James Joyce e a música
Se James Joyce não tivesse se tornado um escritor, há uma boa chance
de que ele ainda teria feito um nome para si mesmo por seguir uma
carreira como intérprete vocal. Em 1904, o escritor chegou a dividir o palco com o
grande cantor de ópera e John McCormack, e mais tarde na vida, depois que já havia se estabelecido como um escritor, promoveu incansavelmente a carreira de
cantor de seu amigo e tenor irlandês, John Sullivan.
A estreita relação entre James Joyce e a música tem sido
reconhecida por seus leitores, críticos e biógrafos. Joyce, como seu pai,
era ao mesmo tempo que um excelente escritor, também um excelente cantor –
dizem; com uma doce voz de tenor. E ainda um pianista com um domínio
enciclopédico de música de todo tipo e gênero, rivalizando com seu vasto
conhecimento da literatura mundial. Como escritor, ele, no entanto,
incorporou a música em todas as suas obras de formas cada vez mais complexas,
especialmente em Música de Câmara (1907), Dubliners (1914), Retrato do artista quando jovem (1916), Ulysses (1920) e Finnegans Wake (1939).
Talvez esteja nessa constatação um importante espaço para investigação
da obra do escritor irlandês; se compreender essa relação talvez se
desmistifique o status de escritor
difícil e o torne num, digamos, maravilhosamente divertido, se não, ao menos, o
torne mais acessível de maneira imediata. E há já estudos nessa direção como o de Otto Luening, num livro de 1980, The Odyssey of an American Composer, publicado em Nova York, no
qual ele faz alusão a estreita relação entre a literatura joyciana e a melodia
da música.
Se pode existir essa brecha nos estudos de sua obra, o que não
haverá é James Joyce deixado de inspirar outros músicos. De John Cage a Kate
Bush e de Lou Reed a banda irlandesa Therapy?. No caso do
último grupo musical, a história começou em Trieste, ainda em 1915. Ottacaro
Weiss está de papo com Joyce, quando ele pega seu violão e começa a dedilhar.
Weiss encantado pelo instrumento e a destreza do amigo, aproveita a ocasião e
faz a famosa foto que abre esta postagem. E pelo visto a foto terá encantado a
posteridade porque sem dúvidas fez mais sucesso que outras, como a que ele
aparece junto a um piano na imagem acima. Pois bem, inspirados por essa imagem
de Joyce ao violão a banda de rock Therapy? cantou o poder punk do escritor. Ou
seja, o escritor permaneceu, mesmo setenta anos depois, quando o banda produziu
Potato Junkie, o mesmo poder de
encanto que despertou em Weiss.
Agora, quem pensa ainda que Joyce terá apenas influenciado
umas tantas letras ou mesmo apenas os quatro artistas que até aqui citamos, não sabe
mesmo o limite das influências desse estar musical do escritor. Barry Moore
assumiu o sobrenome da personagem Leopold Bloom, do Ulisses, para fazer seu nome artístico, Luka Bloom; Jefferson
Airplane foi ao Ulysses para sua
música “Rejoyce” (ouça aqui); Louis Stewart compôs uma suíte de jazz com base nesse mesmo
romance, isso no Festival de Jazz de Cork, em 1982; a cantora alemã, diva da
dance music, Amber inspirou-se no monólogo de Moly Bloom para compor a música “Yes”
de seu álbum de 2002 (ouça aqui); Van Morrison quando escreveu “Too long in exile” (ouça aqui); Jimmy
Buffett em “If it alls falls down”; The Pougues que se inspirou na fotografia de
Bereneice Abbott de 1929 para criar as imagens do seu álbum “If I should fron grace
with God”.
E um dos trabalhos com música relacionado com a música em
James Joyve é o álbum “James Joyce Chamber Music Project” que envolveu artistas
como Mercury Ver, Peter Bucj, Lee Ranaldo e Jeff Tweedy. A ideia de Syd Barrett
foi dividir os 36 versos de Música de
câmara e entre os músicos com o pedido de adaptá-los para a música.
Outra novidade é que o violão da imagem de 1915 que esteve
em exposição permanente no Joyce Tower Museum em Dublim, desde 1966, mas num
estágio impossível de tocar qualquer coisa, foi integralmente restaurado pelas mãos
do inglês Iuthier Gary Southwell a pedido do curador do museu, Robert Nicholson
e Fran O’Rourke, professor do University College de Dubin. O’Rourke é músico e
irá executar as canções irlandesas de Joyce durante o Bloomsday de 2013. Isso
ao lado do guitarrista Joh Feeley.
E abaixo, ouça a composição de Joyce, que ele cantou em 1904
com John McCormack. Só chegou até nós a melodia; "Bid Adieu To Girlish
Days" é aqui cantada pelo tenor Kevin McDermott.
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