Boletim Letras 360º #58
Capa da 22ª edição da Revista Blimunda, projeto da Fundação José Saramago. |
Chegamos ao último fim de semana do mês de março. E ainda se
acumula aqui numa parte da redação deste blog uma pilha considerável de
leituras que já deveriam ter saído: Ondjaki, Mia Couto, Rodrigo Lacerda, Herta Müller, Elizabeth Bishop, Nuno
Camarneiro, João Tordo, Leonardo Chioda, Antonio Geraldo Figueiredo... E há mais! Mas, paremos! Chegaremos ao tempo de cumpri-las (temos fé nas Letras e no tempo). Até
agora tem dado certo; embora, nos últimos dias tenham se multiplicado as
atividades e entre essas leituras tenham se instalado. E há também outras leituras além das literárias a serem feitas. Enquanto
essas leituras não se concretizam, vamos voltar ao início da semana para rever
aquilo que a correria do tempo não nos permitiu acompanhar em nossas notícias
na página do Facebook. Para que os leitores não se surpreendam, esta foi a
semana mais portuguesa de todas! Verão já por que.
Segunda-feira, 24/02
>>> Portugal: 22ª edição da Revista Blimunda já está on-line e traz texto do
editor do blog Letras in.verso e re.verso
Blimunda é o nome de uma das personagens mais significativas
da obra de José Saramago. É também o nome de uma revista editada desde 2012
pela Fundação que leva o mesmo nome do escritor. Por aqui falamos acerca deste
projeto desde sua primeira edição e temos acompanhado cada edição mensal. A
edição de março deste ano já está on-line e traz uma rica entrevista com Valter Hugo Mãe, que comenta entre outras coisas, sobre o seu novo romance, A desumanização, texto que chega ao
Brasil, conforme dissemos também por aqui, no próximo mês de abril pela Cosac
Naify. A entrevista é acompanhada de imagens feitas pelo diretor de José e Pilar, Miguel Gonçalves Mendes,
que retratou Hugo Mãe na Islândia, cenário do novo romance. Há uma coluna que
indiretamente dialoga com uma data em passagem no calendário brasileiro; por
aqui vão-se cinquenta anos do horror de 1964. Em Portugal, que também passou
pela cortina de ferro, João Monteiro aborda o tema da censura no cinema durante
o Estado Novo. Na secção infantil e Juvenil, editada por Andreia Brites,
destaque para Maurice Sendak e uma entrevista à escritora e jornalista Carla
Maia de Almeida, a tradutora de Sendak em Portugal. A revista encerra com a Saramaguiana,
que neste mês – em que se assinala o Dia da Mulher – é ocupada por um ensaio de
Pedro Fernandes – editor do blog Letras
in.verso e re.verso e leitor da obra de José Saramago sobre as personagens
femininas no romance Claraboia. Para
baixar a edição é só ir aqui.
>>> Itália: Um
nome do Brasil ganha o Prêmio Hans Christian Andersen de ilustração
Roger Mello é autor e ilustrador com várias publicações
editadas desde 2003 pela Companhia das Letras. Agora, ele e o japonês
Nahoko Uehashi foram distinguidos com o Prêmio Hans Christian Andersen
2014. O artista foi considerado o melhor ilustrador pelo International Board on
Books for Young People (IBBY). Em comunicado, o IBBY destaca na obra de Roger
Mello as "suas ilustrações [que] são inovadoras e inclusivas e incorporam
imagens que promovem a tolerância e o respeito pelas culturas e tradições do
mundo". Os vencedores foram anunciados durante na Feira Internacional do
Livro Infantil e Juvenil de Bolonha.
