O caderno de contas de F. Scott Fitzgerald on-line


No início do mês de maio foi reproduzida em nossa página no Facebook a notícia de que a Universidade da Carolina do Sul, nos Estados Unidos, havia digitalizado Ledger, o caderno de contas de F. Scott Fitzgerald, desde então classificado como um dos mais ricos documentos de fonte primária de um autor. 

O escritor estadunidense começou a gravar informações neste livro de negócios em algum momento de 1919 ou 1920, depois de deixar o exército e se mudar para Nova York a fim de começar e dedicar integralmente sua vida profissional à escrita. 

Ele dividiu o arquivo em seções como: "Renda de ficção, novelas, histórias e contos publicados", "Renda de outros trabalhos publicados pelos quais fui pago", "Zelda" e "Esboço de minha vida." 

A versão digital do Ledger, no entanto, não pode está reduzida a uma nota, por isso, apresentamos uma tradução livre para uma matéria publicada por estes dias no jornal El País que apresenta em linhas gerais o material agora disposto para consulta na web. A matéria é de Elsa Fernández-Santos.


Sumário feito por F. Scott Fitzgerald onde se lê as divisórias que organizou  para o seu caderno de contas.


Os pesquisadores da Biblioteca Thomas Cooper, na Universidade da Carolina do Sul, Estados Unidos, abrem pela primeira vez aos leitores de todo o mundo as páginas de um livro de contabilidade em que o escritor apontou, por exemplo, os quase 2 000 dólares de adiantamento que obteve para a escrita de O grande Gatsby. “O livro de contas é a joia da coleção Matthew and Arlyn Bruccoli, a melhor que existe de livros e recordações de Fitzgerald e uma das melhores do mundo dedicadas a um só autor”, aponta a diretora de coleções especiais e livros raros da Thomas Cooper, Elizabeth Sudduth. Eles pretendiam trazer o manuscrito online coincidindo com a próxima estreia da nova versão cinematográfica de O grande Gatsby, dirigida pelo australiano Baz Luhrmann e interpretada por Leonardo DiCaprio e Carey Mulligan.

Assim, enquanto nas telas de meio mundo sonha o rolar das últimas palavras da nova – “seguimos avançando com labuta, barcos contra a corrente, em regressão sem pausa até ao passado” –, os pormenores da vida do escritor estarão em mãos dos estudiosos e seguidores de um dos maiores e mais injustos naufrágios da história da literatura. “É surpreendente o detalhe de suas contas e também o profissional que era sua relação com seu trabalho de escritor, algo que se distancia do clichê de alcoólatra aos tombos”, explica Park Bucker, professor de Literatura na Thomas Cooper e um dos pesquisadores dos manuscritos. “É também interessante ver a quantidade de renda que supostamente vem de suas colaborações com revistas, algo que Hemingway lhe reprovou muito, mas que lhe permitiam viver muito melhor que apenas com qualquer um de seus romances. Também é interessante como, quase à maneira de um blog, reconta suas atividades e impressões. Qualquer estudioso de Fitzgerald verá que o livro está pleno de conexões muito interessantes com suas novelas e relatos.”

Com 19 anos, escreve: Um ano de terrível decepções. Final dos sonhos universitários. Tudo mal e foi somente culpa minha.” Com 23 anos, parece que a coisa se endireita com o amor. Se casa com Zelda. “O melhor ano de minha vida”, aponta. Dois anos depois, seu fatal destino lhe devolve à casa do fracasso: “Um mal ano. Sem trabalho...”.

O livro de contas escrito com a delicada caligrafia do escritor (“à hora de transcrever não é tão fácil de entender”, diz Bucker), permite remexer em suas colaborações, avanços e deveres. Também nos que Zelda recebeu por seus próprios escritos. Ao passar as páginas, vemos minguar as rendas que recebia até quase pela metade. As listas de relatos competem com as listas de nomes de amigos e conhecidos, com as festas e as ressacas. Duas palavras, dúvida e enfermidade, começam a se repetir tanto como as repentinas dívidas. É o minucioso reconto de um fracasso, limpo e perfeito.

 O arquivo pode ser consultado on-line indo aqui.

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