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Mostrando postagens de junho, 2013

Boletim Letras 360º #19

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Câmeras com chapeuzinho na Holanda. Não, não se trata de nenhuma manifestação; é  somente a ideia de grupo para lembrar os 110 anos de George Orwell, o escritor que previu o  modelo de sociedade vigiada que temos hoje. Ontem realizamos na nossa página no Facebook mais um sorteio. Por ocasião do 125º aniversário do poeta Fernando Pessoa. Depois desses dois exemplares chegamos à marca de catorze livros entregues, só neste ano. Já colocamos em circulação títulos de Pedro Fernandes, Vernaide Wanderley, Fred Spada, Jane Austen, Paulo Leminski, Marcos Bagno, F. Scott Fitzgerald, Inês Pedrosa, Mia Couto, Carlos Drummond de Andrade, entre outros. No próximo mês, aguardem, que teremos mais novidades. Antes que as novidades cheguem, vamos conferir o que se passou nesta semana no Facebook nosso: Segunda-feira, 24/06 >>> Brasil: A morte do pai , de Karl Ove Knausgård nas livrarias O autor vem para a mesa “Ficção e confissão”, na Festa Literária Internacional de Para

Crônica de um leitor de O jogo da amarelinha (1)

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por Juan Cruz Ruíz Julio Cortázar na Ponte Neuf sobre o Sena, em Paris. Foto: Antonio Gálvez Estive escutando em Madrid uma ilustre leitora de O jogo da amarelinha , a professora cubana Ana María Hernández del Castillo, que desde há muito tempo vive e trabalha em Nova York. Ela disse, nesse ato que foi celebrado no Centro de Arte Moderna, que o livro de Cortázar salvou-lhe a vida quando o leu. Todos os leitores de O jogo da amarelinha , e eu sou um deles, temos uma circunstância que nos une ao livro, que nos une também a Cortázar como tivéssemos o conhecido, como se devêssemos a ele uma aspiração ou uma esperança. Naquela sexta-feira era a primeira vez que escutava alguém dizer que este livro lhe havia salvado a vida. Não me estranhou. Até então, a cada Ano, Ana María, uma mulher razoavelmente jovem e ativa, que leva em seu rosto e seu olhar vislumbres atlânticos de sua ascendência canária, havia pensado em suicidar-se, e a cada ano adiava essa decisão. Até que leu o mais

Ferrugem e osso, de Jacques Audiard

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O currículo de Jacques Audiard comporta grandes feitos; não começou como diretor de cinema, mas como editor, depois escreveu roteiros, produziu os scripts para produções como Réveillon chez Bob , Mortelle randonnée , Baxter , Fréquence meurtre e Sexo . Tais posições certamente renderam em experiências para a posição de diretor assumida pela primeira vez em 1994 com um road movie sombrio, O declínio dos homens , filme que levar o César de Melhor Primeiro Filme.  Dois anos depois, ele adapta o livro de Jean-François Deniau Um herói muito discreto , que recebe o prêmio para Melhor Roteiro no aclamado Festival de Cannes; cinco anos mais tarde, dirige Sobre meus lábios , que recebe nada menos que nove indicações ao César e ganha os prêmios para Melhor Roteiro e Melhor Atriz, Emmanuelle Devos. São da lista ainda De tanto bater, meu coração parou (2005), O profeta (2009), filme este que leva o Grande Prêmio do Festival de Cannes deste ano e nove prêmios César mais a indicação

Hemingway censurado e um inédito rejeitado

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Não é exagero considerar que a Literatura é uma das artes mais censuradas desde sempre. Tanto que, mesmo depois das aberturas democráticas vividas em grande parte pelos países ocidentais, ainda se verifica, vez por outra, um recurso qualquer que tenta coibir a circulação de determinada obra. Ernest Hemingway não está fora dessa estatística. E a censura praticada contra sua literatura não veio de seu país de origem, veio do general espanhol Franco. Os dois tinham entre si um desdém mútuo. Mas Franco, como bom ditador que se preza, levou o desdém para a esfera do desgosto e conseguiu com sua intervenção exterior modificar o roteiro para o filme feito por Hollywood a partir da novela mais espanhola do escritor estadunidense, Por quem os sinos dobram . A constatação vem de Douglas LaPrade, da University of Texas-Pan American, que estuda há anos a relação de Hemingway com a Espanha. O resultado de suas pesquisas está em alguns livros que foram publicados pela Biblioteca de Estu

