Boletim Letras 360º #60
Fotograma de um estômago? Alguém engoliu filmes de máquina fotográfica e fez isso. Leia mais sobre neste boletim. |
Enquanto desenhamos já a próxima semana para o blog, fica o
que foi notícia nesta que finda hoje. Num intervalo de tempo sempre fazemos questão
de lembrar aos leitores (principalmente os novos que chegam por aqui) sobre a função
deste BO. Diariamente editamos notícias sobre Literatura, Artes e Comportamento
– eixo deste blog; essas notícias são filtradas das mais diversas mídias e são publicadas
aquelas que melhor se aproximam do que já foi tema (ou poderá ser em breve) no
aqui no Letras. Os mecanismos do Facebook – onde essas notícias são publicadas –
nem sempre colocam os leitores diante das postagens. Uma vez publicadas aqui,
num só lugar, essas notícias ganham mais uma semana para adiante de
visibilidade. O que não queremos mesmo é que nossos leitores fiquem
desinformados. Vamos, então?
Segunda-feira, 07/04
>>> França: 7 milhões de euros pelo manuscrito de Os 120 dias de Sodoma, do Marquês de
Sade
Foi este o valor que pagou o novo proprietário do texto,
Gérard Lhéritier, bibliófilo e presidente-fundador do Museu de Letras e
Manuscritos. O manuscrito havia sido roubado em 1982. Esteve escondido, foi
vendido e depois produto de uma longa peleja judicial entre duas famílias, uma
delas, a legítima dona de quem o arquivo fora roubado. A obra que foi presa por
pederastia, foi parar em Genebra, volta à sua casa, em Paris.
>>> Inglaterra: Arte visceral
Dois designers ingleses, Luke Evans e Josh Lake, resolveram
engolir filmes fotográficos de 35mm para ver o efeito que seus sucos gástricos
teriam sobre a película. Tudo, dizem, em nome da arte. Para evitar que os
filmes machucassem o tubo digestivo, os artistas os enrolaram individualmente e
os encapsularam com um material que protegia contra cortes e deixava passar os
ácidos estomacais. Foram esses ácidos que interagiram com a camada de prata dos
filmes fotográficos e geraram imagens, como a que ilustra este post. Não se
trata de fotografia, pois não envolve luz. O que os artistas fizeram foi
analisar o efeito do ácido estomacal nos filmes com ajuda de um microscópio. As
imagens captadas pelo aparelho foram impressas em preto e branco e ampliadas. E
como esses filmes foram retirados do estômago dos artistas? Bem, foi um
processo natural. As cápsulas foram recuperadas nas fezes. Os quadros foram parar
numa exposição em Londres.
Terça-feira, 08/04
>>> Brasil: Um novo destino para o sobrado onde
Clarice Lispector viveu dos 5 aos 14 anos
O sobrado colonial de número 387 na Rua do Aragão, com vista
privilegiada da Praça Maciel Pinheiro, na Boa Vista, em Recife, onde viveu a
escritora Clarice Lispector está prestes a se tornar num importante centro
cultural. Um projeto realizado em parceria com a Santa Casa de Misericórdia
pretende transformar o imóvel de dois pavimentos num espaço cultural, com
oficinas de arte e leitura, acervo da família Lispector, café e livraria.
A sobrinha-neta da escritora, Nicole Algranti, está à frente do projeto há
quase quatro anos. Ela tenta arrecadar recursos com financiadores de ações
culturais em São Paulo e no Rio de Janeiro, onde mora. A Santa Casa já cedeu o
imóvel a ela, em comodato por tempo indeterminado. O sobrado faz parte do conjunto arquitetônico de imóveis protegidos do bairro
da Boa Vista. “A importância arquitetônica se dá não apenas pela unidade, ou
seja, pela casa, mas por todo o conjunto de imóveis. São casas do século 18.
Aquela área era totalmente desabitada até os anos 1870. A partir da década de
1920, muitos judeus se instalaram naquela região”, esclareceu o arquiteto e
urbanista Fernando Diniz. O professor do Departamento de Letras da
Universidade Federal de Pernambuco Lourival Holanda estudou a obra da escritora
e destacou que ela passou pouco tempo no Recife, mas que o período foi
fundamental. “A mãe de Clarice morreu nesta casa. Foi lá onde ela viveu
momentos marcantes de sua história”, explicou. Segundo ele, a cidade aparece
claramente em quatro textos, presentes no livro Felicidade Clandestina.
