Dez autores que você não sabia que escreveram ficção científica

Eduardo Galeano define a ficção científica como narrativas imaginárias que não pode suceder-se no mundo que conhecemos, devida a diversidade com que se transforma o cenário da narração, ora baseado na alteração das coordenadas científicas, espaciais, temporais, sociais ou descritivas, mas de tal maneira que o relatado é aceitável como especulação racional.

Mas, a história nos tem demonstrado que muitos desses cenários imaginários deram pé a grandes avanços tecnológicos como as viagens ao espaço. Talvez a construção de um futuro seja dado graças à imaginação de quem não teme ver adiante, desde a simples ideia de um dia vivermos vigiados, sem que haja sociedades cuja intimidade esteja preservada, à possibilidade de uma catástrofe nuclear ou invasão terrestre por seres de outro planeta. 

De certo modo, a ficção científica abre possibilidades de avanços e desvio de determinados cursos errados que a humanidade por acaso tenha vindo alcançar. As histórias como as de Julio Verne cuja ciência se centrava nas invenções, assim como os textos de crítica social com orientação científica de H. G. Wells são exemplos disso. Os dois nomes citados estão entre outros que são sempre lembrados como os melhores de um gênero que ganhou vida e mundo próprios e faz o gosto de muitos leitores: a literatura de ficção científica. 

Mas, sabia que, outros escritores, nem sempre encaixados nesse rol, também escreveram textos tão importantes quanto um 1984, de George Orwell, ou um Admirável mundo novo, de Aldous Huxley, ou ainda Fahrenheit 451, de Ray Bradbury? Abaixo, uma seleção desses títulos de autores que você provavelmente não sabia terem escrito ficção científica.

Italo Calvino: as origens do universo e dos planetas esteva na pauta de sua criação literária.


1. Todas as cosmicômicas, de Italo Calvino: atraído pela literatura popular, especialmente pelo universo das fábulas, o escritor também escreveu contos de ficção científica. Neste livro estão reunidos As cosmicômicas, um livro de 1965, em que o italiano produz narrativas sempre a partir de um enunciado científico (ou pseudocientífico) sobre as origens do universo e dos planetas e outros temas do passado cósmico remoto para dar, em seguida, a palavra ao personagem central de todas elas, que tem o palindrômico e impronunciável nome de Qfwfq.

2. Fiskadoro, de Denis Johnson: no Brasil, o escritor estadunidense é conhecido por títulos como Árvore da fumaça, Ninguém se mexe e Sonhos de trem.  Lembrado por uma obra que cobre o teatro, a poesia, o ensaio e o conto sempre tratando de temas caros à história de seu país,  sua aventura por esse universo da ficção científica está registrada em Fiskadoro, livro descrito como um texto de estilo poético, mas uma narrativa pós-apocalíptica situada depois da guerra nuclear. 

3. Orlando, de Virginia Woolf: a romancista, ensaísta e contista inglesa é considerada uma das figuras mais importantes para a literatura moderna do século XX publicou Orlando em 1928, uma fantasia, podemos assim dizer, sobre a troca de gênero ambientada na Inglaterra elizabetana. Se hoje a mudança de sexo é possível, a primeira cirurgia do tipo só veio acontecer mais de 25 anos depois da aparição desse livro de Woolf.

4. In watermelon sugar, de Richard Brautigan: é uma pena que o escritor, conhecido como um dos mais loucos da recente literatura estadunidense seja tão pouco lido por aqui; Pescar truta na América é uma das raras edições desse romancista, poeta e contista que fez da sátira, da comédia de humor negro e da paródia seu estilo provocador. Nesse romance indicado, a narrativa transcorre numa comunidade chamada iDEATH e depois de um apocalipse inexplicável as personagens estão numa paisagem fantástica com tigres que falam.

5. Ratner's star, de Don DeLillo: autor de obras como Submundo, Ruído branco, Cosmopolis e Homem em queda, o escritor é reconhecido por obras que retratam a vida de país nos finais do século XX e início do século XXI; o estadunidense é considerado pela crítica especializada como uma das figuras centrais do pós-modernismo literário. Ratner's star foi publicado em 1976 e a trama acompanha um menino genial chamado Billy que é recrutado pelos cientistas para decifrar a comunicação extraterrestre. 

6. Quarta era glaciar intermédia, de Kobo Abe: a obra do japonês é sempre comparada a de Franz Kafka ou a de Alberto Moravia por suas explorações surrealistas e o pesadelo do indivíduo na sociedade contemporânea. Este romance foi publicado em 1958 e nele encontramos cientistas que modificam geneticamente crianças para que possam sobreviver num mundo diferente, em que os dois polos da terra já passaram pelo degelo. 

Vladimir Nabokov: nem só de Lolita se faz sua obra.

7. Ada ou Ardor: uma crônica de família, de Vladimir Nabokov: sabemos que seu romance mais conhecido é o indispensável a qualquer leitor, Lolita, mas, neste título de 1969, o escritor trabalhou numa narrativa de dois amantes incestuosos ambientados numa realidade alternativa, na qual a América foi tomada pela Rússia e o planeta passa a ser conhecido como Anti-terra.

8. O impiedoso país das maravilhas e O fim do mundo. de Haruki Murakami (trad. portuguesa): publicado em 1991, o livro é composto por duas histórias que têm lugar em cenários diferentes: num, uma cidade amurada conhecida como O fim do mundo, noutro, uma Tóquio futurista chamada O país das maravilhas. O narrador de ambas as histórias é o mesmo sujeito, só que no primeiro cenário está sua vida real e no segundo onde transita sua consciência.

9. A estrada, de Cormac McCarthy: descrito como um conto de ficção pós-apocalíptica, o livro descreve a jornada empreendida por um pai e seu jovem filho ao longo de um período de vários meses através de uma paisagem devastada anos antes por um cataclismo que destruiu a civilização e boa parte da vida na Terra. O romance ganhou o Pulitzer em 2006.

José Saramago e um país de cegos a H. G. Wells

10. Ensaio sobre a cegueira, de José Saramago: o escritor, único de língua portuguesa a receber o Prêmio Nobel de Literatura, modelou um enredo lido muitas vezes em relação com O país dos cegos de H. G. Wells. O romance é a narrativa de uma epidemia de cegueira, mas fora do comum, porque uma cegueira branca, num país cujas referências temporais e especiais estão suspensas; o livro é uma leitura sobre a transformação do homem em máquina de carne e sem sensibilidade.


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