Conheça o verdadeiro Peter Pan

Uma imagem adorável: o Tio Jim (J. M. Barrie) ao lado do jovem Michel. Foto de 1901.
Tem alguns anos que as livrarias brasileiras receberam uma reedição (com ilustrações um tanto ousadas) para o livro de J. M. Barrie. O que poucas pessoas sabem é de uma das bases para a construção da narrativa – a amizade do escritor com os filhos de Sylvia Llewelyn Davies. Numa época em que a fotografia desempenhava seu encanto sobre as pessoas, Barrie fez uma leva de imagens dos meninos Peter, George, Jack, Michael e Nico.

Os registros integram um álbum com 150 fotos em preto e branco organizado em segredo por Margaret Ruthven, esposa de Peter e uma das personalidades mais famosas quando se casou com ele em 1932. As fotografias marcam as aventuras de férias dos meninos de Sylvia – os perdidos. Barrie os conheceu em 1897 depois de se deparar com eles caminhando em Kensington Gardens de Londres com babá, perto de onde o escritor morava. Foi aí que nasceu a extensa amizade de muitos anos.

A morte de Sylvia e depois a de Arthur Llewelyn Davies possibilitou Barrie a ficar como uma espécie de tutor das crianças; o resultado das horas e dias dedicados a fazr caretas e contar histórias de Neverland, lugar imaginado pelo escritor para entreter os meninos. Muitas das fotos foram tiradas por ele em Black Lake Cottage, em Surrey em 1901, onde frequentemente os levava para passear. Nas imagens os meninos são vistos agindo como se numa aventura de um pirata sanguinário intitulada The Boy Castaways of Black Lake Island, história criada por Barrie e depois registrada em parte das fotografias deste álbum organizado por Margaret.

Algumas das imagens feitas nesse verão imortal mostram os meninos vestidos com shorts e boinas, em luta, entre as árvores do bosque e no chalé onde ficaram hospedados. É um registro de quando Michael Llewelyn Davies aparece vestido como Peter Pan vestindo uma túnica de mangas curtas não muito diferente das que usa Peter em muitas das reproduções do clássico de Barrie. Nas brincadeiras de teatro havia espaço também para a representação de peças como Romeu e Julieta, de Shakespeare como mostram outras imagens. Margaret reuniu ainda no mesmo arquivo fotografias de Peter ainda bebê, de Michael com o Tio Jim (assim Barrie ficou conhecido carinhosamente pela família).  

Michael Llewelyn Davies em Black Lake Cottage vestido como Peter Pan, 1906. Ele usa roupa que parece ter sido inspiração para o traje com que foi retratado nos filmes do Walt Disney

O arquivo não deixa dúvidas de ter sido uma das bases para a escrita do livro; quanto saiu a primeira versão em 1902, a obra tinha o título de The little White bird. Criado por Barrie para entreter George e Jack, Peter era o irmão que podia voar; os bebês eram pássaros antes de nascerem e os pais colocá-los em berçários. As aventuras na Terra do Nunca foram introduzidas apenas dois anos depois.

O fim dessas personagens é que não foi nada agradável para não dizer que uma verdadeira tragédia na vida de Barrie. Primeiro, morreu Arthur, em 1907; três anos depois, Sylvia – os dois de câncer; George morreu na França em 1915, durante a Primeira Guerra Mundial; Michel se afogou numa piscina em Oxford durante o banho com amigo Rupert Buxton (morte até hoje uma incógnita, mas vista como suicídio). Barrie morreu em 1937 e no primeiro ano da década de 1960, Peter, então editor, suicidou-se se jogando em frente a um trem em movimento.

A intromissão de Barrie na vida da família Llewelyn nunca foi bem vista por Arthur, embora Sylvia tenha tido sempre admiração por ele – “a mais bela criatura que já tinha visto”, dizia. E o gesto de fazê-lo tutor depois que o marido morreu é uma prova dessa admiração dela por Barrie.

No Tumblr do Letras reproduzimos uma série de imagens desse álbum que aqui falamos. 




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