W. H. Auden
W. H. Auden foi um dos nomes mais significativos da poesia
do século XX. Partindo da experiência do modernismo foi quem melhor soube
aproveitar as contribuições de Ezra Pound e T. S. Eliot, mas afastando-se
radicalmente pelo seu reacionarismo político para expressar-se numa linguagem
extremamente pessoal que nem por isso perde de vista as grandes questões de seu
tempo. Não se reduziu ao fenômeno poético; escreveu crítica literária, peças
para teatro e ao longo de sua carreira, colaborou com nomes como Christopher
Isherwood e Louis MacNeice e junto com Chester Kalman chegou a criar libretos
para obras musicais a partir de Stravinsky, Mozart, entre outros.
Cresceu em Birmingham, na Inglaterra, e ficou conhecido,
antes de sua poesia como alguém de acurada inteligência e sagacidade extraordinária.
Seu primeiro livro, Poemas, foi publicado
em 1928 com ajuda de T. S. Eliot. Pouco antes de a Segunda Guerra Mundial
estourar, Auden emigrou para os Estados Unidos, onde conheceu o poeta Chester Kallman,
que se tornou seu amante ao longo da vida. Em 1948, ganhou o Prêmio Pulitzer. Grande parte
de sua poesia está preocupada com questões morais e evidências de um contexto
político, social e psicológico fortes.
Embora os ensinamentos de Marx e Freud tenham pesado sobre
os seus trabalhos de início de carreira, mais tarde, sua poesia ganhou lugar
pelas influências religiosas e espirituais, sem cair num lirismo barato. Aliás,
grande parte da crítica tem lido a obra de Auden como um “produto
antirromântico”; Auden foi um poeta de clareza analítica que procurou, por fim,
padrões universais da existência humana. De forte caráter versátil e inventivo,
seus poemas vão desde o modelo versicular ao poema de largo comprimento,
incorporando em ambos os casos uma vasta gama de elementos científicos.
Nascido numa região industrial do norte da Inglaterra, filho
de pai médico com vasto conhecimento em mitologia e folclore e de mãe anglicana
ortodoxa, todas essas nuances foram incorporadas por ele como elementos de
forte influência sobre seu trabalho poético. Embora tenha se tornado “mestre em
poesia”, os primeiros interesses seus foram pela engenharia; chegou a ganhar
bolsa de estudos na área na Universidade de Oxford, onde teve seu primeiro
contato com a poesia e, logo se vê, esse contato o fez mudar seus rumos de interesse; trocou a
engenharia pelas letras, mas sem perder o interesse pelas ciências ditas brutas,
tanto que elementos desse outro campo também se constituíram em afluentes para
sua poesia.
Em Oxford, Auden teve seu contato com os movimentos da poesia
modernista, principalmente com T. S. Eliot; foi aí que chegou a se tornar membro
principal do “Oxford Group” ou como seria chamado mais tarde “Geração Auden”,
círculo do qual participaram nomes como Stephen Spender, C. Day Lewis e Louis MacNeice.
Esse grupo se filiou a várias doutrinas marxistas e antifascistas, daí a
influência do marxismo na primeira parte de sua obra e também como dissemos a
pouco sua mudança para os Estados Unidos. Os elementos do contexto social, político
e econômico tiverem, desse modo, também forte presença em sua obra.
A primeira edição em 1928 foi impressa graças não só a
Eliot mas a Stephen Spender; foi logo bem recebida pela crítica que apontou Auden como um poeta que bebia de fontes, diríamos clássicas, da poesia
inglesa – Thomas Hardy, Laura Riding, Wilfred Owen e Edward Thomas. Chamou atenção
da crítica ainda a natureza fragmentaria e concisa de seus poemas, construídos todos
sob imagens concretas e redigidos numa linguagem coloquial preocupada em
transmitir questões muito próximas ao coletivo e ao individual.
