Refém da paixão, de Jason Reitman
Kate Winslet e Josh Brolin em cena de Refém da paixão, filme que faz um retorno a era de ouro dos romances em Hollywood. O trabalho de Jason Reitman, entretanto, não é lá essas coisas. |
Depois de Amor sem escalas, filme sobre o qual
deixamos algumas notas aqui, e de Juno,
o trabalho mais bem elaborado e aceito positivamente pela crítica, Reitman
mantém-se numa dura linha de decaída desde a apresentação de Jovens adultos. Ainda assim, Refém da paixão é um filme mediano, recupera uma era de Hollywood para os romances açucarados, e
merece um pouquinho da atenção do público – principalmente os interessados em
se soltar da rotina e preencher o tempo com um divertimento, mesmo não sendo
esta obra uma comédia. Pelo contrário,
consegue criar uma atmosfera de tensão permanente desde o início até o fim da
narrativa, estando, portanto, mais para um trihller
com pitadas de romance. O estilo de Reitman com este filme é sisudo.
Não é uma produção com enredo complexo ou plano mirabolante de narração; é um filme que exige
muito dos atores porque toda a construção da tensão narrativa depende de suas atuações.
E tanto Kate Winslet, no papel de Adele, uma mãe solitária e deprimida, quanto
Gattlin Griffith, o filho e única companhia dessa mãe, desempenham muito bem o papel devido. O que
deixa a desejar é a atuação de Josh Brolin, no papel de um fugitivo da polícia
e responsável pela reviravolta na vida das duas personagens principais. Falta uma
coerência (ou seria entrosamento?) entre as personagens, o que, de certo,
contribui para o distanciamento do espectador em relação a história
narrada.
Nesse ponto,
entretanto, é fácil perceber que Reitman escolhe o caminho de problematização das tradicionais histórias de
amor. Geralmente, os romances nesses filmes, são criados em torno de personagens
tão idealizadas que o efeito de falsidade alcança proporções desajeitadas. A
mocinha (embora Kate Winslet esteja no esplendor de sua forma madura) aqui não espera nenhum príncipe encantado, mesmo que se sinta um tanto
motivada a sair de seu lugar de acomodação a que foi reduzida; como mãe,
portanto, não é nenhuma mocinha de trança. E a uma única (e muito forte) relação é a de com o filho, que no auge da formação de sua sexualidade está entre o
limite de não conseguir ultrapassar aquela fase descrita pela psicanálise – na releitura
do Édipo.
O príncipe que
lhe chega de surpresa está mais para o tipo de um amor bandido, com a limitação
de talvez não sê-lo. E ao invés de raptar a mocinha, vive com ela um autossequestro
– sabedor de que isso não é situação que possa ter um final feliz. E se tem não
diremos; caberá ao expectador verificar. Também não há entre os dois idealizações.
São duas pessoas marcadas de uma forma ou de outra pela violência – ela por um
golpe da natureza, ele por um golpe do destino – mas que guardam uma
expectativa porque tudo possa se resolver da melhor maneira possível.
Em cinco
dias, este Don Juan às avessas – é a personagem de Brolin que melhor diz da
oxigenação da narrativa – demonstrará algumas das virtudes caras à formação de
qualquer pessoa: o trabalho. Daí o título original, Labor day, que cumpre não apenas a função de colocar em destaque a
data de quando nasce a história aí contada, como melhor destaca a importância do trabalho na vida das pessoas.
Até mesmo a construção de sentimentos como não se deixar atingir pela inveja, a
suportar os desastres de uma traição e pensar no outro são apresentados como expressões
de um exercício de labuta para também a elaboração da nova vida possível de Adele e Henry.
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