Boletim Letras 360º #59
Fotografia inédita de Charles Baudelaire recém-descoberta. Saiba mais informações sobre ao longo deste Boletim. |
Semana marcante; talvez a mais de 2014. Basta dizer que começamos
na segunda-feira com um centenário e fechamos na sexta com outro. Octavio Paz e
Marguerite Duras. Dois gênios (no real sentido que é conveniente o uso do
termo). E, por isso, foi um corre para lá um corre para cá para oferecer aos leitores
alguns fotogramas da vida e da obra dos dois escritores. Isso está marcado nas publicações
em nossas redes sociais e aqui no blog. Mas, além disso, as notícias no
universo da literatura, das artes e correlatos foram muitas. Umas boas outras
nem tanto. Vamos lá?
Segunda-feira, 31/03
>>> Brasil: Contos em alta
Tem curto tempo que circula on-line nas redes sociais a
série de contos Formas Breves. Idealizada por Carlos Henrique Schroeder, atual
editor da Revista Pessoa e curador do Festival Nacional do Conto do
Conto, a série da e-galáxia tem se mantido em alta nas principais
lojas que trabalham com edição eletrônica. Sim, o formato destes textos são
exclusivamente para essas parafernálias digitais, o que significa dizer que
qualquer leitor que tenha um e-reader, por exemplo, pode comprar um conto por
R$ 1,99. Entre os autores da coleção estão Miguel Sanches Neto, André de
Leones, José Luiz Passos, Bolívar Torres, Marcelo Moutinho e muitos outros. A
ideia é lançar um conto inédito por semana. Veja mais aqui.
>>> Brasil: Novo romance de Haruki Murakami
Enquanto Haruki Murakami faz em sua terra natal um retorno à
narrativa curta, aqui no Brasil, onde saiu, muito recentemente, o último volume
da trilogia 1Q84, a editora Alfaguara — que publica o autor japonês para esses lados — promete O descolorido Tsukuru Tazaki e seus anos de peregrinação. É
aguardar.
Terça-feira, 01/04
>>> Brasil: Leonardo Padura no Brasil
Responsável por renovar a literatura cubana e
apontado como um dos autores mais importantes de sua geração, Leonardo Padura
visita o Brasil entre 12 e 16 de abril para lançar o celebrado O homem que amava os cachorros, obra que
o consolidou definitivamente no cenário literário internacional e
recém-publicada pela Boitempo Editorial. Publicado em vários países (como
Espanha, Portugal, França, Estados Unidos e Alemanha), o romance é resultado de
mais de cinco anos de rigorosa pesquisa histórica e recebeu diversos prêmios
internacionais. Os direitos de adaptação para o cinema de O homem que amava os cachorros foram recentemente adquiridos pela
produtora francesa Compagnie des Phares et Balises. A história do livro gira em
torno de três eixos: a partir de um encontro enigmático com um homem que
passeava com seus cães, Iván, um cubano aspirante a escritor, retoma os últimos
anos da vida do revolucionário russo Leon Trotski, seu assassinato e a história
pouco conhecida de seu algoz, o militante comunista catalão Ramón Mercader. Mais detalhes sobre a vinda de Padura aqui.
>>> Inglaterra: É publicado um conto inédito de
Samuel Beckett
Rejeitado por seu editor como “um pesadelo”, “Echo’s bones”,
um texto de 13.500 palavras escritor para entrar na antologia More pricks than kicks, chega às
livrarias inglesas no próximo mês, 80 anos depois de ter sido escrito. Na
época, o editor acreditava que acrescentar o conto custaria “a perda de muitos
leitores” ao livro, o primeiro de Beckett a ser publicado. “Estou certo que
‘Echo’s Bones’ vai diminuir consideravelmente as vendas do livro”, escreveu ele
a Beckett. A história traz Belacqua Shuah, personagem dos contos da antologia,
retornando da morte.
