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Mostrando postagens de janeiro, 2014

Quando a literatura é motivo para comercias de... perfume

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David Lynch não é apenas um dos grandes diretores de cinema, produtor de imagens e histórias que têm feito a cabeça de muitos cinéfilos desde há quase quatro décadas. Ele também teve uma temporada de sucesso como diretor comercial, fazendo anúncios para entre outras empresas  Alka-Seltzer, Barilla Massas e Georgia Coffee. Privilégio para poucos, vê-se. Em 1988, depois do sucesso com Blue Velvet e pouco antes de começar um seriado que se tornaria marco para a TV, Twin Peaks , ele fez seus primeiros comerciais – um quarteto de propagandas para o perfume Obsession, da Calvin Klein. Até aí tudo bem. Mas, há propagandas e propagandas. Essas, em específico, bebiam diretamente de alguns clássicos da literatura, como F. Scott Fitzgerald, D. H. Lawrence e Ernest Hemingway. Há ainda rumores de outro comercial disponibilizado a pouco no Youtube, que é atribuído ao diretor e que usa da literatura de Gustave Flaubert. Os comerciais seguem um padrão específico. Filmados todos em preto e br

Vontade

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Por Rafael Kafka Hora de me nadificar. De fazer de minha cabeça um grande vazio repleto de liberdade. Não me prender a determinações feitas por sentimentos passageiros. Pois nessa vida tudo é passageiro e apenas de eterno tenho o medo do fim. A sensação de término. Quero me libertar de meus grilhões e sofrer de um modo diferente: seguir meus passos pelas ruas, sem me preocupar em ficar parado em algum canto. Eu vejo o sorriso dela se distanciando. Sinto a ansiedade brotar em mim, o desespero se condensar em falta de autoconhecimento. O sono tenta me derrubar, enquanto eu tento seguir minha vida mesmo com esse sentimento de vazio em meu redor. A revolta de não querer perder tempo, o desejo de curtir uma xícara de café acompanhada de um bom livro, ou mesmo um beijo bem dado em alguém que me alegra, ou quem sabe um boa soneca dada sem culpa alguma para curtir a sensação de cansaço satisfeito. Os fantasmas vêm e tiram meu foco desses pequenos prazeres. Mas o fantasmas

Pequeno perfil de um escritor potiguar: Moacy Cirne

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Por Thiago Gonzaga o seriado que eu vivi não teve fim, acabou, continua na próxima semana com a dor que ficou. Moacy Cirne Moacy Cirne nasceu em 13 de março de 1943, filho de Luiz da Costa Cirne e Nadi da Silva Cirne. Sertanejo de Jardim do Seridó, habitou os primeiros anos em Caicó, vivência que tentou sempre cantar e resgatar em sua poesia, revelando a importância marcante da paisagem da infância em sua formação. Estudou no Colégio Santo Antônio, dos Irmãos Maristas, em Natal, e frequentou a Faculdade de Direito, que abandonou para dedicar-se ao jornalismo e à comunicação. Moacy Cirne foi um importante e reconhecido colecionador e estudioso de histórias em quadrinhos e aficionado por cinema, chegando a lançar vários livros sobre o tema. Também ficou conhecido nacionalmente como um teórico da literatura de quadrinhos. No Rio Grande do Norte existe um Prêmio na área com o seu nome. Muito jovem, revelou tendências literárias, participando de grupos intel

a máquina de fazer espanhóis, de valter hugo mãe

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Edição brasileira de a máquina de fazer espanhóis publicada pela Cosac Naify Estruturado em vinte e dois capítulos, cada um com títulos, alguns como se fossem sentenças – “a brancura é um estágio para a desintegração final”, “o amor é uma estupidez intermitente mas universal”, “o tempo não é linear”, “deus é uma cobiça que temos dentro de nós” – este é o quarto romance de valter hugo mãe (até aqui ainda em minúsculas com breves incursões pelas maiúsculas). Diria, para efeito, que este é também o mais acabado e o melhor romance do escritor português, embora cada um de seus trabalhos no gênero tenham rumos diferenciados a ponto de que um julgamento dessa natureza possa ser percebido apenas como uma comparação errônea de sua obra, possibilidade que logo descarto por saber que na diferença também é possível estabelecer paralelas. Este julgamento, portanto, guia-se apenas pela via de destacá-lo do conjunto de sua obra, uma vez que, temos atestado essa teimosia do escritor em se faz