Já depois dessa
publicação Auden teve de viver em constantes viagens como necessidade de não ser
visto como um inimigo que representasse perigo politicamente; numa dessas
viagens esteve na Espanha – era meados da década de 1930. A experiência
rendeu-lhe a produção de uma peça que leva o nome daquele país e foi um dos
textos mais editados da sua obra. Auden dramatiza aí suas experiências durante
a Guerra Civil. Desse mesmo período é Journey
to war, escrito em parceria com Christopher Isherwood; neste livro está um
dos mais importantes poemas de Auden, “In time of war” cuja a primeira parte
narra os movimentos da primeira história da humanidade longe do pensamento racional
enquanto a segunda parte aborda os problemas enfrentados pela mesma humanidade
agora já dotada da razão e à beira de uma nova guerra mundial. Foi o poeta
inglês quem caracterizou os anos trinta como a “era da ansiedade”; designativo
que Auden constrói a partir da leitura crítica de Monroe K. Spears sobre o poema
em questão: a poesia de Auden, dizia Spears, era uma “simpática sátira sobre as
tentativas dos seres humanos em escapar, por meio de seus próprios esforços, a
ansiedade de seu tempo.”
Fora isso, o inglês sempre foi quisto como alguém que esteve
à frente de seu tempo em torno das questões morais e políticas. O crítico
Harold Bloom sugeriu certa vez na New
Repulic que Auden foi aceite, por isso, não apenas como um grande poeta,
mas também como um humanista. Alguns críticos sugerem que esse duplo lugar
assumido pelo poeta é coisa germinada no clima social de sua infância e o brio
seu está arquitetar isso sob forma de poesia.
A ida para os Estados Unidos em 1939 o tornaria cidadão estadunidense.
O primeiro livro que aí publicou foi Another
time, obra que contém alguns de seus poemas mais conhecidos “September 1,
1939” e “Musee des Beaux Arts”,
inspirado este numa pintura de Brueghel. O livro foi na época bastante elogiado
por nomes A. E. Housman, Matthew Arnold e William Butler Yeats, cujas carreiras
e preocupações estéticas muito influenciaram o desenvolvimento do credo
artístico de Auden pós-Estados Unidos.
A esse título seguiram-se outras publicações notáveis The Double man, For the time being e The Sean
and the mirror, todos que só ampliaram a reputação do poeta. O Pulitzer
veio por The age of anxiety: a baroque
eclogue, título que incorpora a definição do princípio dos anos 1930. O livro
reúne quatro personagens de origens diferentes que estão em bar em Nova York
durante a Segunda Mundial. Escrito num estilo pesado da literatura alternativa
inglesa, o poema explora as tentativas dos protagonistas para compreenderem a
si próprios e o mundo em que estão inseridos.
O próximo título mais importante da obra de Auden, é Nones que inclui uma peça igualmente
reconhecida, “In praise of limestone”, texto que reafirma sua poderosa
capacidade em conectar a paisagem retrada e a psicologia dos personagens. Auden
demonstra, então, sua capacidade aguçada para essas relações sutis. “Em seu
verso, Auden pode discutir, refletir, fazer piada, contar fofoca, cantar,
analisar, pronunciar uma palestra e simplesmente falar; ora pode parecer à vontade
como se fosse um psicólogo, ora alguém que tem uma plataforma política, ora um teólogo,
ora ainda um geólogo apaixonado; ele pode dar dignidade e autoridade às teorias
mais absurdas” – analisa Barbara Everett.
Nos seus
últimos anos, Auden escreveu três títulos: City
without walls, and many other poems, Epistle
to a Godson and other poems. Publicou-se postumamente Thank you, fog: last poems. Três títulos
lidos pela crítica com “sem entusiasmo”, talvez porque tenha persistido na
forma que o havia consagrado e já ciente não se quedou a luxos de revisão acurada;
ou talvez, como qualquer pessoa que muito tenha feito pelo seu ofício, já estivesse
um tanto cansado – dois fantasmas que assomam com frequência a obra de boa
parte dos escritores.
O que de fato importa é que desde sua morte em 1973, sua
obra continua em ascensão de interesse ao redor do mundo, com poucas incidências,
é verdade aqui no Brasil: até bem recente só tínhamos uma antologia com pouco
mais de 39 poemas que foram vertidos para o português por José Paulo Paes. Agora,
em 2013, a Companhia das Letras reeditou esse título há muito fora de catálogo
e acresceu outra leva de textos com tradução de João Moura Júnior. Em 1993, a então
Siciliano, editou uma coletânea de ensaios sobre literatura, teatro e música,
aqui traduzido por A mão do artista,
título que está fora de catálogo. Ainda assim, uma obra que tem mais de
uma centena de poemas, só nos está oferecida uma pequena colher de chá.
Aqui, três poemas da nova edição brasileira de Poemas, de W. H. Auden.
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