A pintura de E. E. Cummings e dois desenhos inéditos do poeta

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Alguns levaram a sério os desenhos da infância – quem nunca terá tentado à sua maneira desenhar nesse período cuja palavra ainda é artefato simbólico distante do bom uso – e levaram adiante o gosto pelas artes plásticas; desenvolveu técnicas próprias, propôs verdadeira revisão nos modos artísticos. Outros terão permanecido nas garatujas. Outros, ainda terão minado de vez a fé de rabiscar qualquer coisa do gênero. Desse universo, uma parte que tem antes de tudo uma consciência de preservação da memória terá guardado seus rabiscos da infância. E. E. Cummings pertence ao primeiro grupo; mesmo não tendo proposto nenhuma revolução nas artes plásticas, foi um exímio pintor. E pertence também a este grupo último que tem uma consciência precoce sobre a memória. Recentemente (conforme nota de Rebecca Onion) para o blog The Vault , enquanto arquivistas da Sociedade Histórica de Massachusetts catalogavam documentos da família do poeta estadunidense encontraram alguns rascunhos com escritos i

José Bergamín, uma poesia do exílio*

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José Bergamín (1964). Henri Cartier-Bresson Pouco se sabe de José Bergamín no Brasil. Numa rápida consulta às principais livrarias sequer é possível localizar algum livro seu traduzido ao português e publicado por aqui. Na semana em que o jornal El País publica 32 poemas inéditos do poeta, falamos sobre sua obra poética e a riqueza dela para as literaturas de língua espanhola. Os textos trazidos a luz pelo periódico espanho foram enviados pelo escritor a seu filho Pepe e sua nora Pilar com uma carta datada de 13 de abril de 1969 enviada de Paris, último lugar de seu exílio iniciado trinta anos, em 6 de abril de 1939, cinco dias depois do fim da Guerra Civil, ao solicitar no departamento de polícia parisiense a identidade como refugiado espanhol. Antes de ir para Paris, Bergamín foi exilado na Cidade do México (1939-1946), Caracas (1946-1947), Montevidéu (1947-1954). Na capital francesa ficou três anos, de 1955 a 1958. No seu primeiro regresso a Madrid encabeçou um movimento

Boletim Letras 360º #18

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Duas dos 14 desenhos de Salvador Dalí leiloados esta semana em Londres. Semana de poucas novidades pelo universo da literatura ou não? Não acompanhamos direito? Bom, há semanas que são, de fato, agitadas. Aqui no Brasil a concentração é para os eventos literários que pipocam por todos os estados até o fim do ano, a começar pela Festa Literária Internacional de Paraty. Então, talvez esteja aí a justificativa para esse pequeno trânsito de novidades. Mudando de assunto, devemos lembrar aos leitores do blog, que já estamos preparados para a realização de mais um sorteio na nossa página no Facebook. Desde o dia 13 de junho que colocamos on-line chamada para “Ler as pessoas de Pessoa”. São duas edições da Companhia de Bolso do Fernando Pessoa e heterônimos a ser sorteadas. Por isso, quem ainda não se inscreveu, tem uma semana ainda para fazer. É que o sorteio será já na sexta-feira, 28 de junho. Vamos ao que foi notícia na nossa linha do tempo do Facebook, e depois voltamos a falar

Seara de Vento, de Manuel da Fonseca

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Por Pedro Belo Clara Neste artigo de estreia, trago até si, estimado leitor, a principal obra de um dos maiores vultos do Neo-realismo português. Embora não aprecie particularmente as comparações, tampouco as incremente ou incentive – por senti-las uma espécie de veneno do talento e da preciosa individualidade de um autor –, poderei dizer, com o vero intuito de elucidar o leitor, que se os americanos tiveram John Steinbeck, os portugueses contaram com Manuel da Fonseca. De facto, as semelhanças entre ambos são diversas, embora um não seja a expressa cópia do outro (ainda que tivessem sido contemporâneos). Cada um vale e se afirma por si mesmo em sua valorosa actividade – que tal nunca seja colocado em causa. Nascido na secura das infindas planícies alentejanas, Manuel da Fonseca trouxe sempre a atmosfera da sua região natal consigo, reflectindo-a em diversos trabalhos, como se de um fidedigno espelho se tratasse. As histórias que viveu, testemunhou ou simplesmente e

Pedalando com Molière, de Philippe Le Guay

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Um filme-ensaio. Não no sentido direto de ensaiar sobre alguma coisa, mas pela presença daquilo que antecede a preparação de um ator. Essa poderia ser uma das razões para resumir o filme de Philippe Le Guay. Mas não é suficiente, nem convincente. Há mais a se pensar sobre sua narrativa, necessariamente tomada de jogos intertextuais diretos com a obra de Molière. Também não é suficiente essa interpenetração de discursos – o do cinema invadido pelo de seu gênero precursor, o teatro. Há o próprio fantasma do dramaturgo, ator e encenador, considerado um dos mestres da comédia satírica. Molière usou a sua obra para criticar os costumes da época; é considerado o fundador indireto do gênero na França, depois de ir na direção contrária das produções da seu tempo sempre pautadas ainda na imitação das obras gregas. Essa simples observação biográfica sobre a peça-chave do título, Pedalando com Molière – um tanto distante do título francês, Alceste à bicyclette , talvez porque o públic