O manuscrito em que Virginia Woolf anuncia o seu suicídio

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Parece uma prática muito mórbida e desumana até tratar a nota de suicídio como uma peça de literatura, mesmo que o autor da referida nota seja um escritor tão famoso quanto Virginia Woolf. Mas, por que isso? Há, é verdade, variados ângulos das objeções éticas que rondam uma situação do tipo, mas tocar no assunto está longe de ser algo indecente. A morte tem sido em muitas vezes uma ocasião literária: a longa tradição das últimas palavras varia de confissões no leito de morte para o gênero estranhamente teatral do discurso antes da forca (ver Sócrates, Anne Boleyen ou John Brown). Como grandes figuras inesquecíveis da história, as últimas palavras da vida de Virginia Woolf reúnem elementos para compreender melhor o fato, seja o leitor leigo, seja o leitor pesquisador sobre sua biografia. Antes desse bilhete escrito em março de 1941 e deixado sobre a lareira de casa para seu companheiro Leonard, Virginia terá produzido outras escritas em que prenunciava o gesto que tomaria c

Boletim Letras 360º #49

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Novo cartaz para Enemy , adaptação de O homem duplicado , de José Saramago. Novidades sobre o filme neste boletim. Depois da primeira semana de nosso retorno estamos já a pleno vapor! Na próxima semana temos mais novidades – estejam atentos! Por enquanto estamos navegando nos versos de Manoel de Barros, o fazedor de nadas mais significativo da poesia brasileira. Não é à toa: estamos em vésperas de realizar nossa primeira promoção de 2014, valendo como brinde, exemplares do seu Poesia completa . Vê o fim deste BO que tem um atalho para ver/ler o regulamento para se inscrever e participar. É coisa simples! Antes, um tour pelo que foi notícia em nossa página no Facebook. Segunda-feira, 20/01 >>> Brasil: Publica-se em edição bilíngue O colóquio dos cães , texto menos conhecido de Cervantes É de conhecimento de todos a forma diversa com que se apresenta no Brasil edições do Dom Quixote , o texto mais conhecido de Miguel de Cervantes. O que pouca gente con

Ao lado de Clarice

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  Por Cesar Kiraly Ilustração: Catarina Sobral § olhava para os braços brancos e percebia perfeitamente a forma dos dedos um pouco mais brutos, mas bem recebidos. se Freud havia se encantado com o bloco mágico; a sensibilidade de todos os seus capilares - um por um sob invocação dos nomes próprios - era mais do que qualquer tábula rasa, mais do que qualquer placa de gesso. na coxa, pontas bem roxas de quinas, sobrepostas a rodelas já amarelas. era isso a vida, uma topada. distraída soubera a dor como um preço baixo pela vida mais intensa. era isso a sorte, poder ver cada um dos lances sem dados no corpo. doce evidência constante de saber da vida um - traço. § se um camarada se joga de um penhasco, sabendo que terá vontade de se segurar, e quando cai, tem vontade de se segurar, a coisa não parece grande coisa. a mesma coisa, não é surpresa ter vontade de respirar quando se coloca a cabeça debaixo d'água. qualquer cético poderia ter dito a Descartes que ele teria von