>>> Estados Unidos: Tarzan 100 anos depois (um
livro e uma releitura pelo cinema)
Criado pelo estadunidense Edgar Rice Burroughs em 1912, o
personagem que se consolida a partir de 1914, ganha pela editora Zahar uma
edição comentada e ilustrada do mesmo livro, que traz os desenhos originais do
canadense Hal Foster. O cinema, também apostando na atualidade de Tarzan, um
homem que prefere a companhia dos macacos à selva das cidades, prepara uma nova
versão – desta vez com Alexander Skarsgard no papel-título. Dirigida por David
Yates, ela certamente vai explorar mais o corpo que a alma do galã sueco, como
se faz na tela desde a versão de Tarzan com Johnny Weissmuller. Traduzido por grandes
autores no Brasil, entre eles Manuel Bandeira e Monteiro Lobato, os livros de
Tarzan começam a ser redescobertos pelas novas gerações. Thiago Lins, também
autor da apresentação e das notas que acompanham a nova edição, é o novo
tradutor do livro inaugural de uma série de 24 volumes produzidos por
Burroughs.
Quarta-feira, 09/04
>>> Brasil: Cartas de Carlos Drummond de Andrade
para a mãe estão em exposição pela primeira vez
“Minha boa mamãe: depois de alguns dias de silêncio, aqui
está de novo o seu caçula, para pedir-lhe a bênção e conversar um pouco”,
escrevia Carlos Drummond de Andrade à mãe, Julieta Augusta, em agosto de 1942.
Adquiridas há duas décadas por um jornalista de Lavras, sul de Minas Gerais,
essa e 120 outras cartas escritas por Drummond para sua mãe compõem o acervo
que veio a lume há poucos meses e agora são expostas ao público pela primeira
vez. Compradas nos anos 1990 por Eduardo Cicareli das mãos de Ita, cunhada do
poeta, que as herdou da própria Julieta, as cartas retornam agora à Casa de
Drummond, onde o escritor viveu até os 13 anos, em Itabira (MG). O local é hoje
um centro cultural. As cartas ficam em exposição até junho. Depois, partem para
o Memorial Carlos Drummond de Andrade, também em Itabira. Escritas entre 1925 e
1948, as 121 cartas constituem um importante instrumento para entender a
relação entre o poeta e sua mãe, sobre a qual se sabe muito pouco.
>>> Portugal: Adaptação para o cinema de passagem
de Os lusíadas
Com o nome de O velho
do Restelo, Manoel de Oliveira, no auge dos 105 anos, prepara
curta-metragem que busca a partir do texto de Camões, refletir sobre a atual
crise de Portugal. Sintonizado com os dilemas financeiros de seu continente, o
diretor rodou, em 2012, um longa centrado na usura e na corrupção monetárias: O Gebo e a sombra, baseado em peça de
1923, escrita por Raul Brandão, e estrelado por titãs do cinema como Michael
Lonsdale, Claudia Cardinale e Jeanne Moreau.
>>> Brasil: Nova tradução para Mary Poppins
O livro de P. L. Travars chega aos 80 anos em boa forma;
depois de lembrado pelo cinema numa releitura do que foi sua primeira adaptação
para a 7ª arte pelas mãos de Walt Disney, chega, para já, às livrarias brasileiras
uma tradução nova para Mary Poppins.
Sai pela Cosac Naify e foi feita por Joca Reiners Terron com
ilustrações de Ronaldo Fraga. A obra terá duas tiragens: uma edição comum e uma
edição de colecionador, que vem dentro de uma luva.
Quinta-feira, 10/04
>>> Portugal: Mais inéditos de Fernando Pessoa vêm
a lume
São alguns breves poemas que Pessoa terá escrito no início
de 1906, atacando duramente a monarquia portuguesa, numa mostra de que aos 17
anos o poeta era um republicano convicto e põe em causa a convicção de que
ele só recomeçara a escrever poesia em português a partir de 1908. Richard
Zenith e Fernando Cabral Martins, que encontraram e fixaram estes textos,
incluíram cinco inéditos (quatro poemas completos e o início de um poema
inacabado) em Mensagem e outros poemas
sobre Portugal, que a Assírio & Alvim lançará ainda este mês. Descontada
uma quadra que ditou à mãe aos sete anos e vários poemas em português que
escreveu em 1901 e 1902, quando passou uma temporada em Lisboa — os versos
destinavam-se a jornais que inventava para circulação familiar.
