Boletim Letras 360º #77
Esta semana em que atravessamos do meio até o meio da semana seguinte como um intervalo de uma outra semana temos dedicado vozes para celebrar Julio Cortázar. Perceberão que este boletim situado no meio tempo é também cortazariano; não na forma, mas na presença constante do nome do escritor que tem sido notícia reiterada no universo da literatura. No Facebook, além de Cortázar, fechamos nossa promoção Ler para... E mais o que se lê a seguir:
Esta é uma edição fac-similar do manuscrito de Viagem ao fim da noite, de Celine. Saiba mais sobre no decorrer deste boletim. |
Segunda-feira,
18/08
>>> Brasil: Mais de
Ernest Hemingway por vir
Temos acompanhado por aqui desde a concepção a repaginada que a Bertrand Brasil
dá a obra do escritor estadunidense. Para os próximos meses, estão previstos: O
verão perigoso, Verdade ao amanhecer, A quinta-coluna e os ainda
inéditos pela editora O jardim do Éden, Tempo de viver e tempo de morrer e
mais três volumes de contos; edições que se somam aos nove volumes já
apresentados. O primeiro deles foi O velho e o mar; depois vieram Paris é
uma festa, Adeus às armas, Por quem os sinos dobram, O sol também se
levanta, Do outro lado do rio, Entre as árvores, Ter e não ter e As
ilhas da corrente. No total, serão 18 volumes.
>>> Brasil: A obra-prima
ignorada Honoré de Balzac
Balzac escreveu esta novela como encomenda recebida de uma revista literária
que buscava oferecer a seus leitores apenas algo que estivesse na moda. Ela se
tornou, no entanto, uma das mais marcantes do gênero. Misturando personagens
reais da história da arte a outros fictícios (mas em tudo verossímeis), Balzac
criou uma narrativa intensa, habitada pelas forças da vida sensível tanto
quanto pela especulação estética. Este volume inclui um ensaio de Teixeira Coelho preparado para esta edição e
que parte da novela de Balzac para penetrar no emaranhado de ideias sobre a
arte, o Romantismo e a vida, naquela época como agora, na literatura como em
outros domínios.
Terça-feira,
19/08
>>> França: Edição
fac-símile apresenta a letra de Viagem ao fim da noite, de Céline
Em 1943 Céline decidiu vender os 4Kg do manuscrito do seu primeiro romance;
levou-o num carro de mão até ao local onde se encontrou com Étienne Bignou e
então se desfez dele em troca de 10mil francos e um pequeno quadro de Renoir.
Mais tarde Bignou reclamou que faltava o último capítulo; Céline então copiou-o
à mão no verso do rascunho de Casse-Pipe. Depois, desapareceu completamente de
cena e nunca mais se falou dele até que subitamente, em 2001, o livreiro
parisiense Pierre Berès anunciou ter sido contatado por um colecionador inglês
que tinha consigo um maço de largas centenas de páginas encabeçado por uma
folha onde se lia: “Voyage au bout de la nuit. Seul manuscrit. LF Céline
98 Rue Lepic”. Dos 55 anos que decorreram entre a venda e o reaparecimento do manuscrito nunca
se soube grande coisa; entretanto, um leilão extraordinariamente concorrido
acabou com a Biblioteca Nacional de França a exercer o seu direito de
preferência por 1,67 milhões de euros (um recorde absoluto ultrapassado meses
depois pelo manuscrito de On the Road, de Jack Kerouac) e a guardar o
manuscrito num cofre do qual saiu muito excepcionalmente para consulta de
escassos investigadores. Agora a obra-prima de Céline chega às lojas tal como se tivesse acabado de ser
escrita: na caligrafia original do escritor, letra por letra, em folhas
quadriculadas ou nas costas de impressos do dispensário de Bezons, onde então
trabalhava como médico. A edição fac-similada, de tiragem limitada a mil
exemplares, é uma iniciativa das edições Les Saints-Pères, especializadas na
publicação de manuscritos originais (que já publicou títulos como La belle et
la bête, de Jean Cocteau; L'écume des jours, de Boris Vian; Hygiène de
l'assassin, de Amélie Nothomb; e Le Mépris, o argumento original de Jean-Luc
Godard)
Quarta-feira,
20/08
>>> Portugal: Mais uma
face de Fernando Pessoa - a do novelista policial
1913 é o ano de nascimento do heterônimo (Dr.) Abílio Fernandes Quaresma. O “Decifrador” deu os seus primeiros passos enquanto detetive
protagonista de novelas policiais escritas pelo “também outro” de Pessoa, Pêro Botelho. Durante os 15 anos seguintes, Fernando Pessoa
escreveria e planejaria inúmeros romances policiais para um livro no futuro – Quaresma, Decifrador. A partir de 1929, o protagonista dessas novelas assume
dupla função; é também o narrador das histórias. 13 delas ficaram prontas para
publicação até à morte de Fernando Pessoa. A inesgotável arca continua assim a
gerar obra pessoana “outrada”. O livro sai em Portugal agora pela
Assírio & Alvim sob responsabilidade de Ana Maria Freitas. Uma antologia de
inéditos.
