Boletim Letras 360º #44
O nosso primeiro boletim de Natal; era para ser a imagem que
ilustra um Papai Noel leitor. Mas, não vamos muito com a cara de certos valores
capitais, portanto, um Papai Noel, ainda que leitor é figura para segundo
plano. Era para ser ainda uma imagem com o feito inédito da design Charlene
Matthews que gravou todo o Ulysses,
de James Joyce em troncos de madeira. Mas, unindo a data ao pretexto do blog, e
ainda mais porque hoje assinala a passagem dos 73 anos da morte do escritor F.
Scott Fitzgerald, imagem melhor não há para esse boletim se não a da família
Fitzgerald em ritmo de Natal.
E não só isso; vamos rever tradições. Siga nossa campanha no
Facebook: “Neste Natal, não dê meias, dê livros de presente!” Lembrem-se,
lembrem-se disso: eles, os livros, rendem mais, ah, muito mais, que as meias!
Veja nosso banner e partilhe essa ideia.
*
Este boletim também anuncia nossa tradicional quebra de
ritmo até meados de Janeiro, quando tudo, espera-se, volta às engrenagens. Esses
boletins, por exemplo, estarão publicados religiosamente nos sábados pela
manhã; e as outras redes a que este blog pertence (Facebook, Twitter, Google+,
Instagram, Tumblr) estarão também mais preguiçosas, mas sempre ativas. Por
isso, mesmo de férias, pode rolar entre uma leitura e outra, uma farra e outra,
uma espiada – seja no smartphone, no tablet, no computador, onde for – para ver
o que aqui se passa.
Outra: apesar de pipocarem já por todos os lugares as
tradicionais listinhas de fim de ano, por aqui, somos um tanto mais pacientes. E
estamos já preparando a nossa, mas só vai on-line no dia 31. Ninguém vai ver
nessa data, provavelmente, mas estará por aqui. Dizemos isso, porque todos já devem
estar tão na correria que nem atentaram a promoção que ensaiávamos no Boletim
passado, motivo pelo qual um de nossos leitores foi à página do blog no
Facebook fazê-la de muro das lamentações.
Bom, a prosa está boa, mas vamos lá saber o que foi notícia
nesse muro de lamentações:
Segunda-feira, 16/12
>>> Brasil: Reedição de Os Maias, de Eça de Queiroz
Sai pela coleção Clássicos Zahar, que já publicou em edições
de luxo obras como Alice no país das
maravilhas, de Lewis Carroll, e Os
Três Mosqueteiros, de Alexandre Dumas. A edição terá apresentação de Mônica
Figueiredo, notas, cronologia e anexo sobre as ilustrações, inéditas em livro.
Elas foram criadas pelo arquiteto Wladimir Alves de Souza, integrante do grupo
de fãs do autor que, nos anos 1950, criou o chamado Clube do Eça.
>>> Brasil: Luis Fernando Verissimo cai no samba em
2014
Não só ele: Ed Mort, a Velhinha de Taubaté, as Cobras e
muitos outros de seus personagens estarão dançando na passarela em 2014. O
autor é o tema do desfile da escola gaúcha Imperadores do Samba.
>>> Portugal: Mais uma importante voz que se cala?
Maria Velho da Costa diz que não mais escreverá. O anúncio
foi feito depois da cerimônia de entrega do Prêmio Vida Literária, da
Associação Portuguesa de Escritores. A escritora, que já Prêmio Camões 2002,
afirmou com ironia que “não se trata de uma decisão irrevogável”, não
escreverá, mas também não se irá afastar da literatura. Consagrada, já em 1969,
com o romance Maina Mendes, Maria
Velho da Costa tornou-se mais conhecida depois da polêmica em torno das Novas Cartas Portuguesas (1972), obra em
que se manifesta uma aberta oposição aos valores femininos tradicionais e que
por este teor foi levado ao tribunal durante a ditadura militar.
