Roberto Bolaño: dez anos sem o autor que conquistou os jovens escritores

Por Santiago Gamboa



Parece incrível que já tenha se passado tanto tempo desde sua morte, embora ao ver o êxito de sua obra poderia pensar que é pouco, que no fundo, tudo foi muito rápido. Seja como for, não há dúvidas que Roberto Bolaño é o autor de língua espanhola depois do boom com mais impacto na literatura mundial. Em todas as culturas e línguas tem sido uma revelação e em língua espanhola é um dos mais influentes, não apenas entre os leitores de hoje como também entre os jovens escritores.

O que é que faz de Bolaño um autor universal e, ao mesmo tempo, sacralizado em sua própria língua? A juventude latino-americana o lê de joelhos e faz juras para ele. Os escritores jovens encontram em seus livros um mundo que lhes fala ao pé do ouvido. Um de seus grandes temas tem a ver com eles: a épica triste de uma juventude sacrificada, a juventude que quer mudar o mundo com gestos valiosos e com poesia. Querem mudá-lo, mas sucumbem, e apesar de saber que sua luta está perdida igualmente saem em batalha. Bolaño narra o heroísmo dessa derrota, sim, mas também o amor pela literatura e pela vida. Os últimos parágrafos de seu romance Amuleto são um manifesto: “E embora o canto que escutei falasse da guerra, das histórias heroicas de uma geração inteira de jovens latino-americanos sacrificados, eu sabia que por cima de tudo falava do valor e dos espelhos, do desejo e do prazer.”

A juventude e seus sonhos, a fidelidade ao amor fanático pela literatura que há na juventude. O poeta jovem que fora defender sua poesia como seus próprios punhos. O poeta inexperiente que se entrega à pouca vida que tem. Ao contar a épica dos jovens poetas latino-americanos, as páginas de Bolaño, se preenchem de ternura, de idealismo, de uma contagiosa e bela ingenuidade.

O poeta, não apenas jovem, é certamente outro de seus grandes temas. As personagens de Bolaño buscam poetas freneticamente, se apaixonam por poetas e enlouquecem como poetas. Ser detetive é para ele uma forma de ser poeta. “Sonhei que era um detetive latino-americano muito velho. Vivia em Nova York e Mark Twain me contratava para salvar a vida de alguém que não tinha rosto. Será um caso condenadamente difícil, senhor Twain, lhe dizia.”

Bolaño costumava dizer, com sua habitual graça: “Eu como poeta sou bastante ruim”.  A poesia e os poetas eram seu tema recorrente: Nicanor Parra, Lautréamont ou a prosa em decassílabos de Gonzalo Celorio. Lia todos e dava a sensação de ter opiniões contundentes sobre todos. era também seu peculiar modo de ser poeta, uma chama que deu a sua prosa uma temperatura especial e que foi-se convertendo em mito. Como havia vivido Bolaño este êxito total? Haveria escolhido desaparecer, como Rimbaud ou Salinger? São perguntas que me faço com frequência.

O primeiro país a reconhecer seu talento foi a França. Recordo que Bolaño ainda quando era vivo pode ver um suplemento literário do jornal Liberátion que lhe dedicou seis páginas. O diário Le Monde, quando ainda não usava fotografias, lhe colocou como personagem do dia e foi a caricatura da primeira página. Seu editor francês publicou simultaneamente três livros, algo inusual para um desconhecido. Franca lhe deu o batismo internacional. Logo veio a Alemanha e os Estados Unidos, onde seu êxito foi esmagador. Bolaño alcançou ver Susan Sontag a dedicá-lo um página no The New York Times elogiando seu primeiro livro em inglês, By night in Chile (Noturno no Chile). Costumava dizer que esse era o título verdadeiro, De noche en Chile, que os gringos de fato haviam encontrado, porque esse era título que já havia passado por várias mudanças e ele nunca se sentira satisfeito (para se ter uma ideia o primeiro deste, foi Tormentas de mierda).   

O que mais recordo dele são seus extensos telefones para falar sobre mil temas, quase sempre literatura mas também cinema ou futebol. Sua fala rápida, ao telefone, regressa a mim com muita frequência. Uma noite me ligou de um hotel em Veneza e quando lhe perguntei que diabos ele vazia lá, respondeu-me: “Sou a típica imagem do poeta latino-americano: minha esposa com tuberculose tossindo e a bebê recém-nascida chorando, meu filho com problemas de adolescente e eu trancado no banheiro para terminar um poema”. Outro dia me disse: “A verdadeira obra mestra deve passar despercebida e isto posso lhe demonstrar, mas não agora, tenho que sair”. Bolaño saiu e nunca mais escutei seus argumentos. Morreu na noite entre 14 e 15 de julho de 2003. Tinha apenas 50 anos.

***

Uma vez ser este um texto que deu tanta ênfase ao lado poético do escritor e da sua obra, preparamos um catálogo com dez poemas de Roberto Bolaño.



Ligações a esta post:
Visite o texto que fizemos sobre a vida e a obra de Roberto Bolaño.


* Este texto é uma tradução livre para "Roberto Bolaño: diez años sin el autor que conquistó a los jóvenes escritores" publicado no jornal El país de 14 de julho de 2013.



Comentários

Adriano de L disse…
Grande poeta de uma geração, quiças o melhor, na minha opinião.

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