em 1947 com ilustrações do artista Lasar Segall e prefácio de Gilberto Freyre. A Cosac Naify recupera a primeira edição apresentando ao leitor 39 poemas marcados por envolvente musicalidade e apelo aos sentidos. Entre o engenho e o navio negreiro, Jorge de Lima apresenta a paisagem nordestina, as lavadeiras na lida, o ar “duro, gordo, oleoso” da madorna, sem deixar de lado a bisavó que “dançou uma valsa com D Pedro II”. Carregado de contrastes, este livro situa o poeta no debate sobre a produção literária de temática negra no Brasil e no mundo, conforme argumenta o posfácio de Vagner Camilo. A obra integra o projeto de reapresentação do escritor brasileiro. Até agora foi publicado Invenção de Orfeu, Antologia poética e o romance Calunga.
>>> Brasil: O boom dos policiais e o quase inédito de Agatha
Christie
Nunca o romance policial teve tanto respaldo nas livrarias nacionais: Agatha
Christie e Georges Simenon estão no auge. O Grupo Penguin começou a republicar
neste ano simultaneamente nos Estados Unidos, Inglaterra e Brasil – onde é
acionista da Companhia das Letras –, todos os 75 romances de Simenon
protagonizados por Maigret. Nos três países, o projeto gráfico é o mesmo, o do
brasileiro Alceu Chiesorin Nunes. Ao todo a Penguim comprou os mais de 400
romances (!) de diversos gêneros escritos por Simenon – parte sob pseudônimos.
Enquanto isso, a Globo Livros só este ano já colocou no mercado oito volumes de
uma só vez de Agatha Christie cf. já comentamos por aqui. Além de tudo já foi lançado mundialmente um romance inédito com Poirot, escrito
sob encomenda pela britânica Sophie Jordan, autora de oito thrillers
psicológicos publicados em mais de 20 países e adaptados para a televisão. Essa
foi a primeira vez que os herdeiros de Agatha permitiram a publicação de uma
nova história com seus personagens. No Brasil, a obra sairá pela Nova
Fronteira, que publica os romances de Christie desde 1969 e tem em seu catálogo
77 títulos. A editora já publicou também neste ano uma caixa com seis títulos,
em formato especial e capa dura. Além disso,a L&PM continua repaginando o
catálogo que já tem 60 títulos.
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