Terça-feira, 17/12
>>> Brasil: Reedição de Elegias de Duíno, de Rainer Maria Rilke
Em 2013, a Companhia das Letras trouxe a lume um livro com um
conjunto de poemas de Rainer Maria Rilke. O ano finda com mais uma novidade em
torno do poeta: a tradução de Dora Ferreira da Silva, para Elegias de Duíno, há muito fora de
catálogo, será reeditada pela Globo Livros. Considerada uma das principais
obras líricas em língua alemã, Elegias de
Duíno reúne os dez poemas escritos por Rainer Maria Rilke entre 1912 e 1922
no Castelo de Duíno, próximo à província de Trieste, na Itália. A nova
edição vem acompanhada de comentários biográficos e textuais, além dos poemas
originais, escritos em alemão.
>>> Inglaterra: O clima na Terra Média, de J R R
Tolkien
Dia desses foi a criação pelo Google Maps de um mapa
interativo da Terra Média. Agora, os cientistas britânicos tiveram a curiosa
ideia de passar a Terra Média criada pelo escritor britânico J.R.R.Tolkien pelo
filtro dos mais recentes modelos climáticos. Os climatologistas da Universidade
de Bristol publicaram suas descobertas em um estudo assinado pelo feiticeiro
Radagast, o Castanho, “provavelmente o primeiro especialista em meio
ambiente”, segundo eles. Com base nos mapas desenhados por Tolkien (1892-1973)
e extensivamente desenvolvidos desde então, os pesquisadores injetaram a
geografia da Terra Média em modelos de computador do mesmo tipo que os
utilizados para a nossa boa e velha Terra pelo IPCC, o Painel
Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, a rede científica criada sob a
égide da ONU há 25 anos. Para os fãs de Tolkien ou curiosos, os cientistas
chegara a publicar uma versão do estudo traduzido em alfabeto élfico, aqui, e um outro em runas dos anões, aqui.
>>> Brasil: O retorno de um clássico do pensamento
ocidental
Minima Moralia, de
Theodor W. Adorno aparece em nova roupagem e em nova tradução pela Azougue
Editorial. Já havia algum tempo que este livro andava ausente das prateleiras
das livrarias brasileiras. “Todos os que se interessam pelas marcas
que o mundo tal como é deixa na vida cotidiana têm o que pensar nesse conjunto
de pequenos textos agudos e provocantes” – enuncia a sinopse preparada
pela editora. De fato.
>>> Brasil: Mais de 70 obras criadas originalmente
para ilustrar livros infantis poderão ser vistas na 1ª Mostra de Arte Contemporânea
em Literatura Infantil
Em cartaz na Caixa Cultural de São Paulo. A exposição passou
pelo Rio de Janeiro em 2012 e na época contava com 29 trabalhos. As
ilustrações foram feitas por artistas nacionais e internacionais. Estão nomes
de brasileiros como Fernando Vilela, Renato Moriconi e Favish Tubenchlak. Já o
grupo internacional, Juliana Bollini, da Argentina, Ofra Amit, de Israel e John
Parra, dos Estados Unidos. A exposição foi idealizada por Favish Tubenchlak,
autor do livro A Deusa, o Herói, o
Centauro e a Justa Medida, e tem co-curadoria da especialista em literatura
infantojuvenil Aline Pereira. Tubenchlak pretende chamar atenção para obras que
ganham independência em relação ao livro do qual saíram. A mostra é gratuita e
fica em cartaz até 16 de fevereiro de 2014.
Quarta-feira, 18/12
>>> Suécia: A trilogia Millennium vai ganhar seu quarto livro
A série do sueco Stieg Larsson ganhará um novo volume a ser
escrito por um outro autor. Larsson morreu em 2004, antes de ver o sucesso de
sua obra. Quem assume a responsabilidade é David Lagercrantz, co-autor da
biografia do jogador de futebol Zlatan Ibrahimovic. Lagercrantz terá a missão
de continuar a saga da hacker Lisbeth Salander e do jornalista Mikael
Blomqvist. A previsão de lançamento do quarto volume é para agosto de 2015; o
autor não aproveitará nada do material deixado por Larsson, que já havia
começado o quarto livro, quando morreu, em 2004, vítima de um ataque cardíaco.
