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Mostrando postagens de junho, 2014

A persistência das formas góticas na arquitetura religiosa do sertão do Rio Grande do Norte

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Por Márcio de Lima Dantas Igreja de Martins - Rio Grande do Norte 1. Introdução Quem viaja pelas terras quentes do interior, a oeste do Estado do Rio Grande do Norte, ao se aproximar de algumas de suas tantas pequenas cidades que pontuam as autoestradas, consegue divisar, mesmo de longe, as torres longilíneas das Igrejas Católicas. Via de regra situadas no centro da cidade, é o espaço para onde convergem todas as ruas. Erguem-se para o céu, em suas cores um pouco acentuadas, destacando-se do monótono conjunto de casas, na sua maioria de um só pavimento retangular, o rez-do-chão, achatadas e de nuances ocres ou cinzenta. Esses templos seguem uma feição que podem ser considerados como caudatários do estilo Gótico, florescido na Europa entre os séculos XII e XVI. A tendência para a verticalidade é constatada em tudo que diz respeito às práticas com o sagrado. Se aparece de maneira ostensiva na arquitetura das igrejas, não deixa, também, de despontar nas capelas, nos

Aguenta Coração

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Por Hilda Hilst Olha, tenta: segura a bola e alisa, transfere, vagueia, como se a bola tivesse a lisura de uma boa cabeça, isso, pensa a cabeça do Lula, metalurgia lanosa, alisa agora bigodes, pradaria, encosta a bola na coxa, concentra, goza, não era um assim que você sempre queria? Segura aproximando, te cola, a cabeça entre os peitos, teus dois redondos e esse terceiro doce lúbrico veemente, respira, engole teu discursivo, a semente das coisas ausente de fonemas, nos fundos alagados, cala, sofre a bola, pensa no perfeito de toda redondez, ama essa forma, lambe, respira mais fundo, mais, dá um tempo, conhece o reverso agora, os avessos, o reverso é a cabeça dos reis, escurece o gesto, pisoteia, pensa nas tiranias, no soberbo dos outros, os de escudo e couro, no manso-melado que se fez teu ser, na cuspida de tantos sobre a tua vida, odeia, agora vai devagar rondando, rondando a bola, e ao teu redor avalia, avalia sob os pés de quem essa bola-cabeça vai cumprir exata tua

Boletim Letras 360º #69

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Fernando Pessoa em hebraico. Exposição em Israel amplia espaço de atuação da poesia do poeta. Mais detalhes ao longo deste Boletim. Imagem patente no Museum  Of Israeli Art at Ramat Gan, em Tel-Aviv para a exposição Ronny Someck Hall of Faeme  (reprodução) Falta pouco para findar o Mundial 2014 de Futebol. E no ritmo até o último dia, seguiremos por aqui com os textos para a seção especial Gol de Letra e uma promoção que dará cinco kits muito bacanas de livros aos leitores do blog que participarem direitinho cf. manda o figurino . Enquanto essas finalizações não chegam, porque ainda faltam mais que 15 dias para que tudo isso se realize, vamos a um fim que já chegou – o fim de semana. E, se é fim de semana, se é sábado, é dia de ler mais uma edição do Boletim Letras 360º com tudo o que circulou de notícia em nossa principal rede social, nossa página no Facebook. Segunda-feira, 23/06 >>> Inglaterra: Em novembro publicam-se novos textos de P. L. Travers, a au

Uma metáfora futebolística sobre a existência incerta

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Por Rafael Kafka © Gal Oppido Todos sabem de meu amor pelo futebol. Mas é um todo particular. Sou do bizarro tipo que não vai para estádio por falta de dinheiro e medo de ser apedrejado por torcidas organizadas. Ao mesmo tempo, sou do tipo chato para muitos que evita ao máximo (mesmo recaindo ainda em vieses implícitos machistas) usar termos homofóbicos e preconceituosos em geral para zoar com meu adversário em dias de vitória ou derrota. Para completar, sou do tipo que não leva futebol tão a sério, mas ao mesmo tempo faço do campo de futebol uma verdadeira aula sobre a vida humana. Não sou um grande amante de esportes em geral. Já tentei acompanhar vôlei e Fórmula 1 durante muitos anos, mas nenhum deles se equiparou ao futebol enquanto esporte capaz de mexer com a paixão do ser humano. Seja dentro ou fora de campo, na forma de diversos atos leais ou desleais, humanos ou desumanos. O ex-jogador e mito corintiano Sócrates disse em um Gordo a Go-Go em 2004, se bem lembr

