Os desenhos de William Faulkner
Autorretrato de William Faulkner. ©Sotheby's New York. |
Antes de William Faulkner encontrar-se como romancista e
trabalhar na construção de seus romances de cunho épico e tragicômico e se por na elaboração
de fluxos de consciência como elemento para a construção das narrativas, ele se esforçou
para angariar o título de poeta com uma antologia publicada em 1924 sob o
título de The Marble Faun.
Essa estreia não deu futuro: já sabemos. Foi uma tiragem
curta financiada com ajuda do amigo e então vizinho Phil Stone, que pagou a Edmund R. Brown
cerca de US$400 para a impressão de 500 exemplares (número que é contraditório,
já que o irmão de Faulkner afirmou certa vez que era 1000 o número de exemplares).
Desconhecido, o livro não teve saída e a maioria dos
exemplares foi remetida pelo editor para um grupo de leitores e outra parte se
perdeu quando de um incêndio no sótão da casa de Stone, onde os livros ficavam
abrigados (pelas contas do irmão de Faulkner, foi cerca de 950 a quantidade
de exemplares consumidos pelo fogo). The
Marble Faun é uma obra de baixo conteúdo, com poemas bastante imaturos com
aberturas temáticas para um mundo de fadas e ninfas. Enfim, a edição foi reprovada pelo próprio editor ao se referir que a obra não era lá essas coisas. É evidente que depois que o autor se tornou famoso, os olhares tenham sido um tanto modificados em relação ao livro.
Depois do fracasso com a poesia, Faulkner juntou seus
esforços criativos para as artes plásticas. E para isso, tinha talento: entre
os anos de 1916 e 1925, o ainda não escritor chegou prestar serviços remunerados
para a Universidade do Mississipi a título de ilustrar materiais nos periódicos
Ole Miss e The Scream. Isso não quer dizer que emprego de desenhista o tenha
levado a desistir da escrita. Não. Mas era o trabalho pelo qual era
reconhecido, de fato.
Os desenhos, fortemente influenciados pela estética da Era
do Jazz (ver catálogo abaixo), mantinham um diálogo bastante elaborado com um dos nomes que mais lhe
serviu de inspiração: o ilustrador inglês Aubrey Beardsley. O inglês foi um dos
principais ilustradores da década de 1890 e participou ativamente da cena
artística da época, inclusive, no movimento estético que tinha como peça-chave
o nome do escritor Oscar Wilde. Foi Beardsley quem primeiro recebeu as provas
do romance de Faulkner, Absalão, Absalão! em 1936.
Outra parte de seus desenhos segue uma linha mais simples,
principalmente aqueles que ele fez para a revista The Scream, mas neles se revelam algumas de suas paixões e gostos,
como os carros e aviões. No último caso, a paixão era mais que isso, era um fascínio
que se revelou para o escritor desde quando tentou entrar para a Força Aérea
dos Estados Unidos, outra tentativa fracassada, embora tenha ainda tido uma aceitação
de sucesso na Royal Air Force do Canadá, entidade para a qual entra em julho de 1918,
depois de uma desilusão amorosa: Estelle, sua namorada do colégio, largou-lhe
por outro.
Mesmo membro da RAF, Faulkner nunca chegou a participar de
um combate na Primeira Guerra Mundial, por exemplo. O conflito terminou antes que
ele findasse a seu curso de formação e esse desfecho o levará de volta ao
Mississipi para a escrita e publicação de seu primeiro livro, aquele da
incursão pela poesia sobre o qual falávamos.
Mais tarde, Faulkner tem uma segunda chance com sua namorada
de colégio. Estelle já mãe de dois filhos havia se divorciado do primeiro
marido. Os dois se casaram em 1929 e compraram uma mansão próximo a Oxford, período
em que o escritor termina de redigir O
som e a fúria, publicado em outubro daquele ano.
O gosto pelo desenho não terá findado no período-auge
de produção. Era comum que o Prêmio Nobel de Literatura de 1949 se preocupasse
em ilustrar as correspondências que enviava à sua família; principalmente as de
quando estava em Paris, como mostra um dos arquivos encontrados recentemente:
um desenho do próprio Faulkner com barba por fazer e já de posse de seu
tradicional cachimbo. Essa correspondência veio a lume recentemente junto com
uma série de outras cartas mais um conto inédito do escritor, vendido num
leilão este ano. O material foi encontrado num caixa guardada no celeiro da
fazenda da família Faulkner, em Charlottesville, na Virginia.
No Tumblr do Letras há uma série com três fotos do escritor; abaixo está um catálogo que editamos com alguns dos desenhos de Faulkner.
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