A viúva de Larsson, Eva Gabrielsson criticou a decisão da editora. Eva, que
está em disputa com a família do autor sobre os direitos de sua obra, declarou
ao jornal sueco Aftonbladet que
considerou a decisão “desagradável”, “de mau gosto” e uma
jogada apenas para fazer dinheiro em cima do trabalho de escritor morto. No
Brasil, a trilogia foi publicada pela Companhia das Letras como Os homens que não amavam as mulheres, A menina que brincava com fogo e A rainha do castelo de ar.
>>> Inglaterra: Mais um rico tesouro que vai parar
na web
Cerca de um milhão de imagens dos séculos XVII, XVIII e XIX
integram o imenso catálogo gráfico que a Biblioteca Britânica passou a oferecer
na internet de forma gratuita, por meio de sua conta no Flickr, a todos aqueles
usuários que desejam baixá-las. A coleção tem material de interesses
variados (histórico, político, científico, ficção etc.) e, desde que foi
colocada online, na sexta-feira, já recebeu mais de 6 milhões de visitas.
Com sede em Londres, a Biblioteca Britânica, uma das de maior prestigio do
mundo, lançará no começo do ano um aplicativo para que todo mundo possa
colaborar com suas ideias e achados sobre o legado histórico de um acervo que
ficou fechado por séculos. De fato, a origem e a história de algumas das
imagens seguem sendo um mistério para a biblioteca. Para acesso basta ir aqui.
>>> Brasil: Mais uma edição de luxo de livro de
Moacyr Scliar
Primeiro foi o já clássico Max e os felinos, agora A
guerra no Bom Fim que a L&PM Editores edita com capa dura -
uma nova vertente da editora. Lançado originalmente em 1972, em plena ditadura
militar, A guerra no Bom Fim é o
primeiro romance de Moacyr Scliar: a história de Joel, que relembra seus tempos
de menino judeu, quando vivia com a família na Porto Alegre dos anos 40, em
pleno bairro Bom Fim, o coração judaico da cidade. Com este belo romance de
formação, Scliar testemunha a necessidade de lançar novas luzes sobre o passado
e a identidade nacional. Por falar em Moacyr Scliar, aquela página na internet
sobre a qual comentamos por aqui, já está há muito on-line. Viram?
>>> Estados Unidos: Que filmes você adicionaria
numa lista de títulos a serem eternamente preservados?
A Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos, uma das maiores do mundo,
reconhece que “filmes mais antigos correm o risco de se perder” e é
dever “protegê-los para garantir a permanência da herança criativa e
cinematográfica”. Anualmente a lista recebe novos títulos. Em 2013 listou
25 títulos que demonstram a vitalidade e a diversidade extremas do nosso cinema
estadunidense. Na lista, estão clássicos como Pulp fiction, de Quentin Tarantino; Mary Poppins, de Robert Stevenson; Os eleitos, de Philip Kauffman; Gilda,
de Charles Vidor; Quem tem medo de
Virginia Woolf?, de Mike Nichols; e Sete
homens e um destino, western de John Sturges. Entre as produções
menos conhecidas estão Daughter of Dawn,
de 1920, a primeira a contar com um elenco completamente formado por indígenas;
Ella Cinders, de Alfred Green, de
1926; Decasia, de Bill Morrison,
lançado em 2002; e Idade perigosa, de
William Wellman, de 1933. Outros destaques da lista são o documentário Roger e eu, de Michael Moore (1994), e O homem tranquilo, com John Wayne
(1952).
Quinta-feira, 19/12
>>> Israel: A poesia de T. S. Eliot como mote para
a música clássica
O jovem pianista israelense Matan Porat veste a persona de
Ulisses e constrói uma odisseia pianística usando os versos de T. S. Eliot como
mote de seu original CD, recém-lançado pelo selo Mirare e intitulado Variações sobre um tema de Scarlatti. O
pianista teve a ideia quando ouviu pela primeira vez a Sonata em Ré Menor K.
32, de Domenico Scarlatti. Porat pinça peças curtas ao longo da história,
encaixando-as de modo a uma deixar encaminhada a solução criativa à seguinte. O
CD deve ser ouvido inteiro como se fosse uma só obra – orgânica em sua
diversidade, plural em sua essência.
