Boletim Letras 360º #51
Detalhe de capa de um catálogo para exposição de Paul Cézanne. O catálogo e uma série de outros materiais estão disponíveis on-line. Saiba mais ao longo deste boletim |
Mais um fim de semana! Mais um livro saindo da livraria para
as mãos de uma leitora do blog. Sim, realizamos já a primeira promoção de 2014.
Um exemplar de Poesia completa, de
Manoel de Barros. Queríamos ter dado mais exemplares, mas parece que poucos
leram efetivamente o regulamento da promoção e daí nem atingimos os cem
primeiros inscritos, mesmo o poeta sendo um dos mais curtidos, comentados e
partilhados na esfera facebookiana. Prova disso é que “pelejamos” (a modo de Quixote
com seus moinhos de vento) para encontrar o ganhador certo. A roleta rodou
cinco vezes para cair num ganhador que havida, de fato, lido e seguido, na
pontinha do dito, o regulamento da promoção. Não é mau. Só queremos um tantinho
mais de atenção dos leitores. Sabemos da correria de todos na web, mas se tem uma coisa que não estamos
nem aí, é pressa. Não queremos sucumbir de um ataque cardíaco. Por enquanto, ficamos
sossegados com os destaques em nossa linha do tempo durante a semana no
Facebook do Letras.
Segunda-feira, 03/02
>>> Irlanda: Dublinenses
para iPad
Este ano é celebrado o centenário de Dublinenses, um dos livros de James Joyce. Citado entre um dos
melhores do século XX, o livro está disponibilizado on-line através de um
aplicativo próprio para iPad. No formato de áudio-livro, trabalho que ficou a
cargo do ator Barry McGovern, a história ganha uma série de efeitos de som,
como trilha sonora própria. O leitor tem ainda acesso a imagens inéditas da
Dublin de Joyce, a desenhos arquitetônicos, vídeos com perfomances e
comentários da estudiosa Catriona Crowe e dos professores Anne Fogarty,
Gerardine Meaney e Harry White. O aplicativo é gratuito e foi desenvolvida pelo
Instituto de Humanidades da Universidade College de Dublin, em colaboração com
a empresa privada.
>>> Itália: Primeiro filme de Charlie Chaplin
celebra 100 anos
Making a Living
foi o primeiro filme do ator, então um ilustre desconhecido. A 2 de fevereiro
de 1914 foi exibida a curta-metragem de 13 minutos, no qual Chaplin aparece bem
diferente da personagem que acabaria mais tarde por marcar a sua carreira.
Neste seu primeiro filme, Charlie Chaplin interpreta um jornalista traiçoeiro,
bem vestido e com um bigode maior do que depois utilizaria com Charlot. Making a Living, da produtora Keystone,
foi o início de uma carreira que transformaria Chaplin numa das maiores
referências do cinema. Numa entrevista, o ator admitiu: "Vim para este
negócio pelo dinheiro e a arte apareceu depois. Se as pessoas estão desiludidas
com isso, não posso fazer nada. É a verdade." A sua infância foi difícil,
com os pais separados quando tinha 12 anos. O pai era alcoólico e a mãe acabou
por ser internada num manicômio. Chaplin estreou nos palcos aos cinco anos e
acabou marcando uma era no cinema com filmes como O Grande Ditador. Para ver o filme aqui.
Terça-feira, 04/02
>>> República Tcheca: Cabines literárias
Este trabalho é na verdade um encontro de dois objetos
condenados a reinventar-se ou desaparecer: as cabines para telefones fixos e as
bibliotecas. Dois jovens checos acabam de colocar em prática o projeto de
Bibliocabines. São mais de 5 mil das 13 mil cabinas de telefones na República
Tcheca, abandonadas, que continuarão a ser artefatos de comunicação: agora,
pela literatura. A ideia, entretanto, não é nova. Em 2006 se inaugurou a
primeira cabina literária em Conneticut várias outras cidades nos Estados
Unidos têm seguido a ideia (cf. já comentamos por aqui). Na Europa, é já comum
esses espaços na Grã Bretanha e na Alemanha.