Quarta-feira, 02/04
>>> França: Descoberta fotografia inédita de Charles Baudelaire
O Museu d’Orsay comprou por 50 mil euros por uma fotografia que possivelmente traz a imagem de Charles Baudelaire. É sabida a aversão que o poeta de As flores do mal tinha pela fotografia, mas com este arquivo, já chegam a 15 o números registros seus conhecidos até o momento. Em primeiro plano, um jovem elegante e de bigode faz pose. A inscrição na parte inferior direita sugere que o autor da imagem é o Sr. Arnauldet, do mesmo círculo do fotógrafo Etienne Carjat, autor de outras fotos do poeta francês. E ao fundo, desfocado, aparece a figura de um homem, por trás da cortina branca: um fantasma do poeta francês, passant. A imagem foi adquirida inicialmente por Serge Plantureux; estava dentro de um álbum e custou poucos euros, como explica o semanário L’Express. Plantereux é importante colecionador de fotografias e suspeitando do famoso na fotografia buscou mapear a autenticidade da imagem. Uma equipe do museu constatou ser, sim, Baudelaire e lançou a bagatela de euros para o colecionador.
>>> Brasil: Entrevistas do projeto “Um escritor na
Biblioteca” são editadas em livro
Em 2011, após uma interrupção de 26 anos, o projeto “Um
Escritor na Biblioteca” foi retomado na Biblioteca Pública do Paraná (BPP) com
uma programação mensal. Concebido originalmente nos anos 1980, o bate-papo
trouxe a Curitiba, entre 1984 e 1986, 11 autores da literatura brasileira. Na
retomada, em 2011, foram dez escritores. É o conteúdo dessas conversas que a
Biblioteca Pública do Paraná disponibiliza agora, em dois volumes, por meio do
selo Biblioteca Paraná. Aí estão entrevistas com nomes como Luiz Fernando
Verissimo, Antonio Callado, Thiado de Mello, Paulo Leminski (foto), Fernando
Sabino, Ignácio de Loyola Brandão, Nélida Piñon, Cristovão Tezza, Marçal
Aquino, Milton Hatoum, Sérgio Sant'anna, entre outros.
>>> Estados Unidos: Mostra com 50 desenhos inéditos
de Pablo Picasso
A casa de leilões Sotheby’s exibe 50 desenhos e algumas
cerâmicas procedentes da coleção privada de Marina Picasso, neta de Pablo. Mas,
não estão à venda. A amostra percorre o olhar de Picasso em um assunto central
em sua obra: o nu. De pequenos apontamentos com tinta que têm as prostitutas de
Barcelona como motivo central à obsessão pelo tema do pintor e o modelo. De
fato, durante 1963 e 1964 quase não pintaria outra coisa. Na prática, foram
seus trabalhos sobre o nu os que finalmente lhe conduziriam ao cubismo. E neste
esquema designadamente Picasso utiliza blocos geométricos para reconstruir o
corpo nu de uma mulher sem cabeça. No Tumblr do Letras preparamos uma galeria com vários desses trabalhos.
Quinta-feira, 03/04
>>> Itália: Descoberto telas de Paul Gauguin e
Pierre Bonnard
Desde 1975, um quadro atribuído a Paul Guaguin — Fruits sur une table ou nature au petit
chien, avaliado entre 15 e 35 milhões de euros — e outro de Pierre Bonnard — La femme aux deux fauteuils, avaliado
em 600.000 — permaneceram como decoração na cozinha de um funcionário da Fiat
de Turim, quem os adquiriu sem saber que haviam sido roubados da casa de uns
colecionadores de Londres e depois levados para Paris e depois para a Itália.
Os empregados da companhia italiana de ferrovia do estado encontraram as telas
e, ao desconhecer seu valor, largaram por um tempo num quarto de objetos
perdidos. Ninguém se deu conta de tratava de um autêntico Guaguin de 1869 nem
de um Bonnard de 1909 e então um funcionário da Fiat, pegou e levou o trabalho
por cerca de 24 euros.
