3 animações mais 1 a partir de textos literários


1 + 1 - Kashtanka, de Anton Tchekhov

Kashtanka pelas mãos de Mikhail Tsekhanovsky

Anton Tchekhov é uma verdadeira escola do conto contemporâneo. Muitos escritores, até a aparição de seus trabalhos tinham nos moldes de um Edgar Allan Poe, por exemplo, sua “fonte de inspiração”. O escritor, profundo observador e conhecedor das fraquezas humanas e dos males sociais, conseguiu transpor para o fio da palavra, todas elas e mais um pouco com uma sutileza sem, contudo, ser levado pelo aguado melodrama. Sutilezas que deixam gerar um alto limite de tensão, mas sem que tudo se quebre ou desça ladeira abaixo. Se isso foi, noutras palavras, o que buscaram tanto os contistas, por essas breves constatações, vê-se que estamos, sim, diante de um mestre no gênero.

Agora, não quer isso dizer que o autor não tenha produzido matérias que estão para o drama humano; não. Um desses trabalhos é o conto “Kashtanka”. Tratado por alguns como um conto infantojuvenil, o texto foi publicado pela primeira vez em 1884. Kashtanka é uma cadela que pertence a um carpinteiro bêbado até um dia se perder do dono num de seus passeios. A narrativa é contada em boa parte sob o ponto de vista da própria cadela e, por isso, talvez essa associação com o universo infantojuvenil.

Em 1952 o designer e ilustrador de livros infantis Mikhail Tsekhanovsky um filme a partir desse texto do escritor russo (animação 1). Os trabalhos foram todos feitos um a um manualmente – numa época em que o computador não estava aí para cometer aberrações do traço. Mais tarde, em 2004, o conto ganhou nova vida, agora sim, graças a tecnologia gráfica e o empenho de Natalia Orlova (animação 2). Os dois trabalhos são excelentes formas de revisitação da narrativa de Tchekhov.

Animação 1



Animação 2




2 - Lady Lazarus, de Sylvia Plath

“Morrer
é uma arte, como tudo mais
eu faço isso excepcionalmente bem”

Esses três concisos versos devem ser os mais lembrados de toda obra de Sylvia Plath; é uma estrofe central do poema “Lady Lazarus”. E o poema um dos mais significativos do livro Ariel; nele se cruzam um caudal de imagens que estão no limite entre o plano poético e biográfico, já que não se pode negar na poeta estadunidense suas próprias intenções e flertes com a morte, até o seu fim trágico.

Cinquenta e dois anos depois da publicação, as imagens estão lá. E a cineasta Sandra Lahire, que estava concluindo sua tese de doutorado sobre Sylvia Plath e não chegou ao fim dada sua morte em 2001, depois da longa história sua com a anorexia, mergulhou no território sombrio de “Lady Lazarus” e produziu ainda em 1991 um curta experimental com o mesmo título do poema. Apesar de remeter ao poema central de Ariel, o filme é feito a partir de áudios em que a própria poeta lê poemas como “Cut”, “Daddy”, “Ariel”, “Ouija” e o “Lady Lazarus”. Mesclam-se imagens de Plath e trechos de uma entrevista concedida pela poeta em 1962.

O curta de pouco mais de vinte minutos é o primeiro de uma trilogia de filmes que Lahire produziu e deu o nome de Living on Air, isso ao longo de nove anos. Depois de Lady Lazarus se seguiram In night dancesin, de 1995 e Johnny Panic, em 1999.



3 - The me bird, de Pablo Neruda

Por fim, não podemos deixar de citar, outra animação que até já estivemos comentando sobre na nossa fan page no Facebook em março deste ano e sobre a qual deixamos um link para visualização. Trata-se de um trabalho produzido pelo estúdio brasileiro 18bis a partir do poema “The me bird”, de Pablo Neruda.

Desenvolvido com um método de animação experimental chamado strata stencil criado pelo diretor Javan Ivey, a animação consiste na sobreposição de imagens recortadas que se revezam umas após outras e traduzem o efeito buscado pelos criadores – “conceituar a repetição de camadas como o passado de nossos movimentos e ações”, elemento temático do poema. 




Ligações a este post:
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Boa sessão!

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