Os desenhos de Elizabeth Bishop
Já tem algum tempo que prometemos apresentar os desenhos da
poeta Elizabeth Bishop por aqui. Demorou, mas aqui estamos para isso. Antes de
falarmos desses trabalhos é importante lembrar as situações em que foram
produzidos. Boa parte de seus trabalhos do gênero foram produzidos na sua
estadia no Brasil por quase duas décadas – Bishop veio para cá em 1951, com o
objetivo de ficar só duas semanas num itinerário pela América do Sul para
depois ir a Europa. Ficou por aqui em circunstâncias casuais: reencontrou-se e apaixonou-se
por Lota de Macedo Soares e só foi embora quando do suicídio da amante em 1967.
Do Brasil, manteve uma intensa correspondência com o seu país
de origem. Escreveu constantemente para o The
New Yorker e em 1956 recebeu o Pulitzer pelo seu livro North & South – a cold spring. Viveu intensamente os extremos: o
próprio país foi lugar de amor e ódio; sentia-se livre por está longe de tudo e
todos, sem raízes, na companhia de Lota, e sentia-se presa pelas limitações do espaço
nacional. Esteve entre a lucidez ao produzir uma obra sem precedentes na cena literária,
e a loucura ao ter com o álcool uma complexa relação.
Parte das cenas pintadas evoca a beleza tropical – o lugar
onde morou, em Samambaia, perto de Petrópolis, no Rio de Janeiro, era integrado
à natureza. Lá, Bishop manteve seu próprio estúdio, idealizado por Lota, fora
do projeto original; talvez uma tentativa de proteção da namorada que queria sempre
não vê-la nessa relação discrepante com o Brasil. Sim, Bishop como quase todos
os estrangeiros, se encantou com as cascatas, borboletas, colibris, bromélias e
montanhas de pedra, com as casas coloniais e suas cadeiras de balanço na
varanda ensolarada, mas isso não fez com que ela tivesse uma relação de plena exaltação
poética: o próprio ‘exagero’ tropical se sufocava.
O fato é que, por repulsa e por admiração sua pintura sofreu
a influência desse ambiente. O desejo de presentificar no papel a paisagem e
aquilo que cercava estão impressos no traço simples e preciso de seus desenhos.
As artes plásticas aí filtram o essencial, mesmo diante do exuberante; têm o
tom da solidão e da suavidade. A mata, as casas, os objetos, coisas em sua
grande maioria são vistos pelo despojamento dos arroubos tradicionais.
Até agora, é uma faceta da vida de Bishop – que sempre disse
que se expressar por pintura e não pela arte da palavra – que não foi explorada
plenamente é qual papel teve as artes visuais e que transformações ela pode ter
exercido na sua produção criativa e na própria poesia. Bishop produziu
também uma arte própria, principalmente na forma de aquarelas íntimas, guaches
e desenhos. Como seus poemas, suas obras do gênero possuem um ethos despretensioso combinado com um
olho agudo para o detalhe da vida cotidiana. Sua obra transmite silêncios.
A seguir preparamos um catálogo com uma amostra de 23 trabalhos de Bishop e além de materiais produzidos no Brasil, estão outros produzidos nas viagens empreendidas pela poeta ao redor do mundo:
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