>>> Brasil: Chega as livrarias segundo volume de
uma série de seis romances de Karl Ove Knausgård
Primeiro foi A morte
do pai — em que acompanhamos sua infância e o processo destrutivo que levou
seu pai a beber até a morte —, agora, Um
outro amor, Knausgård se debruça sobre o começo turbulento de seu
segundo casamento e a descoberta da paternidade, conflituosa com suas ambições
literárias. Logo depois de se separar da primeira mulher, Karl Ove deixa Oslo e
se muda para Estocolmo, onde irá começar uma nova vida, experimentando a
perspectiva do estrangeiro. Lá, ele cultiva uma amizade profunda e muitas vezes
competitiva com Geir e persegue Linda, uma poeta que o conquistara anos antes
durante um encontro de escritores. Uma conversa com amigos durante o jantar
pode se estender por cem páginas; saltos no tempo e flashbacks demonstram o
pleno domínio do autor, capaz de conciliar a narrativa de episódios pontuais
com longas digressões que acompanham o tempo interno das personagens. Na
construção narrativa de Knausgård, a memória se torna ficção e a ficção,
memória. Entre questões existenciais e reflexões acerca do fazer literário, o
que emerge ao fim desse romance honesto e profundo é a conturbada e bela
história de amor de um homem por sua mulher e seus filhos.
>>> Dinamarca: Finnegans
Wake, de James Joyce, em música
Se a leitura de Finnegans
Wake, de James Joyce, na cama não é o suficiente para colocá-lo para dormir,
talvez, versão em formato de música com 12 minutos faça isso. Elling Lien tomou
os primeiros parágrafos dos dez primeiros capítulos do romance; imprimiu-os em
tiras de papel e depois removeu as vogais (incluindo Y!); por fim, passou os
cartões através de um leitor de caixa de música. O resultado pode ser ouvido aqui.
Sexta-feira, 04/04
>>> Brasil: Joyce inédito
Foi em dezembro de 2012 quando notificamos aos leitores do
blog Letras in.verso e re.verso
sobre duas edições com inéditos de James Joyce no Brasil, que falamos sobre a
descoberta dos textos de Finn’s Hotel.
A novidade agora é que os tais textos — doze no total — encontrados por Danis
Rose, um dos nomes mais conhecidos entre os editores dos manuscritos de Joyce,
devem sair em breve no Brasil; Caetano Galindo quem traduziu recentemente Ulysses, está novamente com a
incumbência da tradução. Finn’s Hotel
deve sair em junho — por ocasião de mais um Bloomsday — pela Companhia das
Letras.
>>> Estados Unidos: Sinistro (podem dizer): Harvard
descobre na seção de antiguidades livros encadernados em pele humana
São três livros que fazem parte do acervo de bibliotecas
vinculadas à biblioteca da universidade estadunidense. Um livro foi encontrado
no Langdell Law Library, outro na Biblioteca Countway de Medicina,
e ainda outro na Coleção Houghton; um livro é um tratado sobre leis medievais,
outro é de poesia romana e o outro de filosofia francesa. O livro Practicarum quaestionum circa leges regias...,
por exemplo, constata o fato à altura da última página, a 794, sob uma
inscrição em letra cursiva lilás: “este livro é tudo o que resta do meu
querido amigo Jonas Wright, que foi esfolado vivo pelo Wavuma no quarto dia do
mês agosto de 1632. Rei Mbesa me deu o livro, como sendo uma das últimas posses
do pobre Jonas [...]” Ai, gente, será? (Via GalleyCat)
>>> Inglaterra: Ian Fleming nu
As cartas de amor de um jovem Ian Fleming revela que ele é
um ciumento, sádico romântico: “Eu teria que chicoteá-la e você iria
chorar e eu não quero isso. Eu só quero que você seja feliz. Mas eu também
gostaria de machucá-la, porque você fez por merecer e, a fim de domar você como
um animal selvagem. Portanto, você tenha cuidado.” A coleção de cartas e
fotografias vão a leilão. São cartas não datadas, em grande parte, mas aquelas
com datas esclarecem a vida amorosa do escritor entre 1934 e 1935, quando
Fleming teria seus 20 anos. A carta cuja parte é citada neste post era
direcionada a Edith Morpurgo, a filha de um empresário de Salzburg. Os dois não
vieram levar o relacionamento adiante: Morpurgo, quatro anos mais velha que o
escritor, em 1912, casou-se em 1939, e os dois mais a filha de dois anos de
idade morreram em Auschwitz. O livreiro comprou a coleção em leilão, e
acredita que eles foram originalmente vendidos por um descendente da família de
Morpurgo. “Essas cartas mostram a trajetória de um romance de jovem
apaixonado, quando Fleming era um homem solteiro na casa dos 20 anos”.
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