>>> Brasil: Três novidades sobre Hilda Hilst nos 10
anos sem Hilda Hilst
1. Entre os lançamentos previstos está parte de um material
inédito encontrado na Casa do Sol, que inclui um livro infantil, poemas,
desenhos e textos em prosa de Hilda Hilst. Esse material ainda sem editora deve
ser organizado e lançado em breve;
2. A vida e a obra de Hilda Hilst também serão retratadas no
cinema e na TV. Um documentário dirigido por Gabriela Greeb deve começar a ser
filmado ainda esse ano e lançado em 2015, quando a Casa do Sol completará 50
anos (tendo como referência a data de construção, em 1965). Uma ficção também
deve entrar no forno, em breve, produzida e protagonizada por Tainá Müller, com
direção de Walter Carvalho, previsto para 2016;
3. Outros dois projetos audiovisuais importantes estão em
início de caminhada. O primeiro é um filme para TV, inspirado no livro Tu não te moves de ti. O roteiro foi
escrito por Mora Fuentes (pai de Daniel), morto em 2009, e contou com "a
leitura" da própria Hilda. "Todas as adaptações sobre a obra original
ganham uma legitimidade extra", comenta Fuentes. A outra produção é uma
série de oito episódios, cada um baseado em uma das peças de Hilda.
>>> Brasil: Arquivos Hilda Hilst
Um convite: ir ao nosso Tumblr para uma visualizar uma série
de arquivos da escritora Hilda Hilst, entre eles a reprodução de
datiloscritos de uma das oito peças teatrais escritas por ela: Auto da barca Camiri. O texto que foi
iniciado em 1967 e concluído no ano seguinte, parte de um fato histórico – a
morte do revolucionário argentino Che Guevara, ocorrido na Bolívia – para
construir, sem concessões, uma reflexão sobre sua época. Aqui.
>>> Espanha: Inédito de Lope de Vega
A Biblioteca Nacional da Espanha descobriu uma cópia
manuscrita de uma obra inédita de Lope de Vega, Mujeres y criados, que os catálogos literários davam por perdida.
Alejandro García Reidy, pesquisador do grupo PROLOPE da Universidade Autônoma
de Barcelona e professor da Universidade de Syracuse, falou que a obra será
publicada impressa e no formato digital. O manuscrito localizado é cópia datada
do século XVII e marca o fechamento de uma das mais importantes do chamado
Século de Ouro. A obra pertence ao gênero da comédia urbana o que coincide com
a prática escritural do autor, além de outros detalhes do ponto de vista da
construção da trama e das personagens.
Quarta-feira, 05/02
>>> Espanha: Livro reúne últimas reflexões de Juan
Gelman e um poema inédito
Uma coleção de textos, o último livro de prosa poética de
Gelman, intitulado Hoy foi
recentemente publicado na Argentina, terra natal do poeta. O livro reúne as
reflexões do poeta sobre os duros eventos políticos e sociais com quais
esteve envolvido direta ou indiretamente. Na Espanha esta edição receberá um
poema do próprio Gelman dado a Joaquín Sabina e que o jornal El país publicou semanas depois de sua
morte. Abaixo o poema em questão:
Verdad es
Cada dia
me acerco más a mi esqueleto.
Se está asomando con razón.
Lo metí en buenas y en feas sin preguntarle nada,
él siempre preguntándome, sin ver
cómo era la dicha o la desdicha,
sin quejarse, sin
distancias efímeras de mí.
Ahora que otea casi
el aire alrededor,
qué pensará la clavícula rota,
joya espléndida, rodillas
que arrastré sobre piedras
entre perdones falsos, etcétera.
Esqueleto saqueado, pronto
no estorbará tu vista ninguna veleidad.
Quinta-feira, 06/02
>>> Estados Unidos: Livros com efeitos especiais
O MIT Media Lab apresentou no mês de dezembro de 2013 o
protótipo de um livro que muda de temperatura e ambientação em função se
desenvolve a narrativa e as emoções que busca gerar no leitor. A capa tem uma
série de luzes LED que mudam de cor à medida que avança a trama. O leitor é
tocado também através de uma espécie recursos introduzidos no protótipo, que
ora vibra ora faz pressão ora produz temperatura diversa em determinados
pontos. O projeto é parte do programa Sensory Fiction que desenvolve protótipos
funcionais inspirados em fantasias da ficção científica. A história escolhida
para este caso é um conto da escritora de ficção científica James Tiptree Jr
(pseudônimo para Alice B. Sheldon): "Uma menina ligada". Imaginem se
isso populariza?