Heleno de ponta a ponta

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por Gabriel García Márquez Dois domingos atrás o público de Barranquilla foi ao Estádio Municipal com o único objetivo de presenciar a volta do dr. Heleno de Freitas. Tenho a impressão de que, mais que as mãos para aplaudir, a torcida levava as gargantas para apupar. Não seria o mesmo Heleno de dois anos atrás o que naquela tarde iria aparecer no gramado. Era um homem completamente diferente, dois anos mais velho, já passado pelo torno de uma consciente e multitudinária análise, cujos resultados ainda são desconhecidos, o que impediu a todos que entendem de futebol atrever-se a dizer se Heleno é um gênio ou um palhaço sem o perigo de ter de se retratar no domingo seguinte. Os dirigentes do Junior mais uma vez trouxeram o advogado brasileiro aos gramados colombianos, e com isso demonstram possuir um inteligente conhecimento da psicologia coletiva. Um público que paga para ver um espetáculo de qualidade é, de certa forma, um público sem esperança, ao qual nenhuma atraçã

O fantástico universo literário de Aldo Lopes

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Por Thiago Gonzaga A literatura não é outra coisa além de um sonho dirigido Jorge Luis Borges Freud disse certa vez: “seja qual for o caminho que eu escolher, um poeta/romancista já passou por ele antes de mim”. O pai da psicanálise não criou apenas uma bela frase, ele defendia os escritores criativos em geral, e enfatizava que eles tinham acesso a fontes que ele próprio ainda desconhecia, e que ainda não eram acessíveis à ciência, e que estes sabiam, muito antes dele, todos os modos possíveis do funcionamento mental. Retomo essa frase filosófica de Freud depois de ter lido o romance A Dançarina e o Coronel  do escritor “potiparaibano” Aldo Lopes, nascido na Paraíba , mas radicado no Rio Grande do Norte, há  mais de dez anos, inclusive vencedor de um Prêmio Câmara Cascudo, com um dos melhores romances publicados em solo potiguar neste início de século, O Dia dos Cachorros . Porém, de onde ele é, é o que menos importa; o que importa é que Aldo Lopes é um escri

Narciso às avessas, que cospe na própria imagem*

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Por Nelson Rodrigues Nelson Rodrigues a postos para mais uma partida com o time pelo qual era capaz de tudo: o Fluminense. Hoje, o meu personagem da semana é uma das potências do futebol brasileiro. Refiro-me ao torcedor. Parece um pobre-diabo, indefeso e desarmado. Ilusão. Na verdade, a torcida pode salvar ou liquidar um time. É o craque que lida com a bola e a chuta. Mas acreditem: — o torcedor está por trás, dispondo. Escrevi acima que o torcedor não é um desarmado e provo. De fato, ele possui uma arma irresistível: — o palpite errado. Empunhando o palpite, dá cutiladas medonhas. Vejam o primeiro jogo com os paraguaios. Vencemos de cinco e podia ter sido de dez. Fizemos do adversário gato e sapato. Ora, para uma primeira apresentação foi magnífico ou, mesmo, sublime. Mas quando saí do Maracanã, após o jogo, vejo, por toda parte, brasileiros amargos e deprimidos. Mais adiante, esbarro num amigo lúgubre. Faço espanto: — “Mas que cara de enterro é essa?” O amigo rosna:

Os 150 anos de “Diário do subsolo” e um período decisivo na obra de Dostoiévski

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por Alfredo Monte Pouco depois de completar 40 anos, Dostoiévski (nascido em 1821) viajou pela primeira vez pelo continente europeu. A esse período correspondem certos títulos que terão decisivo impacto sobre sua obra madura: um romance curto, Diário do subsolo ( Zapiski iz podpolya , 1864 1 ); um fragmento, O crocodilo ( Krokodil , 1865); além do relato diretamente ligado à viagem, Notas de inverno sobre impressões de verão ( Ziminie Zamietki o lietnikh vpyetchatleniiakh  , 1863). Ressalvadas as diferenças, é um “salto” análogo ao que representa na trajetória de Machado de Assis a aparição das Memórias póstumas de Brás Cubas e de Papéis avulsos . I Diário do subsolo representou uma virada definitiva 2 na produção dostoievskiana e na prosa literária em geral (pois sua influência tornou-se universal). Com muitas traduções (e soluções diferentes para o título) 3 aqui no Brasil, comento-o, neste meu texto, utilizando a versão do poeta Oleg Almeida, dentro da polí