A lista de leitura de Allen Ginsberg
“Argh, vocês são todos amadores
num universo profissional!” – bradou Allen Ginsberg para os jovens de uma turma
de aspirantes a poetas, em 1977, no Jack Kerouac School of Disembodied Poetics.
Na ocasião, a maioria dos alunos não se inscreveu nas atividades de meditação direcionadas
pelo curso. A história é contada por Steve Silberman, que na época tinha 19
anos de idade e era um dos alunos que estavam no curso de verão ministrado por Ginsberg.
Três anos antes, Ginsberg e a também poeta Anne Waldman
apresentou a proposta da Jack Kerouac School ao Naropa Institute (hoje Naropa University),
em Boulder, Colorado. O Instituto, fundado pelo mestre tibetano Chögyam Trungpa
Rinpoche, foi inspirado nos antigos centros de aprendizagem budistas da Índia e
descrito por Waldman e o poeta Andrew Schelling como “mosteiro à parte, faculdade,
salão de convenções ou laboratório de alquimia”.
Criada com a missão de promover não apenas iniciação ao
budismo, mas cursos na área de artes, psicologia e estudos religiosos, a
Kerouac School ainda existe e segue na prática de fornecer formação nestas áreas
apresentadas e em cursos de prática poética. Ao longo dos anos, além de
Ginsberg, passaram por lá importantes nomes da poesia contemporânea, como
William Burroughs, Gregory Corso, Diane DiPrima, Amiri Baraka, entre outros.
Ginsberg foi professor aí até sua morte em 1997. A
disciplina na qual ele deu seu desabafo era chamada “História Literária dos
Beats”. No primeiro dia de aula ele entregou aos alunos uma lista chamada “Celestial
Homework” (algo como “Tarefa de casa celestial”), inspirada (ver reprodução abaixo). Silberman descreve a
lista desse modo, citando a descrição de Ginsberg:
“As sugestões serviam para um rápido checking dos gostos dos alunos sobre os escritores cujas obras
foram designadas como pertencentes ao estilo Beat.”
Pode-se ler também como uma lista particular dos gostos
literários de Ginsberg, já que incluiu uma gama variada de gêneros e períodos,
desde Melville a Dickinson, Yeats, Milton, Shelley e vários outros nomes. Trata-se
de uma lista que pode ainda servir de guia de leitura a iniciantes seja em
matéria da literatura Beat, seja em iniciação a determinados clássicos do cânone
universal. Também é uma lista de leitura
indispensável aos que tem seu campo de atuação as literaturas inglesa e
estadunidense, provando, a presença do livro (que na lista se lê apenas com “Antologia
Don Allen”) The new american poetry,
editado por Don Allen, que fornece uma importante introdução às bases para os contemporâneos.
O então aluno de Ginsberg tem se dedicado ultimamente no
trabalho de compilar o maior número possível de versões on-line dos textos
recomendados por Ginsberg. Todo esse trabalho é disponibilizado gratuitamente aqui e ainda traz biografias e outros detalhes dos autores mencionados nas
listas. Há alguns links quebrados, mas é possível cumprir parte significativa
dos desejos do poeta. Silberman relembra que o autor de Uivo sempre dizia ser
“a poesia uma realização da magnificência do real”; obras como as da lista,
dizia ele, eram “portas de entrada para essa magnificência”.
Ainda quanto a lista de leitura, Silberman relembra que Ginsberg dizia ser “a ordem alfabética apenas pretexto para facilitar a consulta”, mas é preferível mesmo a idiossincrasia. Pois então, aí está a lista; aproveitamos para acrescentar outra lista também com sugestões de leitura do próprio Ginsberg.
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