>>> São Paulo: O livro de Mallarmé
“No fundo, o mundo é feito para acabar num belo livro” – a citação
famosa de Mallarmé bem que poderia ser mote para esta notícia. E é. Desde o dia
20 de fevereiro o Centro Universitário Maria Antonia da USP inaugurou a programação
de 2014 da Biblioteca Gilda de Mello e Souza com uma exposição. “Mallarmé, O Livro”,
do artista austríaco radicado em Montreal, no Canadá, Klaus Scherübel. O ponto
de partida de Klaus Scherübel é o projeto do poeta francês Stéphane Mallarmé,
intitulado Le Livre – um livro
concebido como uma estrutura extremamente flexível que conteria “a totalidade
das relações existentes entre todas as coisas”. A proposta da exposição, assim,
implica materializar a contradição do projeto de Mallarmé. Scherübel dispõe no
espaço expositivo um vídeo, fotografias e objetos, com base em uma série de declarações
e anotações do poeta, como, por exemplo, as que especificam dimensões e outros
aspectos do livro. A exposição é uma iniciativa conjunta do Centro
Universitário Maria Antonia, com apoio do Bundesministerium für Unterricht,
Kunst und Kultur e do Conseil des arts et des lettres du Québec; é gratuita e
está aberta para visitação de terça a sexta-feira, das 10 às 21 horas, e de
domingo, sábado e feriados, das 10 às 20 horas, até dia 20 de abril. O endereço
é Rua Maria Antonia, 294, Consolação, São Paulo.
Terça-feira, 25/03
>>> Portugal: Correspondência entre Agustina
Bessa-Luís e José Régio será publicada
Sai pelo selo Guimarães da editora portuguesa babel. A
edição é apresentada já na próxima semana. Correspondência
Agustina-Régio reúne pela primeira vez a correspondência entre dois dos
mais significativos escritores do século XX. Ao todo são 58 cartas escritas
entre 1955 e 1968. Marcadas por um tom confessional – como convém ao hibridismo
do gênero – os textos permitem deslindar aspectos dos perfis biográficos e
tensões existentes entre os dois nomes da literatura portuguesa. Destaque ainda
para uma faceta até agora desconhecida: a da Agustina desenhista. "A sua
veia plástica é, por vezes, desconcertante e reveladora do seu lado
pragmático" – analisa Isabel Ponce de Leão no texto de prefácio à edição.
>>> Portugal: Publica-se inédito de Antonio
Tabucchi
Para Isabel chega
à data em que se cumprem dois anos da morte do escritor italiano de alma
portuguesa. Misto de romance fantástico, a narrativa se constrói pelo tema da
busca através da personagem Philip Marlowe, um metafísico. Para a editora
que publica a obra – Publicações D. Quixote - este é um “dos mais
extravagantes, visionários e ao mesmo tempo envolventes romances que a
literatura italiana alguma vez nos deu”. Entretanto, a obsessão de Tabucchi
pela alma portuguesa aí se apresenta no olhar que deita para a geografia da
terra de Fernando Pessoa – aí estão Lisboa, Barcelos, Cascais e a Arrábida.
Quarta-feira, 26/03
>>> Brasil: Biografia de Eça Queirós em breve nas
livrarias
Sai pela Ateliê Editorial até o fim de março uma
biografia de Eça de Queirós escrita por Alfredo Campos Matos, em que o
historiador se baseia na interpretação de documentos e comentários sobre o
escritor português. Não é a primeira vez que o autor de Os Maias é interesse para a editora. No catálogo da Ateliê é possível
encontrar textos como As cidades e as
serras, A ilustre casa de Ramires,
O primo Basílio, A relíquia, entre outros. A edição mais recente de uma obra de Eça,
foi Eça de Queirós/ Julio Pomar –
reunião de três textos curtos do grande escritor: "Carta a Eduardo
Prado" de A Correspondência de
Fradique Mendes; "Os Mortos", de Prosas Bárbaras, e "Cozinha Arqueológica", de Notas Contemporâneas, acompanhadas de
vinte desenhos do artista lisboeta.
>>> Brasil: Mais russos pelo caminho
De 1855 a 1863 foi publicada em oito volumes cerca de 600 textos
que recebeu o título de Contos populares
russos; o grandioso projeto foi idealizado e realizado por Aleksandr N.
Afanássiev. A coleção serve de base para O
conto popular russo, coletânea a ser editada ainda em 2014 pela Editora
Estação Liberdade. No Brasil, a ideia é organizada por Flávia Moino, cuja
dissertação de mestrado versou sobre Afanássiev e este gênero da literatura
russa.