>>> Brasil: Edição compila a contística de Monteiro
Lobato
Contos completos,
sai pelo selo da Globo Livros Biblioteca Azul. O volume compila todos os contos
de Urupês (1918), Cidades mortas (1919), Negrinha (1920) e O macaco que se fez homem (1923) e ainda traz um bônus que
revitaliza as pesquisas sobre o autor no Brasil: uma vasta fortuna crítica que
posiciona e transporta o leitor de hoje à atividade literária feita na época.
Estão presentes contos clássicos como "Meu conto de Maupassant", "Bucólica",
"Cavalinhos", "As fitas da vida", "O bom marido",
entre dezenas de outras histórias.
Sexta-feira, 11/04
>>> Brasil: As livrarias recebem nova tradução para
Senhor das Moscas, de William Golding
A diferença na nova versão é já percebida desde a ausência
do artigo definido "O" com que se apresentava o título da primeira
versão publicada no Brasil. Publicado originalmente em 1954, o romance já foi
visto como uma alegoria, uma parábola, um tratado político e mesmo uma visão do
apocalipse. Durante a Segunda Guerra Mundial, um avião cai numa ilha
deserta, e seus únicos sobreviventes são um grupo de meninos em idade escolar.
Eles descobrem os encantos desse refúgio tropical e, liderados por Ralph, procuram
se organizar enquanto esperam um possível resgate. Mas aos poucos — e por seus
próprios desígnios — esses garotos aparentemente inocentes transformam a ilha
numa visceral disputa pelo poder, e sua selvageria rasga a fina superfície da
civilidade, que mantinham como uma lembrança remota da vida em sociedade.
A nova tradução feita por Sergio Flaksman e agora publicada pela Alfaguara
Brasil mostra como Senhor das Moscas
mantém o mesmo impacto desde o seu lançamento: um clássico moderno; um livro
que retrata de maneira inigualável as áreas de sombra e escuridão da essência
do ser humano.
>>> Brasil: Pela primeira vez aqui, a obra completa
do escritor argentino Adolfo Bioy Casares
A obra será publicada pelo selo Biblioteca Azul da Globo
Livros. Serão três volumes: o primeiro, com romances publicados entre 1940 e
1959, será lançado no dia 15 de setembro, no centenário de nascimento de
Bioy – quando a editora organiza evento comemorativo. O segundo volume (obras
de 1961 a 1973) está previsto para 2015, quando a Biblioteca Azul também
começará a reeditar obras avulsas de Bioy, incluindo A invenção de Morel, O sonho
dos heróis, O diário da guerra do
porco e o inédito Uns dias no Brasil
(diário de viagem). Para o centenário, a editora prepara ainda novas edições
dos títulos escritos por Bioy e Jorge Luis Borges já publicados pela casa: Crônicas de Bustos Domecq/Novos contos de Bustos
Domecq, Seis problemas para Dom
Isidro Parodi & Duas fantasias memoráveis e Um modelo para a morte/Os suburbanos/O paraíso dos crentes. Na
equipe de tradução Sérgio Molina, Josely Vianna Baptista, Ari Roitmann e Paloma
Vidal.
>>> Estados Unidos: Livros encadernados com pele
humana - nada mais que boato, ao menos parte da notícia
A Biblioteca de Harvard anunciou esta semana que Practicarum quaestionum circa leges regias,
um livro publicado no início do século XVII e descoberto em seus arquivos em
1990, está encadernado com pele de ovelha e não pele humana, como se presumia.
Noticiamos a partir de matéria vinculada no site estadunidense Galley Cat, por isso voltamos ao assunto. A notícia que corre na web, entretanto, não tem
determinada ainda um ponto de origem. O livro veio a lume junto com outros dois
títulos cujas capas seguem vistas pela instituição como confeccionadas
possivelmente com pele humana. Os livros também não foram descobertos
recentemente, mas há quase duas décadas. Também é falsa aquela história de
frase manuscrita dando contas de alguém que fora esfolado e a pele usada na
encadernação – notifica o Chicago
Tribune.
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