>>> Brasil: Nas livrarias o novo título de Ondjaki
Bom dia, camaradas
foi o primeiro romance de Ondjaki. Publicado em 2001 e agora, enfim, chega ao
Brasil. O Prêmio José Saramago volta a uma Luanda dos anos 1980 com professores
cubanos, escolas entoando hinos matinais e jovens de classe média para tratar
das desigualdades sociais e os conflitos entre modernidade e tradição. Narrado
pelo olhar lírico de um garoto, o leitor é levado a uma Angola que acabou de se
tornar independente e é obrigada a repensar as regras sociais e a questionar as
causas da desigualdade. Ondjaki nos conduz aos pequenos acontecimentos do
cotidiano que mostram como é preciso mais que um decreto para que as mudanças
de fato aconteçam. O livro é publicado pela Companhia das Letras.
Sexta-feira, 07/02
>>> Estados Unidos: Uma série de catálogos com
trabalhos de artistas de renome on-line
A Fundação J. Paul Getty de Los Angeles acaba de inaugurar
uma biblioteca virtual com 250 títulos editados por seu selo editorial. Parece
una cifra pequena, mas se trata da coleção de catálogos do Museu e suas
exposições, que incluem estudos e notas de especialistas sobre Impressionismo,
manuscritos renascentistas, fotografia do século XIX e XX e preservação
arqueológica. A biblioteca, que se irá ampliando pouco a pouco, oferece a
possibilidade de ler online o descarregar em PDF os títulos. Algumas joias que
agora se pode ver são a coleção dos melhores manuscritos ilustrados produzidos
na Europa entre 1467 y 1561, em pleno auge da ilustração flamenca, as aquarelas
de naturezas mortas de Paul Cézanne, pintadas nos seus últimos anos de vida ou
o fac-símile Historia general del Piru,
una reprodução do detalhado manuscrito sobre o Peru escrito e ilustrado em 1616
pelo frei Martín de Murúa. Aqui.
>>> Brasil: Entre nós a prosa de Elizabeth Bishop
Sim, ela foi um dos grandes nomes da poesia contemporânea. E o Brasil teve a sorte de abrigar entre as décadas de 1950 e 1970, a também viajante Elizabeth Bishop. Não menos genial, sua prosa aparece agora reunida numa bela edição da Companhia das Letras, com tradução e notas do também poeta Paulo Henriques Britto. A edição inclui a maioria dos textos publicados anteriormente em Esforços do afeto e outras histórias (Companhia das Letras, 1996) e acrescenta uma seleção do material divulgado em Prose, livro organizado pelo crítico e poeta Lloyd Schwartz, com artigos que tematizam o Brasil, a correspondência com Anne Stevenson e, para exemplificar a produção juvenil de Bishop, uma análise da poesia de Gerard Manley Hopkins, produzida quando a autora era estudante universitária. Além de um deleite literário – com uma ficção que beira o memorialismo e memórias e ensaios que bem poderiam ser ficções –, este é também um livro indispensável para se conhecer as fontes concretas da poesia de Bishop.
Sim, ela foi um dos grandes nomes da poesia contemporânea. E o Brasil teve a sorte de abrigar entre as décadas de 1950 e 1970, a também viajante Elizabeth Bishop. Não menos genial, sua prosa aparece agora reunida numa bela edição da Companhia das Letras, com tradução e notas do também poeta Paulo Henriques Britto. A edição inclui a maioria dos textos publicados anteriormente em Esforços do afeto e outras histórias (Companhia das Letras, 1996) e acrescenta uma seleção do material divulgado em Prose, livro organizado pelo crítico e poeta Lloyd Schwartz, com artigos que tematizam o Brasil, a correspondência com Anne Stevenson e, para exemplificar a produção juvenil de Bishop, uma análise da poesia de Gerard Manley Hopkins, produzida quando a autora era estudante universitária. Além de um deleite literário – com uma ficção que beira o memorialismo e memórias e ensaios que bem poderiam ser ficções –, este é também um livro indispensável para se conhecer as fontes concretas da poesia de Bishop.
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