A arte de ilustrar Guimarães Rosa por Poty
Tem já 57 anos da primeira edição de Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa. Na ocasião, o editor
José Olympio convidou o artista plástico Poty Lazarotto para compor a capa e ilustrações
para o romance. Mas até que o convite fosse feito, já no auge do seu trabalho, foi
longo o seu itinerário artístico. Filho dos italianos Isac Lazzarotto e Julia
Tortato Lazzarotto, o interesse pelo desenho começou ainda quando criança. Ao perder
um dos braços, o seu pai abriu um restaurante em Curitiba que foi muito
frequentado por importantes figuras paranaenses. Várias horas do dia Poty
ajudava o seu pai na feitura de peças de alumínio que eram modeladas em quadros
da Santa Ceia – o trabalho era para complementar a renda da família. Foi um
encontro com o governador do Paraná que numa visita ao restaurante, ainda em 1942, percebeu o
talento do menino e lhe deu uma bolsa de estudos na Escola Nacional de Belas
Artes no Rio de Janeiro.
Antes disso, o pequeno já tinha feito sua primeira publicação;
para o jornal Diário da tarde compôs trabalhos
para Haroldo, o homem relâmpago,
historieta em seis capítulos. A ida para o Rio de Janeiro lhe permitiu seus
primeiros contatos como o meio das artes; por exemplo, um ano depois que havia chegado
à capital carioca foi convidado por Hermínio da Cunha Costa para ilustrar o seu
livro Lenda da erva mate sapecada.
Este foi, então, seu primeiro trabalho no formato livro publicado por ele. Três
anos depois, Dalton Trevisan criou a revista Joaquim e Poty participou de todas as edições, tanto com ilustrador
como com comentarista de arte. A revista durou ainda até 1948 e tornou-se à
época um importante espaço para a literatura produzida no estado paranaense; foi
pela Joaquim que de fato o próprio
nome do Poty se torna mais conhecido junto a outros meios como o sudeste do
país; foi na Joaquim também que Poty consegue
bolsa de estudos para ir à França, onde tem contato com a litografia.
O fim da revista levou-o para o jornal A Manhã e a ilustrar vários trabalhos para outros jornais no Rio de
Janeiro. E foi por esses trabalhos que o editor José Olympio chegou até ele. A
parceria com editor e o romancista foi além do Grande Sertão; também em 1956, saíram Sagarana e Corpo de baile,
todos ilustrados pelo já artista plástico.
A marca do trabalho de Poty na obra de Rosa é a de diálogo
com determinadas cenas e personagens da sua obra. Dispensa as cores e tem
preferência pelo traço simples, firme, duro e muito expressivo numa relação direta
com o colorido universo sertanejo do romancista.
Os desenhos nunca foram produzidos isoladamente, mas em constante
discussão com o próprio Guimarães Rosa. Na extensão dos trabalhos produzidos
para sua obra, Rosa sempre acompanhou e quis saber dos sentidos procurados pelo
artista para as imagens. Num dos materiais elaborados por ele, com as ilustrações
de Sagarana conta-se que, a certa
altura, o romancista havia exigido que a imagem de um sapo fosse colocada dentro
de um círculo em cima de um poste de telégrafo (ver nossa galeria no Tumblr cujo link está no fim do post). Poty disse que nunca entendeu
ao certo isso, mas fez. A amizade entre os dois se tornou tão profícua que de outra
vez, Guimarães Rosa chegou a admitir que Sagarana
devia era sim se chamar Potyrana. E foi com as ilustrações para este livro
que o próprio ganhou o Prêmio da Bienal Internacional de São Paulo, pela
segunda edição, em 1969.
Para Grande Sertão,
Poty conversou mais de oito horas com o autor que contou todos os passos do
romance a fim de permitir ao artista total imersão na obra. Foi a partir dessa
conversa que Poty foi todos os esboços primeiros esboços para os desenhos
finais, o que demonstra que o trabalho seu tinha não apenas um zelo pela
narrativa do amigo, como uma habilidade particularíssima escassa a alguns
artistas: a rapidez na execução da obra.
Depois da obra de Guimarães Rosa, Poty compôs trabalhos para
obras de Jorge Amado, Gilberto Freire, José de Alencar, Tchekhov, Dalton
Trevisan, Manoel de Barros, Franz Kafka, Rachel de Queiroz, entre outros. A título
de assinalar a grande importância que este trabalho tem no cenário da
literatura brasileira separamos a seguir, no pequeno catálogo, algumas das
principais ilustrações de Poty para a obra de Rosa. As ilustrações pertencem à duas edições diferentes de Sagarana - a 10ª e 19ª. Para a
primeira, ele seguiu a técnica da litografia e para a segunda os desenhos foram
feitos em bico de pena. No nosso TUMBLR publicamos uma extensa galeria de ilustrações também para Sagarana mas da edição de 1970. Vale conferir.
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