Os desenhos de Aldemir Martins para “Vidas secas”, de Graciliano Ramos

Ilustração de Aldemir Martins inserida no capítulo
Fabiano, de Vias secas. (clique sobre a imagem para ampliar)



O nome de Aldemir Martins já está entre os da galeria de artistas plásticos do Brasil. Como terá definido os escritores Nilson Moulin e Rubens Matuck em Aldemir Martins – no lápis da vida não tem borracha, “Aldemir Martins é um homem cultíssimo. Como dizem em certas regiões do interior do Brasil: é um poço de sabedoria.” O trabalho que compôs para Vidas secas, de Graciliano Ramos, data de 1963 e foi publicado na 9.ª edição do romance. E tem uma particularidade: Martins incorpora o traço agudo, simples, seco do estilo literário que consagrou o escritor brasileiro; dessa intersecção  nascem os seus desenhos que tornam visíveis a geografia e as figuras do romance.


Ilustração de Aldemir Martins inserida no capítulo
O menino mais velho”, de Vidas secas. A ilustração também
serviu de capa para algumas das edições do romance.
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Também não terá sido apenas a narrativa de Graciliano o ponto de partida para o trabalho Aldemir Martins aqui mencionado; o artista conheceu bem o sertão nordestino porque é, como o romancista de Alagoas, filho do interior do Ceará e os primeiros desenhos, feitos em 1941 e com os quais ganhou logo notoriedade no colégio militar onde estudava, já obedeciam a marca do traço e do registro simples. Até chegar a ilustrar o Vidas secas terá percorrido um largo caminho.

Ilustração de Aldemir Martins inserida no capítulo
“Festa”, de Vidas secas. (clique sobre a imagem para ampliar)

Com Antônio Bandeira e outros intelectuais, Aldemir Martins fundou ainda em Fortaleza o Grupo ARTYS e foi aí que se deu seu contato com artistas do sudeste do Brasil; conhece Paulo Emilio Salles Gomes e, no mesmo ano, isto é, em 1945, foi para o Rio de Janeiro. Já então, Vidas secas havia sido publicado e alcançava a sua segunda edição. 

A ida de Martins para a cidade carioca só foi possível porque lá estava, recém-mudado, Antônio Bandeira. Logo depois, o amigo recebe bolsa de estudos na Europa e deixa o país. Essa mudança repentina quase terá feito o cearense voltar para o Nordeste, fato que só não se cumpriu porque, à convite do amigo Salles Gomes, foi morar em São Paulo, onde passou o resto da vida.


Ilustração de Aldemir Martins inserida no capítulo
“Baleia”, de Vidas secas. Aldemir voltaria ao desenho 40 anos
mais tarde para um novo trabalho a partir deste.
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Antes de ir para Rio-São Paulo, Aldemir Martins já havia desenvolvido trabalhos com ilustrações para jornais, revistas e livros, mas é a partir do conhecimento com o meio editorial, depois de desenhar joias, tapetes, luminárias, embalagens, peças promocionais, pratos, cerâmicas, que vem ilustrar o livro de Graciliano. Primeiro, ilustrou Navio negreiro, de Castro Alves, depois Os sertões, de Euclides da Cunha e só então, Vidas secas.

Parte das edições que se seguiram à de 1977, permaneceram trazendo os desenhos de Aldemir. E em 2003, quando completou 40 anos de um desses trabalhos – a imagem da cachorra Baleia – e quando de uma exposição na terra de Graciliano, Aldemir voltou a ele e compôs um novo trabalho no qual Baleia caça preás e ajuda a alimentar a família de Fabiano e Sinhá Vitória.



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