As ilustrações de John Dos Passos para livro de Blaise Cendrars

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Autógrafos de Blaise Cendrars e John Dos Passos A poesia de Blaise Cendrars foi parte de uma grande onda criativa que se espalhou pelo mundo inteiro a partir da Paris de antes da última guerra europeia. Sob várias palavras-chaves –  futurismo, cubismo, vorticismo, ou modernismo – a maioria dos melhores trabalhos nas artes em nosso tempo tem sido o produto direto dessa explosão, que teve uma influência na sua esfera comparável com a da Revolução de Outubro na organização social e política e a fórmula de Einstein em física. Cendrars e Apollinaire, ambos poetas, estavam nas primeiras barricadas cubistas com o grupo que incluíam Picasso, Modigliani, Marinetti, Chagall, que influenciou profundamente Maiakovski, Meyerhold, Eisenstein, e cujas ideias chegaram a Joyce, Gertrude Stein, T. S. Eliot... Cendrars também teve ligação com o grupo modernista brasileiro e chegou a escrever uma série de poemas de quando esteve por São Paulo, Rio de Janeiro e cidades históricas de Minas Gerais em

O lobo de Wall Street, de Martin Scorsese

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Conta-se que Leonardo DiCaprio renovou em Martin Scorsese o interesse por contar histórias para o cinema; os agradecimentos do ator enquanto recebia o Globo de Ouro ao diretor dizia dessa renovação ao contrário: a criatura agradecendo ao criador por acreditar em sua capacidade. O fato é que, no universo da arte (e em qualquer outro universo) quando dois apaixonados naquilo que fazem se encontram acontecem dessas coisas raras. Que o Scorsese, mesmo com algumas obras não tão significativas no currículo, tornou-se, nos últimos anos, uma espécie de designativo para algo de bom a vir para a tela tão saturada de bobagens é já uma verdade quase inquestionável.  É como se o nome do diretor substituísse, por vezes, o nome da obra. Podemos não nos lembrar do título do filme, mas, logo dizemos, aquele filme do Scorsese, para de imediato completar, Scorsese é Scorsese. O mesmo se dá com DiCaprio. Na mesma situação de não nos lembrar do título do filme dizemos, aquele filme com Leonardo DiCa

Balanço final, de Simone de Beauvoir

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Por Rafael Kafka Simone de Beauvoir em seu apartamento em Paris, 1985. Foto: Gérard Gastaud Simone de Beauvoir se apaixonou tanto pelas palavras que fez questão de registrar todo o mistério transparente da existência (sua outra paixão) em livros repletos de vigor e vida. As suas memórias arrastam-se desde a mais tenra juventude com suas Memórias de uma moça bem comportada , passando por A força da idade e A força das coisas até chegar a Balanço final . Além desses, há A cerimônia do adeus em que a autora se preocupa mais em relatar os últimos anos de vida de seu companheiro de toda vida, Jean-Paul Sartre. Mesmo em seus romances, Simone coloca diversas passagens de sua vida pessoal. O exemplo mais claro disso fica por conta de A convidada , livro no qual ela aborda o triângulo amoroso vivido entre ela, Sartre e sua aluna Olga. Em seu ensaio O segundo sexo , o segundo tomo é todo dedicado à experiência vivida pelas mulheres, citando um sem número de fatos concernentes à

A Papoila e o Monge, de José Tolentino Mendonça (Parte II)

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Por Pedro Belo Clara Retomando a análise da obra apresentada na anterior publicação desta coluna – o mais recente trabalho poético de José Tolentino Mendonça –, focaremos agora a nossa atenção no segundo volume (de seis, recordo) que compõe este livro. Neste capítulo, o mais longo de todos os que constituem a obra, encontram-se reunidos quarenta e nove haikus sob a epígrafe “Vida Monástica”. A ligação do autor ao catolicismo é evidente e por diversas ocasiões foi referida em anteriores textos por minha mão assinados. Assim, o retorno do autor a estes temas não deve constituir um motivo de surpresa. O divino é uma constante na temática de Tolentino, que amiúde o apresenta sob uma só forma informe que assume a maior multiplicidade de formas possíveis, sublinhando desse modo a Sua inquestionável omnipresença. Daqui se poderá assumir a intenção do autor em transmitir a seguinte mensagem: não existe um só caminho até Deus, uma vez que Ele se encontra em toda a parte e assume