Os mapas de Jack Kerouac em On the road
Mapa concebido por Jack Kerouac na abertura de suas viagens pelos Estados Unidos. |
Em 1957, dois romances que foram publicados nos Estados
Unidos estavam destinados a ter um efeito profundo sobre aquele país; e de
fato, no mundo, os efeitos sobreviveriam muito tempo, além da vida de seus
criadores. Atlas Shrugged, de Ayn Rand (no Brasil publicado como Quem é John Galt em 1987 e depois relançado, em 2010, como A revolta Atlas) e On the road, de Jack Kerouac (Na estrada). O
primeiro se tornou crítica a uma era republicana, do capitalismo selvagem, do
egocentrismo; o outro, abriu a possibilidade para sua decadência e o surgimento
dos movimentos não conservadores, como os Hippies e os oposicionistas à
conflitos como a Guerra do Vietnã.
Sobre On the road,
os leitores mais ardorosos do romance já terão tentado mapear a longa jornada
de Dean Moriarty. Acima, ilustrando esta matéria e aliviando parcialmente a
necessidade desses fãs mais afoitos,
um mapa concebido pelo próprio Kerouac. A trajetória de Dean, todos sabem, se
confunde com o próprio itinerário que deu ideias a que o escritor estadunidense
produzisse o romance em questão publicado em 1957. O mapa aí exposto está no
diário em que Kerouac fez anotações ao longo da viagem entre julho e outubro de
1948 de cruzada pelo seu país na busca por outra verve para a atmosfera da
época.
Era tempo de construção de uma apoteose em torno do free spirit. E uma das características dessa construção se representava por este desejo de cruzar o país em busca provar para si a realização definitiva dessa independência. A principio é possível que este mesmo desejo tenha sido a motivação principal para Kerouac e sua viagem; no meio do caminho, o escritor em construção terá percebido que viajar apenas por viajar não tinha tanto sentido assim. Que aquilo merecia algo mais que isso.
No diário de viagem, cada parada tem uma explicação, impressões – desde as metrópoles
mais icônicas, como Nova York, Chicago, São Francisco e Washington, às cidades
menos conhecidas, mas de nomes bastante significativos, como North Platte,
Laramie...
Um desses leitores que cumpriram o trabalho de reelaborar o mapa
de On the road foi Michael J. Hess que criou um mapa interativo onde destaca os lugares evocados na narrativa e com recortes da obra em questão; todos os lugares – os que as personagens, de fato,
pararam por longo tempo, brevemente ou não, aqueles que apenas são mencionados, como Salt Lake
City, Flagstaff, Omaha, Indianápolis – é deixada uma impressão.
Já Dennis Mansker foi mais além. Criou quatro mapas interativos,
cada um cobrindo uma das partes do romance. Ele aproveita a ocasião e apresenta um resumo sobre quatro veículos importantes
para a viagem de On the road – três deles mais ainda porque são identificados na narrativa por marca e ano e eles próprios acabam sendo uma espécie de personagem menor no decorrer das aventuras.
No Brasil, os diários do escritor foram publicados pela L&PM Editores (Diários de Jack Kerouac) depois que em 2004, o historiador Douglas Brinkley organizou uma seleção de anotações que marcam não apenas a viagem, mas a antecedem e vai até às vésperas de publicação de On the road. É preciso notar que suas impressões sobre a viagem não estão presas aos lugares mapeados por suas andanças. Há outro itinerários explorados por ele, como seus próprios progressos como leitor e como escritor (elementos que se apresentam no romance aqui comentado): é o Kerouac das incertezas com a escrita, na luta por aperfeiçoar sua dicção verbal para a composição de que seria seu primeiro romance, The town and the city, e o Kerouac leitor de Liev Tolstói, Dostoiévski, Twain, Céline... É ainda um itinerário dos afetos, quando ele constrói importantes amizades – Allen Ginsberg, William S. Burroughs, Neal Cassady.
Ainda sopre os mapas de Jack Kerouac, agora, em 2014, os leitores de língua inglesa se deparam com
um livro escrito por Gregor Weichbrodt – On
the road for 17527 miles – que esmiúça o trajeto do escritor Beat e sua
famosa jornada pela América. O autor é também seduzido por recursos como o Google Mapas
na reescritura desse trajeto. O GM, por exemplo, precisa a partir das inserções de Weichbrodt a quantidade de horas que Kerouac teria passado na estrada – 276h26 nas 17,527
milhas.
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