>>> Brasil: Livro com
recolha de material inédito de Charles Bukowski
Miscelânea septuagenária reúne contos e poemas do escritor estadunidense.
Tendo se tornado conhecido como escritor nas décadas de 1960 e 70 versando
sobre temas como alcoolismo, autodestruição, a vida dos marginalizados, a falta
de perspectiva, o ignóbil e o patético que permeiam a existência humana, a
transitoriedade e tudo, não deixou de causar impacto quando, em 1990, ele
chegou à idade e 70 anos. Para comemorar tal marca publicou, no mesmo ano,
Septuagenarian Stew, com poemas e contos até então inéditos. Este volume é
publicado agora no Brasil pela primeira vez, disponibilizando, assim, novo
material do autor. O livro sai pela L&PM.
Quinta-feira,
21/08
>>> Brasil: A seta de
Verena
“O romance está sendo relançado, com nova diagramação, após a boa acolhida
da primeira etapa dessa aventura editorial. Além da satisfação em ver a
continuidade desse livro junto ao público, fica também a constatação de que uma
boa história sempre envolve o leitor nesse outro mundo, que é o nosso,
conduzido pelas surpresas da ficção literária.” – assim anunciam a segunda
edição do romance de Perce Polegatto, A seta de Verena, título editado de
forma independente – grande nicho nos dias atuais.
>>> Portugal. Uma edição
da revista Blimunda em celebração a Julio Cortázar
A revista da Fundação José Saramago deste mês já foi publicada on-line. Para
marcar as celebrações pelo centenário do autor de O jogo da amarelinha, uma
edição especial. Além de um texto do mexicano Carlos Fuentes sobre o amigo
argentino, a revista publica um artigo de Dulce María Zúñiga, coordenadora da
Cátedra Julio Cortázar na Universidade de Guadalajara (México), uma entrevista
com o pesquisador catalão Carles Álvarez Garriga, possivelmente o maior
conhecedor do espólio do autor de Bestiário, e um texto de Ricardo Viel sobre
os cem anos do “maior cronópio de todos”. A edição traz ainda críticas sobre Claraboia, o romance póstumo de José Saramago que acaba de ser traduzido em
inglês. São textos publicados na Alemanha, no Brasil, na Espanha, na Inglaterra
e em Portugal e que dão uma boa ideia de como a obra foi recebida ao redor do
mundo. Para o download, aqui.
Sexta-feira,
22/08
>>> Argentina: Um filme
sobre a paixão de Julio
Cortázar pela música
Julio Cortázar inventou Johnny Carter, o saxofonista obcecado pelo tempo para o
conto “O perseguidor”, mas ele não é apenas um produto da imaginação: muitos
dos dados de sua biografia foram inspirados na vida real do também saxofonista
Charlie Parker, um dos músicos de jazz que Cortázar admirava. E essa história é
uma das tantas em que a música atravessou a literatura do autor de O jogo da
amarelinha, que em sua casa tinha uns quatro mil livros e uns seis ou sete mil
discos e fitas cassetes. Sua paixão pela música, pensou sua companheira Aurora
Bernárdez, não ia levar a nada, e vendeu toda a discoteca a um parisiense. Agora, chega às telas um documentário que é justamente o contrário do que ela
pensava: Esto lo estoy tocando mañana é um filme dirigido por Karina
Wroblewski e Silvia Vegierski e reúne o testemunho de escritores como Mario
Vargas Llosa e Liliana Heker e de músicos como Juan “Tata” Cedrón y Margarita
Fernández – incluída na “lista de pianistas preferidos” de “Um tal Lucas”.
Todos se ocupam de sair do testemunho ao romance inspirador entre Cortázar e a
música. Veja trailer on-line.
>>> Estados Unidos: A casa de J. D. Salinger à venda
Segundo nota na The Paris
Review, a atual dona que vive na casa de quatro quartos desde os anos 1980 pede
US$ 679 mil - cerca de R$ 1.3 milhões. Salinger comprou a residência nos
anos 1950 e depois da publicação de O apanhador no campo de centeio viveu aí
até os últimos anos de sua vida. Uma coisa é certa: a casa é linda. Vejam
outras imagens aqui.
>>> Dois textos em nossa biblioteca
1. O romance inédito de Gabriel García Márquez
Ainda em abril dissemos por aqui sobre um inédito deixado pelo autor de Cem anos de solidão. Trata-se de En agosto nos vemos. O romance está pronto, embora o romancista nunca tenha ficado satisfeito com o desfecho escrito. Na nossa biblioteca deixamos uma amostra aos leitores sobre o que é este romance: trata-se de um capítulo de En agosto. Saboreiem.
2. “O dia em que explodiu Mabata-bata”, de Mia Couto
Este foi um dos textos colocados em destaque nas notas redigidas para o blog sobre o livro Vozes anoitecidas. Na nossa biblioteca, está uma edição copiada por nós deste conto do escritor moçambicano para os nossos leitores.
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