>>> Espanha: “José Saramago por José
Saramago”
A voz de José Saramago se pode ler. As palavras que
pronunciou em palestras e conferências não se perderam no ar. O professor Joan
Morales gravou parte das intervenções saramaguianas e as traduziu para o
espanhol organizando-as por temáticas no livro Saramago por José Saramago. A editora El Páramo lança esta
publicação, que tem prefácio de Julio Anguita e posfácio de Pilar del Río.
>>> Brasil: Mochilão nos passos de Shakespeare -
boa pedida aos que estarão de férias e pretendem dar um pulinho na Europa
Em 2014 será o ano de Shakespeare; comemora-se os 450 anos
do dramaturgo inglês, conhecido mundialmente por textos como Romeu e Julieta, Hamlet e MacBeth. A CI, empresa de intercâmbio e turismo jovem do Brasil,
criou o Mochilão Shakespeare, um roteiro exclusivo que levará o viajante a
passar pelos lugares que contam detalhes da história do dramaturgo. Já pensou
poder conhecer os lugares em que Shakespeare cresceu ou, quem sabe, até se
inspirou para escrever suas grandes obras? Pois bem: mais informações, é só
entrar no site oficial da agência.
Sexta-feira, 20/12
>>> Estados Unidos: Que tal uma forma inusitada de
ler Ulysses, de James Joyce? Pois,
presta muita atenção na atitude dessa estadunidense:
Em 30 de outubro de 1921, James Joyce colocou um ponto final
em seu romance; noventa anos depois, em 30 de outubro de2013, Charlene
Matthews, também põe um ponto final em Ulysses. O
trabalho levou dois anos; a novidade é que Matthews compilou todo o texto de Ulysses - os seus cerca de 265 mil
verbetes e dezoito episódios - a mão em trinta e oito postes de madeira de dois
metros de altura, duas polegadas de diâmetro cada. Ulysses como se uma paisagem arbórea. Tudo está registrado aqui.
>>> Portugal: 19ª edição da revista Blimunda
Nas páginas da revista da Fundação José Saramago, o
grande destaque está na celebração dos 15 anos da entrega do Prêmio Nobel de
Literatura a José Saramago: um dossiê com depoimentos de amigos, editores e jornalistas
que acompanharam esses dias e que com o escritor viveram as emoções daqueles
dias de Estocolmo. Também neste número o discurso do escritor Nuno Júdice,
lido por ocasião da recepção do Prêmio Rainha Sofia de Poesia Ibero Americana,
no 27 de novembro. Para fazer baixar a edição em PDF.
>>> Brasil: Mais um Quintana inusitado
A editora Alfaguara Brasil que tem se dedicado à reedição
da obra do poeta apresenta Preparativos
de viagem, livro em que Mario Quintana opta pelo encontro entre o passado e
o futuro em momentos fugazes. “A coleção de poemas dá testemunho de que,
conforme o tempo passava para o poeta, a alegria de viver vinha cada vez mais
se sobrepor à melancolia, abrindo inclusive espaço para a manifestação discreta
de um erotismo desabrido. No livro, o octogenário poeta prefere lembrar a
excitação alegre que tomava conta dele, quando criança, em véspera de viagem com
a família. Essa emoção é o que resume o sentido da vida, na poesia do
autor.”
>>> Itália: Leis de incentivo à leitura dão
abatimento às compras de livros e, agora, poderão os italianos ter até 19% de
desconto no imposto de renda
A crise econômica não poupado muitos dos países europeus e a
Itália tendo os piores números no mercado editorial resolveu criar alguns
incentivos inusitados para incentivar o consumo de leitura e estimular o setor.
Primeiro, foi o reality show Masterpiece, uma competição entre autores tem
surpreendido a crítica. Agora, o conselho de ministros do governo italiano
aprovou o abatimento de 19% do imposto de renda para pessoas que compram
livros. O desconto tem um limite anual de 2 mil euros e faz parte do programa Destino Itália, que visa fomentar o investimento doméstico e
negócios estrangeiros no país. Antes, os italianos já contavam com abatimento
de impostos sobre a compra de livros. Mesmo ainda distante da crise, o Brasil
poderia pensar em alternativas do gênero, não acham?
..........................
Comentários