Quinta-feira, 27/03
>>> Japão: Contos inéditos de Murakami
Há muito tempo dedicado ao romance, Haruki Murakami publica uma
antologia de contos. Nove anos separam da última edição do gênero. Intitulado
como Mulheres homens sim (versão
aportuguesada de Onna no Inai Otokotach).
A maioria dos textos ora publicados, entretanto, não é inédita; alguns já
apareceram em revistas mundo ao redor do mundo. Entre os textos, está um de 24
páginas que causou celeuma num povoado japonês. No conto, Murakami cria uma
conversa fictícia entre um ator viúvo de meia-idade e sua motorista, uma jovem
de 24 anos nascida no município. Quando ela joga um cigarro aceso pela janela
do motorista, o ator pensa: "Provavelmente, é algo que todo mudo faz em
Nakatonbetsu". Esta passagem foi, na época, o motivo da querela. Além
desses textos, há inéditos.
>>> Brasil: Salman Rushdie por aqui
O autor de Os versos
satânicos é um dos oito os convidados da sétima edição do Fronteiras
Do Pensamento. A conferência está marcada para o dia 12 de maio. A vinda de
Salman não é gratuita: o tema do evento este ano gira em torno da
intolerância, da ameaça aos direitos humanos e o escritor é um símbolo vivo da
intolerância por ter recebido a sentença de morte no Irã em 1989 e ter sido
obrigado a uma reclusão de mais de 10 anos recluso, sob a proteção dos serviços
secretos britânico. O evento discute ainda diversas vertentes do pensamento
contemporâneo: da física teórica à literatura e à crítica cultural. Salman vem
para a seções em Porto Alegre (RS) e São Paulo. Participam da programação nomes
como Ricardo Piglia, Mia Couto. Entre outros. A seção indicada neste post
corresponde a que será realizada na capital gaúcha. Mais informações, acessa aqui.
Sexta-feira, 28/03
>>> Noruega: Uma livraria dedicada exclusivamente a
oferecer aos leitores o Livro do
desassossego, de Fernando Pessoa
O escritor norueguês Christian Kjelstrup considera o Livro do Desassossego, a melhor obra
literária do mundo. Isso foi o suficiente para abrir hoje no centro de Oslo a
Livraria do Desassossego, onde venderá exclusivamente este título. A livraria
estará aberta ao público a partir do dia 02 de abril.
>>> Portugal: Vem a público conto inédito de
Agustina Bessa-Luís
O conto Colar de
Flores Bravias foi escrito em 1947 e chega às livrarias de Portugal já na
próxima semana, com ilustrações de Mónica Baldaque, filha da escritora. O texto
é publicado pela editora Labirinto de Letras e cita que ele foi escrito
"muitos anos depois de a autora abandonar a ficção luxuriante das suas
primeiras criações romanescas, para nos relatar episódios do seu contacto com o
mundo exterior". O conto "narra a aventura de passeios improvisados,
em férias escolares de setembro e na companhia duma prima convidada, através
duma quinta próxima das ruínas romanas da Cividade, ao norte de Bagunte",
em Vila do Conde. A obra inclui um texto analítico do professor de literatura
da Universidade de Coimbra José Carlos Seabra Pereira.
>>> Estados Unidos: Vem a lume conto inédito de Tennessee
Williams
Com o título de "Crazy Night" [ou Noite Louca],
foi publicado no mais recente número da revista estadunidense Strand, que ainda não chegou às bancas,
mas pode já ser encomendado no site da publicação aqui. Embora seja
sobretudo reconhecido como um dos maiores dramaturgos do século XX, Williams
escreveu também dois romances e um número considerável de textos breves, entre
as quais "A Noite da Iguana", adaptada ao cinema por John Huston. "Crazy Night" descreve uma desregrada festa de sexo e álcool num
campus universitário não identificado, e terá sido escrito no início dos anos
30 do século passado, quando o próprio Williams era estudante universitário. O
conto, até agora desconhecido, foi descoberto na Universidade do Texas por
Andrew Gulli, editor da Strand. Uma
das personagens de "Crazy Night" é uma estudante chamada Anna Jean,
provável alusão a Anna Jean Donnel, colega de universidade de Tennessee
Williams e uma das raras mulheres com quem o dramaturgo, homossexual, terá
chegado a manter um envolvimento romântico.
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