Disponibilizado on-line edição integral de "Contos da Era do Jazz", de F. Scott Fitzgerald
Em grande parte do imaginário popular a literatura produzida
por F. Scott Fitzgerald está diretamente associada à frivolidade do jazz,
cuidadosamente observada pelo escritor que deu o nome de Era do Jazz ao período mais agitado da história estadunidense; ou ainda reduzida apenas a ascensão social
de seu personagem mais conhecido; de modo que, grande parte de sua escrita antes e depois de
O grande Gatsby fica oculta. Enquanto
a mesma parte popular associa a figura Fitzgerald à de um alcoólatra que tinha predileção
por coisas caras, esquece-se que ele também foi um escritor muito disciplinado
e sério (a digitalização de um caderno de notas do romancista dada a
conhecimento do grande público por esses dias reforça isso - leia mais aqui); principalmente
quando a escrita estava restrita à narrativa curta, como contos, que eram sua
única fonte de renda durante a maior parte dos anos 1920 e nos intervalos entre
um romance e outro. É verdade que ele não era um prolífico escritor; e por essa
razão, no calor da produção pela produção, muitos dos textos não passam de composições
simplistas, caídas na fantasia extravagante, mas em linhas gerais toda a obra é
muito bem escrita e não causará desapontamentos mais graves que estes.
Para se ter em vista, a fantasia extravagante inclui peças
como o famoso conto – que foi roteiro para o cinema – “O curioso caso de
Benjamin Button”, texto em que Fitzgerald se mostra menos preocupado com a
forma. Ele foi um grande leitor, diga-se, e como pensador, se não galgou o
espaço de um pensador no profundo sentido do termo, buscou pensar a literatura
como um território de possibilidades fabulares. Novamente, foi o território da
pequena narrativa que pode lhe dar essa possibilidade: a aproximação das
estéticas orientais, das histórias de aventura, da alegoria e a mistura, ainda
nos seus primeiros textos, do tecido da ficção ao tecido memorial,
principalmente sua vivência na faculdade em Princeton, constituem-se em vieses
pelos quais surge campos de investigação para os estudiosos de sua obra.
Um dos mais importantes contos da sua primeira fase é “May Day”. Definido como quase uma novela, o texto dá contas de um cenário
do pós-Guerra Mundial em Nova York descrito, logo na abertura como um reino
encantado no auge da loucura capitalista. Como tem assegurado a crítica,
funde-se aí um tom fabular a Hans Christian Andersen com pitadas satíricas dos
contos infantis a Oscar Wilde. Mas esse jogo de formas não é suficiente. Logo adiante
a história nutre-se da atmosfera realista, entram temas familiares a Fitzgerald, como a riqueza extravagante e sua natureza precária. Algumas das personagens
que incorporam essas características, um grupo de estudantes de Yale, recuperam
as falhas morais que em breve seriam exploradas ao limite no papel de Gatsby:
uma indiferença insensível às necessidades dos outros e uma vã autoestima.
Nesse passo, a trama principal de “May Day” logo mergulha
num submundo para lidar com o tipo de desespero da classe alta. A personagem
principal da narrativa estará condenada pelo comportamento que escolhe para si;
e aqui se mostra as nesgas do próprio Fitzgerald. No fim, o que se deixa
entrever é um complexo de divisão de classes, como um dos temas mais caros ao
autor de O grande Gatsby.
“May Day” aparece pela primeira vez na revista The Smart em 1920 e depois foi incorporado
na antologia Contos da Era do Jazz. Foi
escrito a partir de algumas situações vividas por Fitzgerald em Cleveland, como
os Protestos de Maio de 1919, e de outras vividas em Nova York. As relações,
entretanto, são meros apontamentos da crítica. Alguma vez alguém terá mesmo
perguntado a Fitzgerald se neste texto estava experiências de sua própria vida,
ao que ele respondeu algo como – Não há mesmo nem biografias exatas de
escritores, porque um escritor é feito de tantas pessoas.
***
Mas, a razão de comentarmos sobre esse texto do Fitzgerald está no fato de que a Universidade de Adelaide digitalizou na íntegra várias obras do escritor e disponibilizou-as on-line. É a primeira vez que conto em questão é colocado ao acesso livre ao lado dos outros 12 textos que integram Contos da Era do Jazz. O e-book pode ser acessados diretamente aqui. Ao que sondamos, boa parte desses textos ainda são inéditos cá no Brasil, inclusive “May Day”. Aos que, ficaram curiosos com esse conto do Fitzgerald fizemos um recorte em PDF com a versão na íntegra (ver abaixo). O texto está inglês, infelizmente, mas com ajuda do Google Tradutor no primeiro link é possível captar a ideia central da narrativa.
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